São Paulo, Quarta-feira, 16 de Junho de 1999
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Especialista vê "presente" em venda

RUI PIZARRO
free-lance para a Folha

Os ágios verificados ontem nos leilões das áreas de exploração e produção de petróleo comprovam que os preços mínimos "foram ridiculamente avaliados", disse o vice-presidente da Aepet (Associação dos Engenheiros da Petrobras), Sydney Reis.
De acordo com ele, essas áreas estão sendo repassadas ao setor privado "para ser submetidas a uma exploração predatória", e, com isso, as reservas de petróleo do país podem esgotar-se em apenas dez anos.
Reis disse que os US$ 60 bilhões que deverão ser aplicados no setor em dez anos, segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo), representam menos do que os US$ 80 bilhões investidos, somente pela Petrobras, nos últimos 40 anos.
Para o diretor da Coppe (Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e professor do departamento de oceânica Segen Estefen, o valor apurado nos leilões não é relevante. "A estratégia da ANP foi correta ao estimular, por meio de preços não impeditivos, a participação das empresas", avalia.

Papai Noel
Já o físico Luís Pinguelli Rosa, também da Coppe, considera que a avaliação dos preços das áreas foi equivocada, o que explica os ágios elevados. "As empresas vencedoras receberam um verdadeiro presente de Papai Noel."
Pinguelli lamentou a inexistência no país, segundo ele, de uma visão estratégica do setor petróleo.
"Não há necessidade de buscar, neste momento, a auto-suficiência, porque os preços do petróleo, no mercado internacional, estão baratos", disse.
Para Reis, as empresas que venceram os leilões das áreas onde a Petrobras já correu riscos, investindo em prospecção, não serão obrigadas a novas explorações.
As empresas estão pagando muito pelas áreas licitadas, "mas estão no jogo dos negócios latinos", disse Michael Snape, gerente de marketing da consultoria britânica Robertson, especializada na área de petróleo, sobre os ágios dos leilões.
Snape lembra que, nas licitações para exploração de petróleo na Venezuela, em 96, os bônus (preços mínimos) foram muito mais altos -"Totalmente loucos".

Pesquisa
A Robertson conduz, todo ano, uma pesquisa com as cem maiores companhias de petróleo do mundo. A última pesquisa constatou que o Brasil era o número um das prioridades dos investidores. Segundo Snape, quatro anos antes o país figurava depois do 40º lugar.


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