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DISTENSÃO
William Rhodes afirma ter feito previsão semelhante antes da crise asiática
Otimismo emergente foge à realidade, diz banqueiro
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
Para o vice-presidente do Citigroup, William Rhodes, a percepção otimista em relação aos mercados emergentes pode estar se
desgrudando da realidade.
Responsável pela renegociação
da dívida latino-americana nos
anos 80 e um dos banqueiros
americanos que mais conhecem o
Brasil, Rhodes alertou ainda que a
última vez que mencionou preocupação semelhante foi antes da
crise asiática, em 1997.
"É possível que a compressão
dos "spreads" nos mercados emergentes esteja indo além do ritmo
da melhoria dos fundamentos.
Temos que ser cuidadosos para
que não comecemos de novo a caçar rendimentos, como já fizemos
várias vezes no passado, sob o risco de não exercermos o julgamento de crédito", afirmou.
Ele apontou que a mudança de
imagem dos emergentes tem
ocorrido muito rápido e citou diretamente o Brasil, definido como
"melhor exemplo" do que está
acontecendo agora.
"A maioria das pessoas tentava
se livrar de seus papéis no outono
passado [período das eleições no
Brasil]. Se você tivesse o Armínio
Fraga [ex-presidente do BC] sentado aqui, ele estaria dizendo a todos, e ele está correto, que o melhor negócio do mundo era comprar títulos brasileiros no outono
passado", disse Rhodes, emendando: "Agora há um interesse
tremendo, que foi visto na emissão de algumas semanas atrás. O
preço dos títulos aumentou substancialmente".
Isso posto, alertou: "Em geral, o
que está se vendo é um vôo para
áreas onde há altos rendimentos.
As pessoas sentem que algumas
delas saem da linha".
Rhodes lembrou-se de ter feito a
mesma previsão num evento em
Madri alguns anos atrás. "Infelizmente, alguns meses depois entramos na crise da Ásia, porque
havia uma tendência evidente de
que as pessoas estavam procurando rendimento com exposição
nos mercados emergentes."
Cuidadoso com as palavras, explicou-se: "Não digo que está
acontecendo agora, porque acho,
francamente, que aprendemos
muito com essas crises. Mas é
sempre bom mencionar a necessidade de julgamento de crédito e
risco nas situações".
As declarações foram dadas em
evento do IIF (Institute of International Finance), criado há 20
anos durante a crise da dívida externa de países do Terceiro Mundo. Além de seu posto no Citigroup, Rhodes é também vice-presidente do IIF.
Sua preocupação foi ecoada pelo diretor do IIF, Charles Dallara.
"É importante que o ritmo de
compressão do "spread" não passe
à frente dos fundamentos", disse
ele, acrescentando que o "movimento brusco nos últimos meses"
abre espaço para a preocupação
de Rhodes. "Tem que ser feito de
forma sustentada."
Fluxo de investimentos
O IIF divulgou ontem sua previsão de fluxo de investimentos para os mercados emergentes neste
ano. Globalmente, a previsão é a
de aumento em relação ao ano
passado, de US$ 110 bilhões para
US$ 139 bilhões -muito aquém,
ainda, da média de US$ 186 bilhões da última década. A América Latina deverá ter US$ 34 bilhões do bolo mundial.
Além do volume ainda relativamente pequeno, explicou Rhodes,
a previsão do IIF preocupa pela
baixa participação de investimento direto estrangeiro nos países
emergentes, exceção feita à China,
que deve ficar com US$ 53 bilhões
do total de US$ 108 bilhões sob a
rubrica.
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