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São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 2003

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Espanhóis pedem calma a brasileiros

DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI

O empresariado espanhol cobriu de elogios ontem a política econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva e deu um conselho a seus colegas brasileiros inquietos com a falta de crescimento econômico:
"No hay que ponerse nerviosos", diz Francisco Luzón, responsável pela América Latina no BSCH (Banco Santander Central Hispano), que comprou o Banespa e não pode estar nervoso porque o setor financeiro no Brasil tem lucros portentosos.
O conselho de Luzón ampara-se na sua própria experiência de alto funcionário no início do governo Felipe González (social-democrata) em 1982. Na época, havia na Espanha uma inquietação parecida com a que cercou a eleição de Lula em 2002, porque os socialistas ainda não haviam chegado ao poder para demonstrar a reciclagem que já haviam feito na teoria.
Mas González presidiu não só o ingresso da Espanha na Comunidade Européia como um período de forte crescimento econômico.
Em todo o caso, o funcionário do Santander admite que o conselho para não ficar nervoso não é fácil de ser seguido, na medida em que ele também dá 2003 como virtualmente perdido.
"Mas 2004 será outra história, se as reformas saírem sem grandes mudanças, como o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) nos disse que sairão", afirma Luzón.
Nesse cenário, o representante do Santander aposta em queda do risco-país para cerca de 500 pontos (ou seja, os juros para o Brasil captar dinheiro fora seriam apenas cinco pontos percentuais acima dos norte-americanos) e o investimento direto retornaria.

Aguentar 2003
Luzón não está sozinho no seu otimismo. Guillermo de la Dehesa, que também foi alto funcionário no governo socialista espanhol, agora na Goldman Sachs, diz que o governo Lula está tendo desempenho melhor do que o esperado. Como Luzón, ele aconselha calmantes aos empresários brasileiros agoniados com a falta de crescimento: "É preciso aguentar este ano".
A confiança do empresariado ficou nítida no discurso com que José María Cuevas, presidente há muitos anos da Ceoe (Confederação Espanhola de Organizações Empresariais), saudou o presidente Lula ao encerrar o Encontro Empresarial Brasil/Espanha.
"O senhor trouxe, presidente, um ar fresco de renovação e esperança a um continente que, em vários de seus países, estava atravessando uma crise institucional com graves consequências econômicas e sociais. Um continente em busca de um modelo de desenvolvimento capaz de responder às aspirações legítimas de suas sociedades."
Lula, em seu discurso, tocou nos temas que têm sido recorrentes tanto em suas falas no Brasil como na viagem a Portugal, ao Reino Unido e à Espanha. Disse que os empresários que acreditaram no Brasil "têm, neste momento, muito mais motivos para continuar acreditando".
Depois, pediu investimentos em infra-estrutura na América do Sul, para desenvolver a região, pois "não é possível que uma área de 220 milhões de habitantes e uma economia de US$ 1 trilhão sejam conhecidos por sua pobreza, por suas crianças de rua, desemprego e violência". (CR)


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