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São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 2003

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DISTENSÃO

William Rhodes afirma ter feito previsão semelhante antes da crise asiática

Otimismo emergente foge à realidade, diz banqueiro

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

Para o vice-presidente do Citigroup, William Rhodes, a percepção otimista em relação aos mercados emergentes pode estar se desgrudando da realidade.
Responsável pela renegociação da dívida latino-americana nos anos 80 e um dos banqueiros americanos que mais conhecem o Brasil, Rhodes alertou ainda que a última vez que mencionou preocupação semelhante foi antes da crise asiática, em 1997.
"É possível que a compressão dos "spreads" nos mercados emergentes esteja indo além do ritmo da melhoria dos fundamentos. Temos que ser cuidadosos para que não comecemos de novo a caçar rendimentos, como já fizemos várias vezes no passado, sob o risco de não exercermos o julgamento de crédito", afirmou.
Ele apontou que a mudança de imagem dos emergentes tem ocorrido muito rápido e citou diretamente o Brasil, definido como "melhor exemplo" do que está acontecendo agora.
"A maioria das pessoas tentava se livrar de seus papéis no outono passado [período das eleições no Brasil]. Se você tivesse o Armínio Fraga [ex-presidente do BC] sentado aqui, ele estaria dizendo a todos, e ele está correto, que o melhor negócio do mundo era comprar títulos brasileiros no outono passado", disse Rhodes, emendando: "Agora há um interesse tremendo, que foi visto na emissão de algumas semanas atrás. O preço dos títulos aumentou substancialmente".
Isso posto, alertou: "Em geral, o que está se vendo é um vôo para áreas onde há altos rendimentos. As pessoas sentem que algumas delas saem da linha".
Rhodes lembrou-se de ter feito a mesma previsão num evento em Madri alguns anos atrás. "Infelizmente, alguns meses depois entramos na crise da Ásia, porque havia uma tendência evidente de que as pessoas estavam procurando rendimento com exposição nos mercados emergentes."
Cuidadoso com as palavras, explicou-se: "Não digo que está acontecendo agora, porque acho, francamente, que aprendemos muito com essas crises. Mas é sempre bom mencionar a necessidade de julgamento de crédito e risco nas situações".
As declarações foram dadas em evento do IIF (Institute of International Finance), criado há 20 anos durante a crise da dívida externa de países do Terceiro Mundo. Além de seu posto no Citigroup, Rhodes é também vice-presidente do IIF.
Sua preocupação foi ecoada pelo diretor do IIF, Charles Dallara. "É importante que o ritmo de compressão do "spread" não passe à frente dos fundamentos", disse ele, acrescentando que o "movimento brusco nos últimos meses" abre espaço para a preocupação de Rhodes. "Tem que ser feito de forma sustentada."

Fluxo de investimentos
O IIF divulgou ontem sua previsão de fluxo de investimentos para os mercados emergentes neste ano. Globalmente, a previsão é a de aumento em relação ao ano passado, de US$ 110 bilhões para US$ 139 bilhões -muito aquém, ainda, da média de US$ 186 bilhões da última década. A América Latina deverá ter US$ 34 bilhões do bolo mundial.
Além do volume ainda relativamente pequeno, explicou Rhodes, a previsão do IIF preocupa pela baixa participação de investimento direto estrangeiro nos países emergentes, exceção feita à China, que deve ficar com US$ 53 bilhões do total de US$ 108 bilhões sob a rubrica.


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