São Paulo, segunda-feira, 16 de junho de 2008

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Crescimento depende de reformas, diz analista

Segundo especialistas estrangeiros, sem mudanças estruturais o país não consegue sustentar expansão

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Na semana passada, o governo anunciou que a economia do país está avançando no ritmo mais forte desde 1996: o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 5,8% no período de 12 meses encerrado em março. Empresários e consumidores querem acreditar que, desta vez, é pra valer. Entretanto, analistas estrangeiros ouvidos pela Folha afirmam que há um considerável risco de os progressos obtidos nos últimos anos não se sustentarem se algumas reformas estruturais não forem feitas -e logo.
"Pela ótica da comunidade internacional de investidores, o Brasil está muito mais atraente agora do que nos últimos anos, tanto política quanto economicamente", diz Mahrukh Doctor, professora da Universidade de Hull, no Reino Unido, e pesquisadora do Centro para Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford.
A política monetária levada a cabo pelo Banco Central é sempre citada como um dos pilares da evolução recente do país.
"Justamente por causa do seu histórico, o Brasil não se mostra complacente com a inflação e seus efeitos. A sociedade, por sua vez, parece estar mais disposta a fazer sacrifícios a fim de evitar que esse mal volte, pois entende que a estabilidade de preços é crucial", comenta Doctor, fazendo uma ressalva em seguida: "Essencial, importantíssima, mas não suficiente, devo dizer".
A lista das melhorias prioritárias inclui infra-estrutura, sistema tributário, Previdência Social e leis trabalhistas. "O atual governo não está fazendo a sua parte", lamenta Doctor.
A preocupação mais urgente, na avaliação dos analistas, é com a elevação dos gastos públicos. "Essas despesas estão demasiadamente altas e precisam ser controladas. Aumentar o superávit primário para 4,3% do PIB, como anunciado pelo Ministério da Fazenda há alguns dias, não representa economia nenhuma, na realidade, porque o aperto está sendo obtido a partir de um aumento temporário de arrecadação. Se houver uma crise mundial forte, os ventos favoráveis cessam. As dúvidas quanto a isso devem provocar cautela. É hora de ficar alerta e montar as defesas adequadas para continuar crescendo rápido no médio e longo prazo", destaca Thomas Trebat, diretor-executivo do Instituto para Estudos Brasileiros da Universidade Columbia, nos EUA.
A consultoria americana Global Insight, uma das mais conceituadas no mundo, prevê que o país termine o ano com um crescimento de 5,1%, que ainda é elevado. Esse número considera um panorama de "aterrissagem suave" para a China -o país se desaceleraria devagar, ainda demandando um grande volume de commodities agrícolas e metálicas do Brasil, porém diminuindo um pouco, também, as pressões sobre os preços das matérias-primas. "Apesar das incertezas no cenário global, estamos otimistas porque os investimentos nas empresas têm sido altos e devem continuar assim, de forma a atenderem melhor a demanda interna", diz Rafael Amiel, diretor para a América Latina da Global Insight.
"O país tem tudo para dar certo. É um forte exportador de alimentos e de tecnologia para biocombustíveis, produtos que serão muito demandados pelo mercado. O governo só não pode deixar de encarar seriamente os desafios que se impõem neste momento. Tem que trabalhar duro para conseguir fazer as mudanças enquanto é possível", reforça Doctor.


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