|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Universo paralelo esconde Europa frágil
DO FINANCIAL TIMES
Os criadores de políticas
econômicas da zona do
euro estão vivendo num universo
paralelo, habitado por otimistas
permanentemente iludidos.
Na segunda-feira, os ministros
das Finanças europeus insistiram
em que a diminuição da incerteza
geopolítica e a queda dos preços
do petróleo tornam cada vez mais
provável uma recuperação econômica no segundo semestre deste ano. Eles parecem se esquecer
de que fazem previsões semelhantes desde o início de 2001,
apenas para ter de revisá-las para
baixo diversas vezes.
Boletim
O Banco Central Europeu não é
melhor. Ontem, o editorial de seu
boletim mensal esperava que um
"reforço gradual do crescimento
do PIB (Produto Interno Bruto)
começasse no final de 2003 e ganhasse maior impulso no próximo ano".
Os que redigiram essa previsão
positiva não precisaram procurar
muito por inspiração: o boletim
de novembro passado concluía
que "o crescimento deverá voltar
aos ritmos próximos do potencial
em 2003"; e um ano atrás o Banco
Central Europeu concluiu que
"índices de crescimento sólidos
deverão ser atingidos em 2003".
Uma característica constante
dessas mensagens é a sugestão de
que a bonança chegará amanhã.
A outra é sua imprecisão. Essa
realidade se confirmou ontem.
Números mostraram que a zona
do euro estagnou no primeiro trimestre do ano: países como Holanda, Alemanha e Itália se saíram
especialmente mal, com índices
de crescimento trimestral -todos negativos- de 0,3%, 0,2% e
0,1%, respectivamente. O futuro
também não parece muito brilhante para a região.
Na Alemanha, Hans Eichel, ministro das Finanças, admitiu que
as dificuldades econômicas do
país resultarão na queda da arrecadação de 126 bilhões nos próximos quatro anos.
Decepcionante
É impossível dar um brilho positivo a qualquer um desses números; "ligeiramente decepcionante, certamente surpreendente" foi a reação inadequada da Comissão Européia.
O perigo é que a zona do euro
caia em um longo período de estagnação em que todo mundo
culpe os outros pelos problemas
econômicos.
Isso aconteceu na década de 90
no Japão; sinais de uma versão
européia surgiram ontem. Eichel
se juntou aos pedidos franceses
para que o Banco Central diminua as taxas de juros, sugerindo
que o euro mais forte dá margem
para uma política monetária mais
branda.
Mas mais importante que qualquer outra coisa é uma disposição
coletiva para avaliar as dificuldades econômicas futuras, especialmente com a apreciação do euro.
A zona do euro não deveria ser,
mas é, uma das economias mais
frágeis do mundo. A complacência em relação ao futuro acarreta
riscos muito maiores do que admitir que as coisas não estão correndo conforme o planejado.
Tradução de Luiz Roberto
Mendes Gonçalves
Texto Anterior: Eurolância: PIB cai, e Alemanha enfrenta segunda recessão em 2 anos Próximo Texto: Mercado financeiro: Dólar, risco e juros contaminam Bovespa Índice
|