São Paulo, terça-feira, 16 de julho de 2002

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INDÚSTRIA

Deputado Armando Monteiro Neto, presidente da entidade, diz que é vantagem estar no Legislativo

Firjan está fora da nova diretoria da CNI

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) não vai participar da diretoria recém-eleita da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
A decisão é um protesto à nomeação de mais um político para a presidência da entidade -o usineiro e deputado federal Armando Monteiro Neto (PMDB-PE), eleito ontem em Brasília por unanimidade. Participaram da votação os 27 representantes das 27 federações estaduais das indústrias, incluindo o presidente da Firjan, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira.
Segundo ele, o voto foi uma forma de mostrar que a Firjan não tem a intenção de agredir a CNI. Os empresários do Rio acreditam que a mistura partidária prejudica a representatividade da CNI e, por isso, a Firjan não aceitou fazer parte da diretoria.
O deputado Armando Monteiro afirmou que o cargo político não será problema durante sua gestão. Ele se definiu como um empresário que está, circunstancialmente, exercendo um mandato e disse que o fato de o presidente da CNI fazer parte do Legislativo e participar do debate político é uma vantagem para a entidade.
Quanto à questão partidária, Monteiro enfatizou que a CNI não tem partido nem candidato à Presidência da República. "Vamos interagir com qualquer candidato que vier a ser eleito." A seguir, os principais trechos da entrevista:

Folha - Quais são seus planos para a CNI?
Armando Monteiro Neto -
O nosso programa de gestão busca a modernização administrativa para melhorar o desempenho gerencial do sistema CNI. O nosso objetivo é o de profissionalizar o sistema. A diretoria se encarregará de definir as diretrizes e a estratégia da CNI. A CNI terá de exercer um papel político muito ativo nos próximos anos. Isso significa ter uma articulação muito estreita com o Poder Legislativo e com o Poder Executivo. Hoje, se percebe uma certa fragmentação no ambiente empresarial, eu diria até uma dispersão. É preciso que tenhamos uma agenda comum em questões essenciais. Felizmente, agora o Brasil começa a entender que política industrial não é uma coisa ultrapassada. A CNI deve ter uma posição de protagonista nesse processo, sem querer exercer o monopólio. Nós precisamos completar o ciclo de reformas, como a tributária e a previdenciária. A reforma política também é vista hoje como prioridade, e não mais como uma coisa adjetiva. A agenda é extensa. A CNI é percebida como uma entidade de caráter nacional e devemos utilizar isso.

Folha - Pela primeira vez, nesta eleição da CNI, quase ocorreu uma disputa de duas ou três chapas. As federações do Sudeste defendiam a alternância do poder. Seu sucessor pode ser do Sudeste?
Monteiro -
Claro que pode ser um nome do Sudeste. Qualquer companheiro de qualquer região pode presidir a CNI. O que é necessário é que esse companheiro tenha capacidade de reunir a maioria dos votos do sistema.

Folha - Mas o Norte e o Nordeste têm a maioria dos votos?
Monteiro -
Sim, o Norte e o Nordeste somam 15 dos 27 votos, mas a questão é muito mais de o candidato reunir o apoio das regiões com uma proposta para o país.

Folha - A CNI irá apoiar algum candidato à Presidência?
Monteiro -
A CNI não vai apoiar nenhuma candidatura. Seria absolutamente equivocado. É claro que os companheiros do sistema têm suas preferências, mas a CNI tem que manter uma posição de neutralidade. Meu voto, por exemplo, é do Serra, mas essa é a uma posição pessoal.

Folha - Como o sr. vê o crescimento da candidatura de Ciro Gomes?
Monteiro -
O que a gente percebe é que não há nada muito cristalizado. A única coisa garantida é o Lula no segundo turno. Agora, quem irá para o segundo turno com ele, só no final de agosto ou no começo de setembro teremos uma visão mais clara do processo.

Folha - O sr. vê chances de Ciro Gomes ir para o segundo turno?
Monteiro -
O Ciro tem uma faixa do eleitorado que quer uma mudança de rumo, mas não se alinha ao PT. Já o Serra é um candidato forte até em razão dos apoios que ele costurou. O Serra está no páreo também.

Folha - Qual a sua visão sobre os anos FHC? Que nota dá ao governo?
Monteiro -
Deve ser dado um crédito importante a ele por ter conseguido uma estabilidade relativa da economia, apesar de ela ter significado custos maiores do que o previsível. Houve um equívoco no manejo da política cambial. O governo atrasou demais a mudança daquela política cambial para a atual, que é a correta. Mas realizou reformas importantes. Hoje temos um regime fiscal mais disciplinado. Fica, no entanto, a frustração de não ter feito a reforma tributária. Se tivesse que dar uma nota, eu daria 6,5.

Folha - Como está a situação das empresas da sua família? As dificuldades já acabaram?
Monteiro -
Nossas empresas tiveram dificuldades e nunca escondemos isso. O Banco Mercantil de Pernambuco, onde nunca tive função executiva e que está sob intervenção, recebeu assistência do Proer e tem patrimônio líquido positivo. A massa falida está sendo liquidada e o banco vai pagar os credores. Já as outras empresas do grupo estão no Refis e vão superar as dificuldades. O importante é exercer a presidência da CNI e buscar a aglutinação empresarial em torno da entidade.


Colaborou a Sucursal de Brasília

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