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Déficit com Argentina deve triplicar no ano
DA REPORTAGEM LOCAL
O déficit do Brasil no comércio
com a Argentina deve praticamente triplicar este ano, segundo
estimativas da AEB (Associação
dos Exportadores do Brasil).
No ano passado, o déficit acumulado pelos brasileiros nas transações entre os dois países foi de
US$ 1,04 bilhão. Na previsão da
AEB, este ano o desequilíbrio a favor dos argentinos chegará a US$
3 bilhões. De acordo com dados
da Secex (Secretaria de Comércio
Exterior), até o mês de maio, o
Brasil mantinha um saldo negativo de US$ 1,296 bilhão.
São dois os principais fatores
que fomentam esse rombo: primeiro, o enorme ganho de competitividade de produtos argentinos com a desvalorização do peso. Desde a adoção do sistema de
câmbio flutuante, em janeiro, a
moeda argentina se depreciou
75% perante o dólar. O segundo
aspecto é um dos penosos resultados da crise econômica, a maior
em toda a história da Argentina.
Com o mercado interno destroçado, as importações do país simplesmente despencaram: estimativas de consultorias argentinas
apontam para queda de níveis de
importações próxima a 70%.
Em 2001, o Brasil exportou cerca de US$ 5 bilhões em produtos
para a Argentina. Neste ano, esse
volume deve cair no mínimo
60%. No entanto, as importações
de produtos argentinos também
cairão, mas em cerca de 30%.
A AEB também atenta para um
aspecto relevante: a mudança no
perfil do comércio entre os dois
países. Se na época do regime de
câmbio fixo (com a paridade de
um por um entre o peso e o dólar,
e consequentemente maior poder
de compra), os artigos manufaturados (como carros, celulares)
dominavam a pauta de exportação do Brasil para a Argentina,
agora as compras priorizam matérias-primas e insumos.
Enquanto as importações gerais
da Argentina recuaram em média
66% neste ano, a queda na compra de minério de ferro brasileiro
foi de não mais que 14%. ""As siderúrgicas deles teriam capacidade
para operar em 100% para exportar para os EUA, porque a Argentina, ao contrário do Brasil, não
está na lista de países que sofreram restrição de exportação de
aço no mercado dos EUA", diz José Augusto Castro, da AEB.
O recente acordo firmado por
Brasil e Argentina de exportação
de automóveis para o México pode, a partir do próximo ano, atenuar essa diferença. Isso ocorreria
porque as montadoras (praticamente o único setor industrial do
país, além do petroleiro, não dizimado pela crise) precisariam importar peças e componentes de
fabricantes brasileiros.
Outro ponto que interessa aos
brasileiros são as exportações de
açúcar -uma vez que o produto
brasileiro é um dos mais competitivos do mundo. Mas a abertura
desse mercado depende de uma
decisão muito mais política que
econômica: desde a formação do
Mercosul, os exportadores brasileiros tentam superar as barreiras
(leia-se subsídios) que o Estado
argentino paga a produtores nas
Províncias do Norte argentino.
(JOSÉ ALAN DIAS)
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