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Alta de preço dos alimentos contamina outros produtos
Cresce difusão da inflação, ou seja, mais itens que integram o IPCA sobem de preço
Em maio, dos 465 itens pesquisados pelo IBGE, 71% registraram alta, contra 62% no mês anterior; instituto aponta reajuste nos serviços
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Primeiro, foram os alimentos
a pressionar a inflação. Agora,
os reajustes se dissiparam e
atingem a maior parte da cesta
de produtos que integra o IPCA
(Índice de Preços ao Consumidor Amplo), do IBGE. Em
maio, dos 465 itens pesquisados pelo índice oficial, 71,35%
registraram alta. O percentual
supera em quase dez pontos o
de abril (61,98%).
Em maio do ano passado, o
chamado índice de difusão era
bem menor: 56,99%, segundo
dados da Tendências. "Esse patamar de maio é bem alto. Se se
configurar uma tendência, como parece, mostra uma disseminação da inflação que é preocupante", diz Marcela Prada, economista da consultoria.
Para ela, a pressão dos alimentos contamina outros preços. "Há um ambiente de aquecimento econômico propício para reajuste", afirma.
Em maio, o IPCA surpreendeu os especialistas e bateu em
0,79% -acima do 0,55% de
abril. Foi a maior alta desde
abril de 2005 (0,87%) e a mais
elevada variação para um mês
de maio desde o início do Plano
Real, em 1994.
Diante do resultado, economistas já cogitam a possibilidade de o índice ultrapassar o teto
da meta do governo para 2008,
de 6,5%. Um dos motivos é a
maior difusão da inflação que
começa a tomar corpo.
Tal fenômeno se evidencia
com o comportamento dos preços dos serviços, que avançam a
reboque da alta da inflação dos
alimentos, do aquecimento da
economia e da expansão da
renda do trabalhador.
A manicure Dircinéia dos
Santos Lima, a Néia, 38, ilustra
a situação recente. Ela cobrava
R$ 15 para fazer a mão e o pé há
um ano. Como seu orçamento
ficou mais apertado e as clientes não reclamaram, conseguiu
subir o preço para R$ 20.
Estão nessa lista serviços de
conserto de transporte escolar
(alta de 3,54% de janeiro a maio
de 2008), estacionamento
(3,16%), médicos e dentários
(3,47%), costureira (3,30%),
academia de ginástica (4,34%)
e natação (2,93%).
Fazer as unhas passou a custar 4,58% mais neste ano. No
salão de beleza, o recordista na
alta de preços foi depilação
(7,73%). O serviço superou o
reajuste do hotel -5,07%. O aumento mais expressivo, porém,
ficou com os ingressos de jogos
esportivos -33,73%. Todos subiram acima do IPCA -2,88%
de janeiro a maio.
Segundo Eulina Nunes dos
Santos, coordenadora de índices de preços do IBGE, há um
"claro movimento de alta, especialmente dos serviços pessoais". "Existem duas influências importantes: o reajuste do
salário mínimo e mais recentemente a alta dos preços dos alimentos. Para quem é autônomo, a alimentação é muito sentida no orçamento, e a tendência é que se tente repassar os
aumentos para o custo dos serviços", diz.
A economia aquecida, diz,
propicia os repasses. "No caso
de serviços como manicure, cabeleireiro, costureira, o consumidor é mais fiel. Não troca facilmente. Assim, o repasse é
mais fácil. Os clientes aceitam
mais os reajustes."
Para Carlos Thadeu de Freitas Filho, da SLW Corretora, a
economia aquecida "dá sustentação aos repasses de custo", o
que abre espaço para o reajustes dos serviços.
Essa tendência, diz, é mais
notada em serviços nos quais o
peso da mão-de-obra é maior e
cuja expansão do consumo está
atrelada ao aumento da renda.
É o caso típico dos serviços do
salão de beleza.
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