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FMI cobra do Brasil Orçamento "flexível"
Gasto obrigatório, como saúde e educação, deveria diminuir para garantir superávit e investimento, diz diretor do Fundo
Rodrigo de Rato critica também a Argentina por fraqueza no combate à inflação e por mecanismos de controle de preços
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A CINGAPURA
O diretor-gerente do FMI
(Fundo Monetário Internacional), o espanhol Rodrigo de Rato, cobrou ontem do Brasil
mais "flexibilidade" no Orçamento federal e a desvinculação entre receitas e despesas
hoje obrigatórias, como gastos
com saúde e educação.
Para o FMI, o Orçamento
precisa ser menos "rígido" para
que o país possa ampliar gastos
sociais e em infra-estrutura
sem afetar as metas de superávit fiscal -a economia que é feita pelo governo para pagar os
juros da dívida pública.
Hoje, o Brasil se compromete
a economizar o equivalente a
4,25% do PIB para pagar sua dívida. "Os esforços que o Brasil
vem adotando para reduzir a
dívida pública são importantes.
Mas ainda há desafios nesse
campo, como manter um elevado nível de superávit primário
e, ao mesmo tempo, atender às
necessidades na infra-estrutura e nos gastos sociais", disse
Rato. "Um dos grandes desafios
da política de Orçamento do
Brasil é a rigidez. O país precisa
de uma política mais flexível,
com menos gastos vinculados
em termos de destinação de receitas. Esse é o elemento-chave
para modernizar a estrutura
orçamentária."
Um dia antes, o diretor-adjunto do Departamento de Pesquisas do FMI, Charles
Collyns, havia dito que o Brasil
estava aumentando muito os
gastos públicos não dirigidos à
infra-estrutura e à área social.
E que isso poderia comprometer a meta de superávit.
A "flexibilização" do Orçamento, que precisaria de um
projeto de mudança constitucional, é uma antiga cobrança
do FMI. Até aqui, o país vem
contornando essa rigidez orçamentária com a chamada DRU
(Desvinculação de Receitas da
União), que permite ao governo
federal ficar com mais recursos
dos tributos que deveriam ser
divididos com os Estados e municípios. Criada em 1994 e
prorrogada até 2007, a DRU
permite o remanejamento de
até 20% das receitas da União
antes vinculadas.
O setor público federal investe hoje em infra-estrututra no
Brasil cerca de 2% do PIB, incluindo as empresas estatais.
O montante diminui a cada
ano por causa de outras despesas correntes, inclusive sociais,
e é considerado insuficiente
para puxar os investimentos do
setor privado -motor do crescimento sustentado.
No total, setores público e
privado no Brasil investem cerca de 20% do PIB. A China atingiu este ano o nível de 30%. Segundo previsões do Fundo, o
Brasil deve crescer 3,6% neste
ano. A China, 10%.
Rato elogiou os programas
sociais adotados no Brasil. "A
redução da pobreza no Brasil
nos últimos anos está avançando e é um bom exemplo, que
não é o único na América Latina. Estamos encorajados com o
que foi aprendido."
Rato também estendeu suas
cobranças à vizinha Argentina.
Afirmou que o governo argentino está sendo leniente com as
pressões inflacionárias e que o
país precisa adotar uma política "menos acomodativa" (traduzindo, aumentar os juros e o
superávit fiscal). Ele criticou
ainda as iniciativa de controle
de preços -"só tendem a causar distorções".
Segundo as previsões do
FMI, a Argentina deve crescer
8% neste ano e 6% em 2007
-depois de 9% e 9,2% em 2004
e 2005, respectivamente.
A inflação, que fechou em
4,4% em 2004, no entanto, deve ultrapassar os 12% este ano.
Rato disse também que durante a atual reunião conjunta
com o Banco Mundial, pretende atacar os atuais desequilíbrios globais.
Especificamente, ele citou a
China e a sua moeda, o yuan,
considerada desvalorizada "artificialmente" e responsável
em grande parte pelo gigantesco déficit em conta corrente
dos EUA, que deve bater em 7%
do PIB em 2007, um recorde
absoluto.
"A decisão que a China já tomou para mudar seu câmbio foi
acertada, mas precisa ser implementada", disse Rato.
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