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Crescimento depende de reformas, diz analista
Segundo especialistas estrangeiros, sem mudanças estruturais o país não consegue sustentar expansão
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
Na semana passada, o governo anunciou que a economia do
país está avançando no ritmo
mais forte desde 1996: o PIB
(Produto Interno Bruto) cresceu 5,8% no período de 12 meses encerrado em março. Empresários e consumidores querem acreditar que, desta vez, é
pra valer. Entretanto, analistas
estrangeiros ouvidos pela Folha afirmam que há um considerável risco de os progressos
obtidos nos últimos anos não se
sustentarem se algumas reformas estruturais não forem feitas -e logo.
"Pela ótica da comunidade
internacional de investidores, o
Brasil está muito mais atraente
agora do que nos últimos anos,
tanto política quanto economicamente", diz Mahrukh Doctor, professora da Universidade
de Hull, no Reino Unido, e pesquisadora do Centro para Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford.
A política monetária levada a
cabo pelo Banco Central é sempre citada como um dos pilares
da evolução recente do país.
"Justamente por causa do
seu histórico, o Brasil não se
mostra complacente com a inflação e seus efeitos. A sociedade, por sua vez, parece estar
mais disposta a fazer sacrifícios
a fim de evitar que esse mal volte, pois entende que a estabilidade de preços é crucial", comenta Doctor, fazendo uma
ressalva em seguida: "Essencial, importantíssima, mas não
suficiente, devo dizer".
A lista das melhorias prioritárias inclui infra-estrutura,
sistema tributário, Previdência
Social e leis trabalhistas. "O
atual governo não está fazendo
a sua parte", lamenta Doctor.
A preocupação mais urgente,
na avaliação dos analistas, é
com a elevação dos gastos públicos. "Essas despesas estão
demasiadamente altas e precisam ser controladas. Aumentar
o superávit primário para 4,3%
do PIB, como anunciado pelo
Ministério da Fazenda há alguns dias, não representa economia nenhuma, na realidade,
porque o aperto está sendo obtido a partir de um aumento
temporário de arrecadação. Se
houver uma crise mundial forte, os ventos favoráveis cessam.
As dúvidas quanto a isso devem
provocar cautela. É hora de ficar alerta e montar as defesas
adequadas para continuar crescendo rápido no médio e longo
prazo", destaca Thomas Trebat, diretor-executivo do Instituto para Estudos Brasileiros
da Universidade Columbia, nos
EUA.
A consultoria americana Global Insight, uma das mais conceituadas no mundo, prevê que
o país termine o ano com um
crescimento de 5,1%, que ainda
é elevado. Esse número considera um panorama de "aterrissagem suave" para a China -o
país se desaceleraria devagar,
ainda demandando um grande
volume de commodities agrícolas e metálicas do Brasil, porém
diminuindo um pouco, também, as pressões sobre os preços das matérias-primas. "Apesar das incertezas no cenário
global, estamos otimistas porque os investimentos nas empresas têm sido altos e devem
continuar assim, de forma a
atenderem melhor a demanda
interna", diz Rafael Amiel, diretor para a América Latina da
Global Insight.
"O país tem tudo para dar
certo. É um forte exportador de
alimentos e de tecnologia para
biocombustíveis, produtos que
serão muito demandados pelo
mercado. O governo só não pode deixar de encarar seriamente os desafios que se impõem
neste momento. Tem que trabalhar duro para conseguir fazer as mudanças enquanto é
possível", reforça Doctor.
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