|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EUROLÂNDIA
Economias da Itália e da Holanda caem; moeda valorizada afeta exportação e aumenta pressão para corte nos juros
PIB cai, e Alemanha enfrenta segunda recessão em 2 anos
MARCELO DIEGO
ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT
A Alemanha, terceira maior
economia do mundo, está oficialmente em recessão, sua segunda
em um período de pouco mais de
dois anos.
Dados divulgados ontem indicam que o PIB (Produto Interno
Bruto) do país caiu 0,2% no primeiro trimestre deste ano, em
comparação com os últimos três
meses de 2002. Foi o segundo trimestre consecutivo de retração, o
que caracteriza a recessão.
De outubro a dezembro de
2002, a economia germânica já
havia encolhido 0,03%.
São duas as principais causas
dos problemas alemães. Alto desemprego, que atinge cerca de
10% da PEA (População Economicamente Ativa), e a valorização
do euro diante do dólar, que atinge cerca de 25% em um ano. O euro valorizado tornou mais caros
os produtos europeus. A consequência é que, no primeiro trimestre deste ano, os alemães mais
importaram do que exportaram,
deixando de atrair divisas via balança comercial.
A última vez em que a Alemanha havia estado oficialmente em
recessão fora no final de 2001
-como consequência dos atentados terroristas ao World Trade
Center (em Nova York, EUA).
Economistas têm seus prognósticos sobre a situação. O primeiro
é que a situação ainda pode ficar
mais complicada. "Já parece ruim
o bastante neste momento, mas
pesquisas recentes sugerem que a
coisa ainda irá ficar pior antes de
melhorar", disse Ken Wattret, do
BNP Paribas, ao jornal britânico
"Financial Times".
As notícias negativas acontecem em um momento complicado para o ministro das Finanças
da Alemanha, Hans Eichel, cuja
competência tem sido questionada -sua cabeça chegou a ser pedida, colocando em risco o gabinete do primeiro-ministro, Gerhard Schröder.
Eichel já declarou que as despesas públicas irão exceder 30 bilhões de euros, cerca de duas vezes o que o governo havia planejado anteriormente.
O déficit público irá ultrapassar
3% do PIB. Por causa do tratado
que criou a zona do euro, o governo alemão pode ser punido por
ultrapassar o limite de gasto público -e seria a segunda vez consecutiva que isso aconteceria. "Estamos numa fase longa de fraqueza econômica. Enquanto tivermos um crescimento tão pequeno
quanto estamos atravessando
agora, a taxa de desemprego não
irá cair e o problema continuará."
Até por falta de um nome melhor para colocar no lugar, o primeiro-ministro Schröder está ignorando os pedidos pela demissão de Eichel. O governo acredita
que as reformas no sistema de
pensões, dos direitos trabalhistas
e dos direitos de saúde poderão
dar fôlego ao orçamento.
No ano passado, a Alemanha
cresceu apenas 0,2%, o pior desempenho entre os 12 países que
constituem a zona do euro (Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Grécia,
Holanda, Irlanda, Itália, Luxemburgo e Portugal).
Paralisia
Neste ano, as outras economias
da região também não estão indo
bem. Dados divulgados ontem
mostram que a economia da zona
do euro ficou estagnada no primeiro trimestre deste ano em relação ao último trimestre de 2002
e apresentou crescimento pífio,
de apenas 0,8%, na comparação
com o primeiro trimestre do ano
passado.
A Itália também apresentou
crescimento negativo. Segundo a
agência oficial de estatísticas italiana Istat, o PIB do país caiu 0,1%
no primeiro trimestre deste ano
em relação ao último trimestre do
ano passado, o pior desempenho
desde o último trimestre de 2001.
A Holanda também teve queda
no PIB no primeiro trimestre deste ano, de 0,3%, em relação ao último trimestre do ano passado.
Alarme
O cenário nebuloso já fez soar o
alarme e aumentou a pressão para
que o Banco Central Europeu
(BCE) reduza a taxa de juros da
região, que está em 2,5% ao ano.
O pedido é de um corte de pelo
menos 0,5 ponto percentual, capaz de impulsionar o consumo,
conter o avanço do euro e retomar vantagem competitiva aos
produtos europeus ao redor do globo.
Ontem, o BCE divulgou o relatório mensal de maio e disse que
os riscos de pressão sobre o crescimento econômico diminuíram
com o fim da guerra no Iraque, mas que permanecem os provenientes de desequilíbrios macroeconômicos fora da zona do euro e provocados pela Sars. Para a autoridade monetária, o fortalecimento da economia ocorrerá apenas ao final deste ano.
O jornalista MARCELO DIEGO viaja a
convite da Câmara de Comércio Brasil-Alemanha e do governo alemão
Texto Anterior: Declínio já é comparado ao Japão Próximo Texto: Análise: Universo paralelo esconde Europa frágil Índice
|