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São Paulo, segunda-feira, 16 de junho de 2003

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FOLHAINVEST

MERCADO FINANCEIRO

Maioria dos recém-convertidos à queda dos juros prevê uma redução na taxa de 0,5 ponto percentual

Cresce a adesão ao coro pró-corte da Selic

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Mesmo entre profissionais do mercado financeiro que eram contrários à redução dos juros até o mês passado, cresce a adesão ao coro pró-corte da taxa Selic na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), que começa amanhã.
A deflação no atacado, a apreciação do câmbio, o tombo da produção industrial -um ambiente que muitos qualificam de recessivo- são os argumentos mais ouvidos para justificar a mudança de posição.
Uma mudança ainda tímida. A maioria dos recém-convertidos à tese de que os juros já devem começar a cair não avançaria além da "cautelosa" redução de 0,5 ponto percentual da Selic.
"Há números que não eram muito claros em maio e agora são. A inflação de maio para cá mostrou queda mais forte. O nível de atividade está muito baixo e isso pesa na decisão do Banco Central", diz Gustavo Loyola, ex-presidente do BC.
Se não cortar os juros básicos na quarta-feira, quando costuma ser divulgada a decisão do BC relativa à Selic, na reunião seguinte, em julho, a autoridade monetária deverá se confrontar com alta de índices de preços. Essa é a projeção de analistas, em razão de reajustes de contratos no período.

"Matar o defunto"
"É, porém, uma subida anunciada, a que o BC não deve prestar atenção. Seria "matar o defunto", se ater à inflação passada. Não há o que o Banco Central possa fazer em relação a isso", afirma o ex-presidente do BC, para quem o país pode "entrar em recessão maior". "Se ainda não estivermos em recessão, estamos com atividade econômica muito baixa."
Loyola, que é sócio da consultoria Tendências, acrescenta que a autoridade monetária "tem que olhar a inflação para a frente, o que está acontecendo com outros preços da economia".
"Os sinais estão mais claros agora", concorda Octavio de Barros, do BBV. "Uma ousadia responsável já permitiria o corte de juros."
Tal ousadia comportaria apenas redução de 0,5 ponto percentual da taxa, mesmo no atual "ambiente pré-recessivo -indicadores ainda não sugerem recessão".
"Mas acreditamos que o BC vá manter a taxa para ver a velocidade de queda da inflação e o recuo necessário à meta de 2004, apesar da alta de juro real."
O economista da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) Roberto Troster, que defendia o juro alto até maio como "atalho para o juro baixo", também acha que chegou a hora.
"Se a política monetária for leniente, a inércia ganha força e a queda de preços é menor, mas o movimento já foi feito."
"Não foi por leniência que as metas não foram atingidas. O modelo é muito rigoroso. A política monetária tem pouco a fazer, a não ser que se trabalhe com a hipótese de depressão", diz Hugo Penteado, do ABN. Parte dos economistas do banco defendeu a estabilidade dos juros em maio.
Para Penteado, a inflação ainda imobilizará o BC em junho. "Não vejo como o corte de juros, que já devia ter vindo, possa ter potencial perigoso com a atividade econômica do jeito que está."
A taxa dos contratos futuros de juros para janeiro, os mais negociados, caiu de 23,43% para 23,16% ao ano na sexta-feira.
A queda, que já se registrava desde a abertura, acentuou-se com a declaração do diretor de Política Monetária do BC, Luiz Augusto Candiota, considerada otimista. Segundo ele, há um recuo "consistente" da inflação, mas "a batalha não está vencida".


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