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OPINIÃO
Apesar de forte, apoio a Bush corre risco
PETER SPIEGEL
DO "FINANCIAL TIMES"
Quando o presidente George
W. Bush visitou Wall Street
para fazer um discurso sobre o escândalo dos crimes corporativos e
fraudes contábeis, na semana passada, tinha um objetivo claro. Mas
seu esforço por reconquistar a iniciativa na luta pela reforma, que
no momento está com o Congresso sob liderança democrata, não
atingiu o resultado esperado.
O júbilo com que os oponentes
políticos do presidente esquartejaram seu discurso pode ter servido de alerta para os assessores dele. A onda de questões que o presidente tem de enfrentar vem ganhando ímpeto. Desde o 11 de setembro, ele se acostumou a receber apenas elogios. Uma pesquisa
de opinião pública do instituto
Gallup indica que o índice de
aprovação a Bush supera os 76%.
Os americanos em geral ainda
acreditam que Bush seja honesto
e digno de confiança. Mas os oponentes de Bush sentem que uma
virada da opinião pública é iminente quanto a uma questão: as
relações mais que confortáveis
entre os republicanos e os líderes
empresariais. E essa tendência
acontece num momento crítico: o
começo da campanha para as
eleições legislativas de novembro.
A pesquisa citada indica que
47% dos entrevistados acreditam
que Bush esteja mais interessado
em proteger os interesses dos
americanos comuns do que os
das grandes corporações, uma
queda de seis pontos percentuais
em apenas uma semana.
Excetuada uma única iniciativa
-a criação de um grupo de trabalho para combater o crime corporativo no Departamento da
Justiça-, nenhuma das propostas de Bush era nova.
A despeito do crescente apoio
bipartidário a um projeto de lei de
reforma corporativa, que no momento está sendo debatido no Senado, Bush se recusa a apoiar a legislação. O presidente preferiu
apoiar um projeto menos severo,
aprovado pela Câmara, quando
os escândalos envolviam só
Enron e Arthur Andersen.
A posição do governo Bush se
baseia no que muitas autoridades
reconhecem sejam preocupações
políticas legítimas. No Federal Reserve (o banco central dos EUA),
há preocupação com a possibilidade de que projetos aprovados
pelo Congresso tenham consequências imprevisíveis.
Mas a cautela de Bush só fez reforçar as críticas. Elas se concentram em especial em Harvey Pitt,
o presidente da Securities and Exchange Commission (SEC, a
CVM americana). Pitt chegou ao
posto depois de servir como advogado e profissional de lobby do
setor de auditoria. A Casa Branca
rejeitou um pedido do senador
John McCain pela demissão de
Pitt. Mas existem dúvidas quanto
a Pitt entre as bases republicanas.
"É preciso que tenhamos no comando da SEC alguém que não
precise se excluir de metade dos
casos que a agência vem investigando, [por motivo de conflito de
interesses"", diz o deputado republicano Spence Bachus.
Bush se manteve firme em seu
apoio a Pitt. Bush também se
manteve leal a Thomas White, secretário do Exército e ex-executivo da Enron. A divisão que White
dirigia na Enron está ligada a operações falsas que inflacionaram os
custos de eletricidade durante a
crise de energia na Califórnia.
O fato de que White continue a
manter seu posto causou certo
choque em Washington, onde subordinados vinculados -mesmo
remotamente- a um escândalo
são ejetados de seus cargos rotineiramente.
Ainda mais perturbadores para
Bush do que a percepção de falhas
por parte de subordinados como
Pitt e White são os escândalos financeiros que continuam a borbulhar em torno dele mesmo e de
seu vice-presidente, Dick Cheney.
Por mais de duas semanas, o presidente vem sendo incomodado
por acusações de que agiu de maneira indevida na venda de quase
US$ 850 mil em ações da Harken
Energy há mais de dez anos.
A SEC abriu uma investigação
contra Bush por possível uso indevido de informações privilegiadas, em 1991, depois que surgiram
revelações de que ele havia vendido suas ações apenas dois meses
antes que a empresa reportasse
um inesperado prejuízo de US$
23,2 milhões. O inquérito foi encerrado por falta de indícios.
Documentos internos da SEC
indicam que Bush, então membro
do comitê de auditoria da Harken, sabia pouco sobre os problemas da empresa no momento em
que vendeu suas ações. A Casa
Branca rebateu com eficiência as
questões sobre o momento em
que Bush optou por revelar a venda de suas ações. Ele mesmo, aparentemente, apresentou a documentação requerida dentro do
prazo, mas a Harken se atrasou
oito meses no encaminhamento
delas às autoridades.
Mas, para além das acusações
legais específicas de delito, o caso
é problemático para Bush porque
faz parecer que ele se envolveu em
práticas semelhantes àquelas pelas quais agora critica outros executivos. A Harken, por exemplo,
parece ter tomado certas decisões
contábeis questionáveis nos meses que precederam a venda das
ações de Bush, decisões que pintaram quadro muito mais favorável sobre a situação da empresa
do que os números justificariam.
Bush criticou especificamente os
executivos que venderam ações
antes da correção de declarações
financeiras de suas empresas, e
disse que alguns deles deveriam
restituir os lucros que tivessem
auferido.
Potencialmente ainda mais explosiva é a investigação corrente
da SEC sobre a Halliburton, empresa de energia de Houston onde
Dick Cheney trabalhou como
executivo-chefe, antes de ser nomeado para a disputa da vice-presidência. A SEC está estudando as
acusações de que a empresa inflou seus lucros por meio da contabilização indevida de receitas
relacionadas a contratos que estavam envolvidos em disputas e
ainda não tinham sido pagos integralmente.
O fracasso do governo em tomar a iniciativa política e as questões que envolvem os funcionários da Casa Branca se combinaram para encorajar os democratas e causar preocupações a alguns dos assessores do presidente. "Eu encorajaria o presidente a
dizer aos membros do seu partido
que apóiem a reforma", diz Patrick Leahy, um dos líderes dos
democratas no Senado. "É preciso que propiciemos aos investidores alguma confiança no sentido
de que há alguém tomando conta
da loja". Se a Casa Branca não o fizer, a temporada eleitoral poderá
ser longa para os republicanos.
Tradução de Paulo Migliacci
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