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SEMINÁRIO
Declaração é do economista inglês John Williamson, criador da expressão Consenso de Washington, que está no Rio
"Globalização é inexorável, pois até protestos são globais"
DA SUCURSAL DO RIO
O economista inglês John Williamson, autor da expressão
"consenso de Washington" -referência ao receituário macroeconômico que deu sustentação ao
chamado modelo neoliberal-,
disse ontem que a globalização é
tão bem-sucedida que até os protestos contra estão globalizados.
"A globalização é um fato. Até
os protestos contra ela estão globalizados", afirmou. Williamson
disse ter chegado a essa conclusão
ao ler um cartaz empunhado por
um manifestante, em Washington, que dizia: "Protesto mundial
contra a globalização".
A frase do economista (que é
pesquisador do Institute for International Economics, na capital
norte-americana) foi em resposta
à pergunta de um jornalista sobre
como ele via os protestos em vários países contra a globalização,
uma das consequências da receita
do "consenso de Washington".
Ele avaliou ainda que os protestos
não chegam a representar um
movimento de massas. "Nada
igual ao movimento dos anos 60
contra a guerra do Vietnã."
Williamson disse que é importante que os erros sejam corrigidos, mas acrescentou que "a globalização, no geral, é um movimento benéfico".
Ao ser questionado sobre as dificuldades que o Brasil segue enfrentando em áreas como saúde e
educação, após uma década de
aplicação do receituário do "consenso de Washington", ele afirmou que "as condições ainda são
inadequadas, mas são melhores
do que eram há dez anos".
Também nessa resposta, Williamson mostrou ser um bom fazedor de frases. "Os antiglobalizantes sempre fazem anedotas,
em vez de fazerem estatísticas",
afirmou.
Ele concordou que a distribuição de renda no Brasil "não está
satisfatória", mas também ressalvou que, embora os ricos estejam
ganhando bem mais que os pobres, os pobres também estão ganhando.
O economista disse que a alta do
preço do petróleo não vai gerar
uma crise mundial, mas afirmou
que, "sem dúvida, vai piorar a situação global".
Armínio cético
O presidente do BC (Banco
Central), Armínio Fraga Neto,
disse ontem que é "muito cético"
em relação à capacidade de se evitar crises na economia dos países.
"Sou muito cético com relação à
nossa capacidade de evitar crises
por um motivo muito simples:
quanto mais bem-sucedidos formos em reduzir a volatilidade do
sistema, mais os agentes (as empresas e pessoas) vão correr riscos", afirmou, em palestra no seminário "Internacionalização e
Desenvolvimento".
Isso significa, segundo o presidente do BC, que quanto mais a
economia estiver ajustada, mais
os chamados agentes econômicos
vão buscar recursos para seus
projetos, ou "se alavancar", no
jargão economês.
As palavras de Armínio foram
ditas ao comentar uma palestra
do economista inglês John Williamson, na qual este falou sobre
a necessidade de se dar continuidade ao processo de implementação de medidas de prevenção de
crises que foram definidas por organismos internacionais após as
crises da Ásia e da Rússia.
No início da sua palestra, Fraga
ressalvou que iria falar mais em
termos acadêmicos que como homem do governo. "Como estou
governo e não sou governo, vou
caminhar um pouco em uma linha mais acadêmica", disse o presidente do BC.
A referência de Fraga foi para se
esquivar de uma provocação do
ex-presidente do BC Gustavo
Franco, também palestrante do
seminário, que na sua intervenção disse que deixaria os assuntos
de governo para serem tratados
pelo ministro Pedro Malan (Fazenda) e por Fraga, que eram "do
governo".
Não chegou a ocorrer o esperado embate entre Franco e Fraga
sobre regime cambial brasileiro.
Franco, criador da "âncora cambial" que sustentou a política econômica brasileira de julho de 1994
a janeiro de 1999, foi conciliador,
sem comprometer sua política.
Ele disse que, embora apressada, a transição da âncora para o
regime de câmbio flutuante, consolidado por Fraga, acabaria
ocorrendo.
Franco disse que o câmbio flexível "tem inegáveis vantagens porque permite lidar melhor com crises", mas acrescentou que não se
pode deixar de lado a idéia da âncora.
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