São Paulo, terça-feira, 16 de julho de 2002

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Déficit com Argentina deve triplicar no ano

DA REPORTAGEM LOCAL

O déficit do Brasil no comércio com a Argentina deve praticamente triplicar este ano, segundo estimativas da AEB (Associação dos Exportadores do Brasil).
No ano passado, o déficit acumulado pelos brasileiros nas transações entre os dois países foi de US$ 1,04 bilhão. Na previsão da AEB, este ano o desequilíbrio a favor dos argentinos chegará a US$ 3 bilhões. De acordo com dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior), até o mês de maio, o Brasil mantinha um saldo negativo de US$ 1,296 bilhão.
São dois os principais fatores que fomentam esse rombo: primeiro, o enorme ganho de competitividade de produtos argentinos com a desvalorização do peso. Desde a adoção do sistema de câmbio flutuante, em janeiro, a moeda argentina se depreciou 75% perante o dólar. O segundo aspecto é um dos penosos resultados da crise econômica, a maior em toda a história da Argentina. Com o mercado interno destroçado, as importações do país simplesmente despencaram: estimativas de consultorias argentinas apontam para queda de níveis de importações próxima a 70%.
Em 2001, o Brasil exportou cerca de US$ 5 bilhões em produtos para a Argentina. Neste ano, esse volume deve cair no mínimo 60%. No entanto, as importações de produtos argentinos também cairão, mas em cerca de 30%.
A AEB também atenta para um aspecto relevante: a mudança no perfil do comércio entre os dois países. Se na época do regime de câmbio fixo (com a paridade de um por um entre o peso e o dólar, e consequentemente maior poder de compra), os artigos manufaturados (como carros, celulares) dominavam a pauta de exportação do Brasil para a Argentina, agora as compras priorizam matérias-primas e insumos.
Enquanto as importações gerais da Argentina recuaram em média 66% neste ano, a queda na compra de minério de ferro brasileiro foi de não mais que 14%. ""As siderúrgicas deles teriam capacidade para operar em 100% para exportar para os EUA, porque a Argentina, ao contrário do Brasil, não está na lista de países que sofreram restrição de exportação de aço no mercado dos EUA", diz José Augusto Castro, da AEB.
O recente acordo firmado por Brasil e Argentina de exportação de automóveis para o México pode, a partir do próximo ano, atenuar essa diferença. Isso ocorreria porque as montadoras (praticamente o único setor industrial do país, além do petroleiro, não dizimado pela crise) precisariam importar peças e componentes de fabricantes brasileiros.
Outro ponto que interessa aos brasileiros são as exportações de açúcar -uma vez que o produto brasileiro é um dos mais competitivos do mundo. Mas a abertura desse mercado depende de uma decisão muito mais política que econômica: desde a formação do Mercosul, os exportadores brasileiros tentam superar as barreiras (leia-se subsídios) que o Estado argentino paga a produtores nas Províncias do Norte argentino. (JOSÉ ALAN DIAS)


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