São Paulo, sábado, 16 de setembro de 2000

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SEMINÁRIO
Declaração é do economista inglês John Williamson, criador da expressão Consenso de Washington, que está no Rio
"Globalização é inexorável, pois até protestos são globais"

DA SUCURSAL DO RIO

O economista inglês John Williamson, autor da expressão "consenso de Washington" -referência ao receituário macroeconômico que deu sustentação ao chamado modelo neoliberal-, disse ontem que a globalização é tão bem-sucedida que até os protestos contra estão globalizados.
"A globalização é um fato. Até os protestos contra ela estão globalizados", afirmou. Williamson disse ter chegado a essa conclusão ao ler um cartaz empunhado por um manifestante, em Washington, que dizia: "Protesto mundial contra a globalização".
A frase do economista (que é pesquisador do Institute for International Economics, na capital norte-americana) foi em resposta à pergunta de um jornalista sobre como ele via os protestos em vários países contra a globalização, uma das consequências da receita do "consenso de Washington". Ele avaliou ainda que os protestos não chegam a representar um movimento de massas. "Nada igual ao movimento dos anos 60 contra a guerra do Vietnã."
Williamson disse que é importante que os erros sejam corrigidos, mas acrescentou que "a globalização, no geral, é um movimento benéfico".
Ao ser questionado sobre as dificuldades que o Brasil segue enfrentando em áreas como saúde e educação, após uma década de aplicação do receituário do "consenso de Washington", ele afirmou que "as condições ainda são inadequadas, mas são melhores do que eram há dez anos".
Também nessa resposta, Williamson mostrou ser um bom fazedor de frases. "Os antiglobalizantes sempre fazem anedotas, em vez de fazerem estatísticas", afirmou.
Ele concordou que a distribuição de renda no Brasil "não está satisfatória", mas também ressalvou que, embora os ricos estejam ganhando bem mais que os pobres, os pobres também estão ganhando.
O economista disse que a alta do preço do petróleo não vai gerar uma crise mundial, mas afirmou que, "sem dúvida, vai piorar a situação global".

Armínio cético
O presidente do BC (Banco Central), Armínio Fraga Neto, disse ontem que é "muito cético" em relação à capacidade de se evitar crises na economia dos países.
"Sou muito cético com relação à nossa capacidade de evitar crises por um motivo muito simples: quanto mais bem-sucedidos formos em reduzir a volatilidade do sistema, mais os agentes (as empresas e pessoas) vão correr riscos", afirmou, em palestra no seminário "Internacionalização e Desenvolvimento".
Isso significa, segundo o presidente do BC, que quanto mais a economia estiver ajustada, mais os chamados agentes econômicos vão buscar recursos para seus projetos, ou "se alavancar", no jargão economês.
As palavras de Armínio foram ditas ao comentar uma palestra do economista inglês John Williamson, na qual este falou sobre a necessidade de se dar continuidade ao processo de implementação de medidas de prevenção de crises que foram definidas por organismos internacionais após as crises da Ásia e da Rússia.
No início da sua palestra, Fraga ressalvou que iria falar mais em termos acadêmicos que como homem do governo. "Como estou governo e não sou governo, vou caminhar um pouco em uma linha mais acadêmica", disse o presidente do BC.
A referência de Fraga foi para se esquivar de uma provocação do ex-presidente do BC Gustavo Franco, também palestrante do seminário, que na sua intervenção disse que deixaria os assuntos de governo para serem tratados pelo ministro Pedro Malan (Fazenda) e por Fraga, que eram "do governo".
Não chegou a ocorrer o esperado embate entre Franco e Fraga sobre regime cambial brasileiro. Franco, criador da "âncora cambial" que sustentou a política econômica brasileira de julho de 1994 a janeiro de 1999, foi conciliador, sem comprometer sua política.
Ele disse que, embora apressada, a transição da âncora para o regime de câmbio flutuante, consolidado por Fraga, acabaria ocorrendo.
Franco disse que o câmbio flexível "tem inegáveis vantagens porque permite lidar melhor com crises", mas acrescentou que não se pode deixar de lado a idéia da âncora.



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