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São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 2003

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EUROLÂNDIA

Economias da Itália e da Holanda caem; moeda valorizada afeta exportação e aumenta pressão para corte nos juros

PIB cai, e Alemanha enfrenta segunda recessão em 2 anos

MARCELO DIEGO
ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT

A Alemanha, terceira maior economia do mundo, está oficialmente em recessão, sua segunda em um período de pouco mais de dois anos.
Dados divulgados ontem indicam que o PIB (Produto Interno Bruto) do país caiu 0,2% no primeiro trimestre deste ano, em comparação com os últimos três meses de 2002. Foi o segundo trimestre consecutivo de retração, o que caracteriza a recessão.
De outubro a dezembro de 2002, a economia germânica já havia encolhido 0,03%.
São duas as principais causas dos problemas alemães. Alto desemprego, que atinge cerca de 10% da PEA (População Economicamente Ativa), e a valorização do euro diante do dólar, que atinge cerca de 25% em um ano. O euro valorizado tornou mais caros os produtos europeus. A consequência é que, no primeiro trimestre deste ano, os alemães mais importaram do que exportaram, deixando de atrair divisas via balança comercial.
A última vez em que a Alemanha havia estado oficialmente em recessão fora no final de 2001 -como consequência dos atentados terroristas ao World Trade Center (em Nova York, EUA).
Economistas têm seus prognósticos sobre a situação. O primeiro é que a situação ainda pode ficar mais complicada. "Já parece ruim o bastante neste momento, mas pesquisas recentes sugerem que a coisa ainda irá ficar pior antes de melhorar", disse Ken Wattret, do BNP Paribas, ao jornal britânico "Financial Times".
As notícias negativas acontecem em um momento complicado para o ministro das Finanças da Alemanha, Hans Eichel, cuja competência tem sido questionada -sua cabeça chegou a ser pedida, colocando em risco o gabinete do primeiro-ministro, Gerhard Schröder.
Eichel já declarou que as despesas públicas irão exceder 30 bilhões de euros, cerca de duas vezes o que o governo havia planejado anteriormente.
O déficit público irá ultrapassar 3% do PIB. Por causa do tratado que criou a zona do euro, o governo alemão pode ser punido por ultrapassar o limite de gasto público -e seria a segunda vez consecutiva que isso aconteceria. "Estamos numa fase longa de fraqueza econômica. Enquanto tivermos um crescimento tão pequeno quanto estamos atravessando agora, a taxa de desemprego não irá cair e o problema continuará."
Até por falta de um nome melhor para colocar no lugar, o primeiro-ministro Schröder está ignorando os pedidos pela demissão de Eichel. O governo acredita que as reformas no sistema de pensões, dos direitos trabalhistas e dos direitos de saúde poderão dar fôlego ao orçamento.
No ano passado, a Alemanha cresceu apenas 0,2%, o pior desempenho entre os 12 países que constituem a zona do euro (Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Irlanda, Itália, Luxemburgo e Portugal).

Paralisia
Neste ano, as outras economias da região também não estão indo bem. Dados divulgados ontem mostram que a economia da zona do euro ficou estagnada no primeiro trimestre deste ano em relação ao último trimestre de 2002 e apresentou crescimento pífio, de apenas 0,8%, na comparação com o primeiro trimestre do ano passado.
A Itália também apresentou crescimento negativo. Segundo a agência oficial de estatísticas italiana Istat, o PIB do país caiu 0,1% no primeiro trimestre deste ano em relação ao último trimestre do ano passado, o pior desempenho desde o último trimestre de 2001.
A Holanda também teve queda no PIB no primeiro trimestre deste ano, de 0,3%, em relação ao último trimestre do ano passado.

Alarme
O cenário nebuloso já fez soar o alarme e aumentou a pressão para que o Banco Central Europeu (BCE) reduza a taxa de juros da região, que está em 2,5% ao ano. O pedido é de um corte de pelo menos 0,5 ponto percentual, capaz de impulsionar o consumo, conter o avanço do euro e retomar vantagem competitiva aos produtos europeus ao redor do globo.
Ontem, o BCE divulgou o relatório mensal de maio e disse que os riscos de pressão sobre o crescimento econômico diminuíram com o fim da guerra no Iraque, mas que permanecem os provenientes de desequilíbrios macroeconômicos fora da zona do euro e provocados pela Sars. Para a autoridade monetária, o fortalecimento da economia ocorrerá apenas ao final deste ano.


O jornalista MARCELO DIEGO viaja a convite da Câmara de Comércio Brasil-Alemanha e do governo alemão


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