São Paulo, quinta-feira, 16 de agosto de 2007

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Com aumento da crise, cresce saída de estrangeiros do país

Com fuga, Bovespa, que caiu 15,1% desde 23 de julho, perde força para se recuperar

Investidor de fora mantinha dinheiro no país até o início da semana; Brasil perdeu US$ 201 mi em recursos de estrangeiros no mês, diz BC

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Investidores estrangeiros relutavam até o início desta semana em sair do Brasil, preferindo muitas vezes deixar o dinheiro parado em caixa à espera de uma recuperação na Bolsa, mas não tiveram escolha devido à necessidade de honrar pedidos de resgates no exterior.
A mudança agrava a crise para a Bolsa brasileira, que, sem o estrangeiro, perde força para eventual recuperação, mesmo que o preço de ações fique baixo ou diminua a turbulência.
De fato, os preços das ações brasileiras estão se tornando mais atraentes. A Bolsa brasileira foi uma das que mais perderam desde o dia 23 de julho -queda de 15,1% até ontem. O real , por sua vez, foi uma das moedas de emergentes que mais perderam valor -a alta do dólar em relação à divisa brasileira foi de 10,2% desde 23 de julho.
A virada aconteceu na última terça-feira, quando o volume de negócios com o câmbio duplicou na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros) -pulou de US$ 12,1 bilhões para US$ 19,9 bilhões- e no mercado à vista -de US$ 2,2 bilhões para US$ 3,1 bilhões.
Até então, a crise na Bolsa pouco tinha mexido no câmbio. Mesmo com a turbulência, o fluxo de capital externo para o Brasil se manteve positivo em US$ 3,376 bilhões nas primeiras duas semanas de agosto, segundo o Banco Central, graças à balança comercial.
As chamadas transações financeiras, que incluem as saídas de dinheiro, ficaram com saldo negativo de US$ 201 milhões. A Bovespa perdeu US$ 1,264 bilhão em investimento de estrangeiros no mês até o dia 13, antes dos piores momentos do mercado.
Na corretora do HSBC, um dos maiores autorizados a trabalhar com estrangeiros, mais da metade dos recursos de não-residentes que deixaram a Bolsa permanecia no Brasil durante a maior parte da turbulência. Os recursos ficaram em fundos de curto prazo, CDBs, derivativos e títulos do governo -que têm benefício fiscal.
O mesmo aconteceu nas corretoras do ABN Real e do Itaú, que herdou a carteira de estrangeiros do BankBoston, que lidera com o Citibank as operações de não-residentes na Bovespa. "Aumentou a saída de estrangeiros nesta semana. A movimentação mais rápida é dos hedge funds [grandes fundos estrangeiros]. Cada dia que passa, esses fundos têm mais resgates. É uma corrida que gera toda uma incerteza", disse Roberto Nishikawa, presidente da Itaú Corretora.
"Está muito claro que nem todo dinheiro de estrangeiro que sai da Bolsa é repatriado. Tem cliente que compra fundo mesmo pagando imposto. Há cliente que vende ações e deixa o dinheiro parado", disse Flavio Zullo, do HSBC.
Levantamento da Merrill Lynch com 181 gestores de fundos no mundo, divulgado ontem, mostra que os investidores ainda acreditam nas ações de países emergentes como o Brasil. "Os investidores parecem ver nesta turbulência uma oportunidade para comprar ações", afirmou o consultor David Bowers, no relatório.


Colaborou a Sucursal de Brasília

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