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LUÍS NASSIF
Os "mancheteiros" da campanha
No jornalismo existe o
"lead", a manchete e o artigo de fundo. "Lead" é a abertura
da matéria, onde se resume a
idéia principal. Manchete é o título, que deve destacar em uma
linha o teor da reportagem. E o
artigo de fundo é o aprofundamento do tema.
Há que se tomar cuidado com
as propostas dos candidatos à
Presidência da República. Há
excelentes "mancheteiros", bons
autores de "leads", mas poucos
autores de artigos de fundo.
Quando uma pessoa defende
determinado tipo de reforma tributária, podem ocorrer três coisas. A primeira, ele não saber sobre o que está falando. A segunda, saber o que é a idéia "in",
aquela mais bem aceita pelos especialistas na matéria. A terceira, ele ser o estudioso, capaz de
identificar vantagens e desvantagens da idéia proposta.
Na geléia geral da campanha e
das coberturas, só passam a
manchete e o "lead". Dizer que
fulano é a favor da desoneração
das exportações, da simplificação tributária ou do equilíbrio
fiscal significa o mesmo que eu
dizer que o sistema de ultracentrífugas é mais eficiente que o
jett nozzle para o enriquecimento de urânio. Nenhum físico vai
me contestar. Mas, de qualquer
modo, eu continuarei não tendo
a menor capacidade de entender
o funcionamento de um sistema
e outro.
Temas como reforma da previdência, reforma tributária, guerra comercial, incremento de exportações, aumento da eficiência
da gestão pública não podem ser
tratados apenas como um enunciado de boas intenções. Dê-me
um bom piloto de fonte que eu
produzirei uma coluna tecnicamente impecável sobre a arte de
pilotar. Mas não me dê nenhum
avião, porque serei pior que o comandante Garcez (aquele famoso piloto que em vez de voar para o norte voou para o sul).
O próprio mercado, essa entidade abstrata e que se comporta
em manada e, de resto, bastante
superficial em suas análises, fica
julgando os candidatos dentro
da ótica do "economicamente
correto". Basta repetir algo que o
consultor diz para ser assimilável.
Conduzir o Brasil é muito mais
que isso. Exige conhecimento detalhado de cada tema, avaliação
das implicações sobre os diversos
ângulos de análise, formação de
equipe operacional competente,
humildade para não se julgar
dono de todas as soluções.
É evidente que, no decorrer de
uma campanha eleitoral, apenas a opinião pública mais bem
informada saberá discernir os
candidatos, de acordo com graus
de aprofundamento com que
tratam os grandes temas nacionais. Haverá aqueles que não
conseguem chegar ao bom diagnóstico, os que chegam ao diagnóstico superficialmente e os que
dispõem de diagnósticos e planos de ação.
Um dos grandes problemas dos
diversos discursos é essa ênfase
monocórdica nos aspectos fiscais, monetários e cambiais da
política econômica. Há razoável
consenso sobre o que tem que ser
feito. Mas quase nada é cobrado
em termos de política de desenvolvimento, política científico-tecnológica, gestão pública, governo eletrônico, programas de
qualidade para a educação e
área social em geral, políticas de
estímulo à inovação e às pequenas empresas.
Infelizmente, 20 anos após o final da ditadura, 30 anos após o
"milagre", a discussão pública
continua pautada pelo economicismo ligeiro, que trata a economia pelos grandes agregados
apenas, sem conseguir avançar
em questões substantivas, que
modificam a realidade e preparam o futuro.
Procedimentos jurídicos
Tenho defendido radicalmente
a observância dos procedimentos jurídicos como forma de impedir abusos de autoridade e
desrespeito aos direitos individuais. Do mesmo modo, tenho
criticado a falta de conhecimento técnico nas críticas que comumente se faz ao Poder Judiciário, assim como o impulso acusatório do Ministério Público.
Mas, a partir das competentes reportagens de Frederico Vasconcelos sobre o caso do TRT, não ficou clara a posição do juiz Mazloum ao absolver Luiz Estevão das acusações que pesavam sobre ele e, mesmo, ao justificar o não-indiciamento do perito que recebeu dinheiro dos acusados.
Há o formalismo que impede a Justiça, mas há também o formalismo que impede a punição.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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