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São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 2003

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ANÁLISE

Universo paralelo esconde Europa frágil

DO FINANCIAL TIMES

Os criadores de políticas econômicas da zona do euro estão vivendo num universo paralelo, habitado por otimistas permanentemente iludidos.
Na segunda-feira, os ministros das Finanças europeus insistiram em que a diminuição da incerteza geopolítica e a queda dos preços do petróleo tornam cada vez mais provável uma recuperação econômica no segundo semestre deste ano. Eles parecem se esquecer de que fazem previsões semelhantes desde o início de 2001, apenas para ter de revisá-las para baixo diversas vezes.

Boletim
O Banco Central Europeu não é melhor. Ontem, o editorial de seu boletim mensal esperava que um "reforço gradual do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) começasse no final de 2003 e ganhasse maior impulso no próximo ano".
Os que redigiram essa previsão positiva não precisaram procurar muito por inspiração: o boletim de novembro passado concluía que "o crescimento deverá voltar aos ritmos próximos do potencial em 2003"; e um ano atrás o Banco Central Europeu concluiu que "índices de crescimento sólidos deverão ser atingidos em 2003".
Uma característica constante dessas mensagens é a sugestão de que a bonança chegará amanhã. A outra é sua imprecisão. Essa realidade se confirmou ontem. Números mostraram que a zona do euro estagnou no primeiro trimestre do ano: países como Holanda, Alemanha e Itália se saíram especialmente mal, com índices de crescimento trimestral -todos negativos- de 0,3%, 0,2% e 0,1%, respectivamente. O futuro também não parece muito brilhante para a região.
Na Alemanha, Hans Eichel, ministro das Finanças, admitiu que as dificuldades econômicas do país resultarão na queda da arrecadação de 126 bilhões nos próximos quatro anos.

Decepcionante
É impossível dar um brilho positivo a qualquer um desses números; "ligeiramente decepcionante, certamente surpreendente" foi a reação inadequada da Comissão Européia.
O perigo é que a zona do euro caia em um longo período de estagnação em que todo mundo culpe os outros pelos problemas econômicos.
Isso aconteceu na década de 90 no Japão; sinais de uma versão européia surgiram ontem. Eichel se juntou aos pedidos franceses para que o Banco Central diminua as taxas de juros, sugerindo que o euro mais forte dá margem para uma política monetária mais branda.
Mas mais importante que qualquer outra coisa é uma disposição coletiva para avaliar as dificuldades econômicas futuras, especialmente com a apreciação do euro. A zona do euro não deveria ser, mas é, uma das economias mais frágeis do mundo. A complacência em relação ao futuro acarreta riscos muito maiores do que admitir que as coisas não estão correndo conforme o planejado.


Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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