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Dumping justifica taxa, diz sindicato
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
Longe de ser um agente do protecionismo dos EUA, Leo Gerard,
55, acredita estar liderando trabalhadores siderúrgicos norte-americanos numa guerra contra os
"Rambos do capitalismo", como
gosta de denominar os interesses
"poderosos" por trás da Alca
(Área do Livre Comércio das
Américas) e da OMC (Organização Mundial do Comércio).
Gerard é presidente do United
Steelworkers of America, a maior
entidade representativa de trabalhadores da indústria do aço nos
EUA. O lobby feito por Gerard
nos últimos meses foi um dos fatores que forçaram o presidente
George W. Bush a fechar as fronteiras do país para as importações
de aço, prejudicando companhias
exportadoras de países como o
Brasil e o Japão.
"Não tenho nada contra os trabalhadores brasileiros", disse Gerard, em entrevista à Folha.
"Aliás, estou em contato permanente com a CUT e com a Força
Sindical e devo ir ao Brasil em breve, para fechar vários acordos
com eles."
Para Gerard, os trabalhadores
da América Latina devem lutar
juntos contra a atual forma com
que a Alca e a rodada mundial de
comércio da OMC estão sendo
negociadas. "Não se iludam, trabalhadores brasileiros. A Alca não
é um acordo para melhorar a vida
dos trabalhadores, mas sim para
proteger investimentos."
Folha - Ao contribuir para fechar
os EUA ao aço importado, o sr. prejudicou trabalhadores e companhias de outros países. O sr. acha
que sindicatos no Brasil devem defender a abertura do mercado ou
agir como sua entidade?
Leo Gerard - Há mais produtos
siderúrgicos sendo produzidos
do que consumidos hoje no mundo. Há um excesso de aço, à exceção dos mercados norte-americano e canadense. Quando as economias asiáticas, brasileira e russa
entraram em colapso, uma após a
outra, a recessão os obrigou a praticar dumping e jogar volumes de
aço nos EUA a qualquer preço.
Folha - Mas várias companhias
brasileiras também quebraram no
Brasil devido ao aumento da competição. O Brasil também deve fechar seus mercados?
Gerard - Os trabalhadores brasileiros não deveriam se iludir. Esses acordos da Alca e da OMC não
falam sobre tarifas e comércio,
apesar da retórica. São acordos
para proteger investimentos, e
não empregos. Esse temor que alguns países têm da inclusão de
cláusulas ambientais e trabalhistas na Alca não têm sentido. É só
para constar. O Nafta, por exemplo, falhou em sua promessa de
trazer prosperidade para todos.
Estou indo para o Brasil em breve
e já estou em contato com a CUT e
com a Força Sindical. Estamos
tentando cooperar em áreas de
comum acordo.
Folha - Mas não há divergência
quanto ao fechamento do mercado
norte-americano para as exportações brasileiras de aço?
Leonard - Sim, mas os sindicatos
brasileiros entendem que nós defendemos nossos trabalhadores,
como eles devem defender os deles. Mas há visões comuns. Todos
os trabalhadores do hemisfério
sofremos as mesmas ameaças. Os
interesses privados estão pressionando para privatizar a previdência social na América Latina, apesar do fato de que, no Chile e na
Argentina, essa idéia deixou várias empresas ricas e destruiu os
investimentos de trabalhadores.
Além disso, temos uma visão comum sobre a tragédia na Argentina, país que entrou em colapso
não porque não fez reformas fiscais, mas sim porque engoliu a
prescrição do FMI e do Banco
Mundial.
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