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EUA não sentirão crise, diz pai do Consenso de Washington
Para John Williamson, país é "refúgio" na turbulência e dólar manterá força
Para economista que
listou receituário de livre
mercado, Brasil não corre
grandes riscos, mas deve
reduzir gastos públicos
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
Temores crescem, ações
caem, mas o economista John
Williamson, conhecido como
"pai" do Consenso de Washington (receituário de livre mercado), não prevê grandes abalos
nos EUA causados pela crise na
zona do euro.
"Quando é preciso fugir de
um lado, há que encontrar um
refúgio em outro", disse Williamson em entrevista à Folha, na qual manifestou ter
confiança na continuidade da
recuperação do país.
FOLHA - Quais os impactos nos
EUA da crise na zona do euro?
JOHN WILLIAMSON
- No momento, o efeito para os EUA vem da
diminuição da demanda na Europa, que vai prejudicar as exportações americanas.
Um outro ponto é que a capacidade do dólar de servir como
principal moeda de reserva internacional não está sob muita
pressão. Provavelmente permaneceremos com o sistema
baseado no dólar a longo prazo.
É difícil ver os EUA sofrendo
grande falta de confiança gerada por essa situação. Quando é
preciso fugir de um lado, há que
encontrar refúgio em outro.
Na realidade, o maior risco
que os EUA enfrentam é o de se
tornarem excessivamente endividados, o que é provável que
aconteça a longo prazo se as políticas não forem alteradas.
Mas ainda se pode mudá-las.
FOLHA - Em que cenário da economia dos EUA chegam esses efeitos?
WILLIAMSON - A economia dos
EUA parece se recuperar bem,
apesar de não ser uma recuperação fortíssima. Não acho que
será abalada. Talvez na criação
de empregos, mas não vejo uma
mudança na tendência.
FOLHA - Que medidas adicionais os EUA têm de adotar para manter a recuperação estável diante da crise?
WILLIAMSON - A maior necessidade é uma estratégia fiscal crível de médio prazo, que terá de
envolver elevação de impostos.
No caso dos EUA, isso é bem
claro. Mais cedo ou mais tarde
os políticos terão de enfrentar
esse fato. Acredito que isso
acontecerá já no próximo outono [primavera no Brasil].
No caso do Brasil, a necessidade é de cortar gastos públicos. Não se poderá fugir disso.
Mas, assim como nos EUA, não
vejo um risco tão grande para o
Brasil no momento.
FOLHA - O ministro Guido Mantega sugeriu que, para reequilibrar o
sistema internacional, os EUA deviam subir os juros. O sr. discorda?
WILLIAMSON
- Sim. O mais importante é ter crescimento real.
Esperamos que a situação atual
sirva como alerta antecipado
para a necessidade de reformar
a política fiscal. Isso serve também para o Brasil.
FOLHA - Alguns analistas temem
que a fuga de investidores de títulos
públicos poderia levar mesmo os
EUA a elevarem os juros...
WILLIAMSON
- No curto prazo,
não creio que isso acontecerá
nos EUA. O Fed manterá a política de juros baixos.
FOLHA - O pacote de resgate da zona do euro será suficiente para estancar o sangramento?
WILLIAMSON - Acho que o pacote poderá fazer uma contenção,
mas é importante seguir adiante com corte de gastos públicos
e elevação de impostos. O resgate é uma solução de curto
prazo.
No caso da Grécia, em algum
ponto o país terá mesmo de
reestruturar a dívida. É difícil
ver como isso poderia ser evitado, especialmente quando não
podem desvalorizar a moeda.
Só cortar gastos não terá efeito
suficiente.
Mas acho que não vão abandonar o euro, o que traria problemas muito maiores. Devem
reestruturar a dívida -não há
nada que os impeça-, mas permanecendo na zona do euro.
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