São Paulo, domingo, 16 de junho de 2002

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IMERGENTES

Em crise, principais países da região recorrem ao FMI, que amplia as exigências para desembolsar recursos

Cresce fantasma de década perdida na AL

France Presse
Argentino protesta na porta de banco em Buenos Aires, cobrando a devolução de seus depósitos


GIULIANO GUANDALINI
DA REDAÇÃO

A América Latina está em crise. Os principais países da região ou crescem a um ritmo bastante modesto ou se encontram em recessão. Nos casos mais graves, Argentina e Uruguai, a queda na atividade é dramática. Já se fala em um estrangulamento de créditos à região e cresce o fantasma de uma nova década perdida.
Quebrados, os latino-americanos recorrem ao FMI (Fundo Monetário Internacional), com o pires na mão. Mas, escaldado com o fracasso argentino, o Fundo ampliou suas exigências para abrir o cofre. O Brasil, por exemplo, para ter acesso à linha de crédito de US$ 10 bilhões, terá que ampliar o arrocho do setor público.
A semana que passou foi especialmente cheia para os técnicos da instituição. Uma nova equipe chegou a Buenos Aires. Outra estava em Quito, negociando novos empréstimos ao governo do Equador. Em Washington, uma delegação paraguaia se esforçava para atender às exigências do Fundo (entre elas a privatização da estatal de telefonia) e conquistar um reforço de caixa.
Outro que está na fila dos guichês do Fundo é o Uruguai. O país, como a Argentina, caiu no quarto ano de recessão. Bastante dependente do comércio com os parceiros do Mercosul, amarga o contágio do colapso argentino e da estagnação brasileira.
Nos primeiros três meses do ano, as vendas uruguaias à Argentina despencaram 73,6%. No mesmo período, as exportações ao Mercosul, de uma maneira geral, caíram 40,7%.
Somando-se a isso o recuo no turismo, a economia do país encolheu 10% no primeiro trimestre. O desemprego ultrapassou 15%, maior marca já registrada, e o país perdeu o status de nível de investimento, sendo rebaixado sucessivas vezes pelas agências de classificação de crédito. À beira de um ataque de nervos, o presidente Jorge Batlle provou uma crise diplomática, ao chamar de "ladrões" os políticos argentinos.
O México sente os efeitos da retração nos EUA, seu maior cliente. Em 2001, o PIB (Produto Interno Bruto) do país caiu 0,3%. No primeiro trimestre do ano, a desaceleração se acentuou, e a economia se retraiu 3,5%. A Venezuela, instável politicamente, deverá sofrer uma queda de 4% neste ano.
A disseminação da crise finalmente começa a chamar a atenção dos ricos, que, até pouco tempo, diziam que a Argentina não havia afetado os demais países. Agora, já se admite o contágio, como fez o FMI. A questão seria discutida no encontro dos ministros das Finanças do Grupo do Sete, neste final de semana, no Canadá.



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