|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUIZ CARLOS BARBOSA
A gestão na pequena empresa
É preciso simplificar a legislação e desonerar tributariamente a
pequena empresa
AS MICRO e pequenas empresas
no Brasil e no mundo têm características próprias. São
mais ágeis, versáteis, flexíveis e
adaptam-se com mais facilidades
que as grandes empresas, mas, em
contrapartida, devido às limitações
próprias de seu porte, em geral têm
menos poder de barganha e não se
beneficiam de ganhos de escala. Por
isso mesmo, não é possível reproduzir mecanicamente os modelos de
gestão e de boas práticas empregados pelas empresas de maior porte.
O empreendedor é uma espécie de
faz-tudo, precisa assumir múltiplas
funções, a distância entre os escalões -se é que o termo é apropriado
nesse caso- praticamente não existe, a hierarquização e departamentalização também não; o que predomina nas relações é a informalidade,
enfim, são realidades muito distintas. Da mesma maneira, na maioria
dos casos, a grande empresa é mais
capacitada, conta com recursos humanos mais treinados e desenvolvidos que a pequena. É claro que há
exceções, como as pequenas da área
de tecnologia, mais bem preparadas.
Essas diferenças determinam que
o modelo de excelência de gestão da
grande empresa sofra um ajustamento na hora de ser aplicado ao pequeno negócio: os fundamentos são
os mesmos, mas a maneira de implantação deve ser diferente. Devido
à privilegiada visão de conjunto de
que o líder desfruta, ele tem enorme
capacidade de implementação das
boas práticas de gestão. A inovação,
por exemplo, que hoje diz respeito
mesmo à sobrevivência no mundo
empresarial, pode ser implementada em pouquíssimo tempo, pois as
instâncias de decisão praticamente
inexistem. Nós, do Sebrae, somos
testemunhas da velocidade com que
se passa dos testes para a implantação de inovações nas pequenas empresas, particularmente quando são
empresas de incubadoras, ambiente
já propícias a essa prática.
O primeiro passo para que a pequena empresa adote as boas práticas de gestão é a sensibilização do líder, sem dúvida. Quando o pequeno
empresário está convencido de que
as boas práticas vão repercutir nos
resultados de seu negócio, que terão
impacto direto e positivo em seu desempenho empresarial, ele vai adotar os fundamentos da excelência
em gestão, disseminados pela FNQ
(Fundação Nacional da Qualidade),
e o fará rapidamente.
E qual o melhor modo de sensibilizar esse empresário? O exemplo.
Procuramos mostrar nas diversas
mídias os casos de sucesso, que permitem que ele faça comparações,
que extraia lições para a sua rotina,
pois já sabemos que o pequeno empresário não está interessado em
teoria, mas no mundo real, em saber
quais os segredos do desempenho
das pequenas empresas que adotaram boas práticas de gestão. O passo
seguinte é a capacitação desse empresário, por meio de consultoria assistida e de uma série de iniciativas.
No Sebrae, por exemplo, os fundamentos da excelência em gestão já
estão incluídos transversalmente
nas matrizes para capacitação de
empresários. Estamos também desenvolvendo em conjunto com a
FNQ módulos específicos de excelência em gestão para a pequena empresa. O plano é estabelecer uma escala que funcione à maneira de degraus rumo à excelência.
O próprio Sebrae adotou em sua
gestão os fundamentos e critérios de
excelência, por meio da Geor (Gestão Estratégica Orientada para Resultados), que trouxe maior transparência e um formato mais participativo à instituição e aos parceiros.
O Sebrae deixou de visar somente os
resultados de esforço -como a
quantidade de capacitações realizada e o número de participantes de
cursos- e passou a focar nos resultados finalísticos, ou seja, a geração
de empregos decorrente de determinada ação do Sebrae, o impacto
no faturamento, enfim, as repercussões em nossa clientela. Hoje, estão
assim quase 800 projetos no Brasil,
que compreendem 71% do orçamento da instituição.
Todo esse esforço no sentido de
capacitar a micro e a pequena empresa, no entanto, pode esbarrar na
legislação brasileira, que foi pensada
para a grande empresa. É preciso
simplificar a legislação e desonerar
tributariamente a pequena empresa, iniciativas contempladas pela Lei
Geral da Micro e da Pequena Empresa, que se encontra em tramitação no Congresso.
A soma desse
conjunto de fatores pode se tornar o
motor de uma revolução capaz de,
em poucos anos, transformar completamente o cenário econômico
brasileiro, promovendo o ciclo de
crescimento que todos esperamos.
LUIZ CARLOS BARBOSA é diretor técnico do Sebrae Nacional e membro do Conselho Curador da FNQ Fundação
Nacional da Qualidade.
Hoje, excepcionalmente, a coluna de LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS não é publicada.
Texto Anterior: No 1º tri, Argentina cresce 8,6%, puxada por indústria e construção Próximo Texto: Luís Nassif: Varig e ignorância nacional Índice
|