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FOLHAINVEST
MERCADO FINANCEIRO
Maioria dos recém-convertidos à queda dos juros prevê uma redução na taxa de 0,5 ponto percentual
Cresce a adesão ao coro pró-corte da Selic
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Mesmo entre profissionais do
mercado financeiro que eram
contrários à redução dos juros até
o mês passado, cresce a adesão ao
coro pró-corte da taxa Selic na
reunião do Copom (Comitê de
Política Monetária do Banco Central), que começa amanhã.
A deflação no atacado, a apreciação do câmbio, o tombo da
produção industrial -um ambiente que muitos qualificam de
recessivo- são os argumentos
mais ouvidos para justificar a mudança de posição.
Uma mudança ainda tímida. A
maioria dos recém-convertidos à
tese de que os juros já devem começar a cair não avançaria além
da "cautelosa" redução de 0,5
ponto percentual da Selic.
"Há números que não eram
muito claros em maio e agora são.
A inflação de maio para cá mostrou queda mais forte. O nível de
atividade está muito baixo e isso
pesa na decisão do Banco Central", diz Gustavo Loyola, ex-presidente do BC.
Se não cortar os juros básicos na
quarta-feira, quando costuma ser
divulgada a decisão do BC relativa
à Selic, na reunião seguinte, em
julho, a autoridade monetária deverá se confrontar com alta de índices de preços. Essa é a projeção
de analistas, em razão de reajustes
de contratos no período.
"Matar o defunto"
"É, porém, uma subida anunciada, a que o BC não deve prestar
atenção. Seria "matar o defunto",
se ater à inflação passada. Não há
o que o Banco Central possa fazer
em relação a isso", afirma o ex-presidente do BC, para quem o
país pode "entrar em recessão
maior". "Se ainda não estivermos
em recessão, estamos com atividade econômica muito baixa."
Loyola, que é sócio da consultoria Tendências, acrescenta que a
autoridade monetária "tem que
olhar a inflação para a frente, o
que está acontecendo com outros
preços da economia".
"Os sinais estão mais claros agora", concorda Octavio de Barros,
do BBV. "Uma ousadia responsável já permitiria o corte de juros."
Tal ousadia comportaria apenas
redução de 0,5 ponto percentual
da taxa, mesmo no atual "ambiente pré-recessivo -indicadores ainda não sugerem recessão".
"Mas acreditamos que o BC vá
manter a taxa para ver a velocidade de queda da inflação e o recuo
necessário à meta de 2004, apesar
da alta de juro real."
O economista da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos)
Roberto Troster, que defendia o
juro alto até maio como "atalho
para o juro baixo", também acha
que chegou a hora.
"Se a política monetária for leniente, a inércia ganha força e a
queda de preços é menor, mas o
movimento já foi feito."
"Não foi por leniência que as
metas não foram atingidas. O modelo é muito rigoroso. A política
monetária tem pouco a fazer, a
não ser que se trabalhe com a hipótese de depressão", diz Hugo
Penteado, do ABN. Parte dos economistas do banco defendeu a estabilidade dos juros em maio.
Para Penteado, a inflação ainda
imobilizará o BC em junho. "Não
vejo como o corte de juros, que já
devia ter vindo, possa ter potencial perigoso com a atividade econômica do jeito que está."
A taxa dos contratos futuros de
juros para janeiro, os mais negociados, caiu de 23,43% para
23,16% ao ano na sexta-feira.
A queda, que já se registrava
desde a abertura, acentuou-se
com a declaração do diretor de
Política Monetária do BC, Luiz
Augusto Candiota, considerada
otimista. Segundo ele, há um recuo "consistente" da inflação,
mas "a batalha não está vencida".
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