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OPINIÃO ECONÔMICA
Conseqüências econômicas
da crise política
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
A crise política e as denúncias de corrupção podem
minar a política econômica e
abalar a economia brasileira? É a
pergunta que muitos fazem. Vou
tentar responder. Mas antes um
comentário: Não se deve esquecer
que o que abala a economia é a
própria política econômica, mais
especificamente a combinação
desastrosa de juros altos e câmbio valorizado.
Bem. Essa última frase foi só
para não perder o hábito. Passo
então ao tema do momento. Nas
últimas duas semanas, os mercados financeiros ficaram turbulentos e voláteis. O receio é que o
presidente da República possa ser
aconselhado a dar uma guinada
na política econômica, de tipo
"populista", para tentar evitar o
naufrágio eleitoral em 2006. Noticia-se que alguns assessores do
presidente alimentam a esperança de dar a volta por cima. A salvação viria de políticas monetárias e fiscais mais flexíveis, que
pudessem estimular a produção e
a criação de empregos.
A esperança é compreensível.
Não há dúvida de que a estagnação e o desemprego constituem
um fardo difícil de carregar. O
desempenho medíocre da economia aumenta a vulnerabilidade
de qualquer governo -e mais
ainda a de um governo que carrega o estigma da traição e do estelionato eleitoral.
Se o Brasil estivesse crescendo
como a Argentina, a China, a
Rússia ou a Índia, seria bem mais
fácil enfrentar o estrago produzido pelos escândalos políticos. O
ex-presidente Bill Clinton, por
exemplo, sobreviveu a escândalos
tremendos (de outra natureza)
basicamente porque a economia
dos Estados Unidos atravessava
uma fase gloriosa. Na época, os
americanos perguntavam: "Não
dá para fazer o impeachment do
presidente da cintura para baixo?".
Nas circunstâncias atuais do
Brasil, contudo, o receio (ou a esperança) de uma guinada na política econômico-financeira é ilusório. O governo Lula tem sido,
desde o início, um governo parcialmente interditado. Não chegou a tomar posse no Ministério
da Fazenda e no Banco Central.
Agora é tarde demais para fazê-lo.
Normalmente, uma crise política, ao enfraquecer o governo, enfraquece também a política econômica. Não é o que vai acontecer agora. E por um motivo simples: a política econômica não
pertence a Lula.
A tendência é ocorrer justamente o contrário. Se não for longe demais, a crise política irá fortalecer a equipe econômica, pois
ela está atingindo pesadamente
seus principais adversários na
Esplanada dos Ministérios. Como se sabe, a área política, em
particular o ministro José Dirceu,
funcionava como um contrapeso,
ainda que frágil e problemático,
ao ministro da Fazenda.
Os desdobramentos são mais
ou menos previsíveis. O presidente será pressionado a sacrificar os
mais diretamente comprometidos com os esquemas de corrupção e compra de deputados. Ao
mesmo tempo, os donos do poder
real irão mobilizar-se para criar
um cordão sanitário em torno da
equipe econômica, a "parte sadia
do governo". Poucos farão questão de lembrar que os esquemas
de corrupção administrados pela
"parte podre do governo" destinavam-se, em grande medida, a
viabilizar a votação no Congresso da agenda econômica da "parte sadia do governo".
O presidente da República caminha a passos largos para se
tornar o que os americanos chamam de "lame duck" (pato manco). Sua reeleição corre riscos,
evidentemente. Se ainda conseguir se reeleger, o seu segundo
mandato será provavelmente
bem mais melancólico do que o
primeiro.
Lech Walesa manda lembranças.
Paulo Nogueira Batista Jr., 50, economista e professor da FGV- Eaesp, escreve
às quintas-feiras nesta coluna. É autor
do livro "O Brasil e a Economia Internacional: Recuperação e Defesa da Autonomia Nacional" (Campus/Elsevier, 2005).
E-mail - pnbjr@attglobal.net
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