São Paulo, quinta-feira, 16 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Dumping justifica taxa, diz sindicato

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Longe de ser um agente do protecionismo dos EUA, Leo Gerard, 55, acredita estar liderando trabalhadores siderúrgicos norte-americanos numa guerra contra os "Rambos do capitalismo", como gosta de denominar os interesses "poderosos" por trás da Alca (Área do Livre Comércio das Américas) e da OMC (Organização Mundial do Comércio).
Gerard é presidente do United Steelworkers of America, a maior entidade representativa de trabalhadores da indústria do aço nos EUA. O lobby feito por Gerard nos últimos meses foi um dos fatores que forçaram o presidente George W. Bush a fechar as fronteiras do país para as importações de aço, prejudicando companhias exportadoras de países como o Brasil e o Japão.
"Não tenho nada contra os trabalhadores brasileiros", disse Gerard, em entrevista à Folha. "Aliás, estou em contato permanente com a CUT e com a Força Sindical e devo ir ao Brasil em breve, para fechar vários acordos com eles."
Para Gerard, os trabalhadores da América Latina devem lutar juntos contra a atual forma com que a Alca e a rodada mundial de comércio da OMC estão sendo negociadas. "Não se iludam, trabalhadores brasileiros. A Alca não é um acordo para melhorar a vida dos trabalhadores, mas sim para proteger investimentos."

Folha - Ao contribuir para fechar os EUA ao aço importado, o sr. prejudicou trabalhadores e companhias de outros países. O sr. acha que sindicatos no Brasil devem defender a abertura do mercado ou agir como sua entidade?
Leo Gerard -
Há mais produtos siderúrgicos sendo produzidos do que consumidos hoje no mundo. Há um excesso de aço, à exceção dos mercados norte-americano e canadense. Quando as economias asiáticas, brasileira e russa entraram em colapso, uma após a outra, a recessão os obrigou a praticar dumping e jogar volumes de aço nos EUA a qualquer preço.

Folha - Mas várias companhias brasileiras também quebraram no Brasil devido ao aumento da competição. O Brasil também deve fechar seus mercados?
Gerard -
Os trabalhadores brasileiros não deveriam se iludir. Esses acordos da Alca e da OMC não falam sobre tarifas e comércio, apesar da retórica. São acordos para proteger investimentos, e não empregos. Esse temor que alguns países têm da inclusão de cláusulas ambientais e trabalhistas na Alca não têm sentido. É só para constar. O Nafta, por exemplo, falhou em sua promessa de trazer prosperidade para todos. Estou indo para o Brasil em breve e já estou em contato com a CUT e com a Força Sindical. Estamos tentando cooperar em áreas de comum acordo.

Folha - Mas não há divergência quanto ao fechamento do mercado norte-americano para as exportações brasileiras de aço?
Leonard -
Sim, mas os sindicatos brasileiros entendem que nós defendemos nossos trabalhadores, como eles devem defender os deles. Mas há visões comuns. Todos os trabalhadores do hemisfério sofremos as mesmas ameaças. Os interesses privados estão pressionando para privatizar a previdência social na América Latina, apesar do fato de que, no Chile e na Argentina, essa idéia deixou várias empresas ricas e destruiu os investimentos de trabalhadores. Além disso, temos uma visão comum sobre a tragédia na Argentina, país que entrou em colapso não porque não fez reformas fiscais, mas sim porque engoliu a prescrição do FMI e do Banco Mundial.



Texto Anterior: Aço brasileiro sofre nova restrição nos EUA
Próximo Texto: Mercado financeiro: Indicadores se mantêm em níveis positivos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.