São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

Melhor, mas sem oba-oba


Desigualdade cai, mas mais devagar; faltam inovações estruturais e políticas para melhorar a renda do trabalho

DESDE O ANO passado, a redução da desigualdade de renda suscita certa euforia no governo Lula e entre alguns economistas do Ipea que o próprio governo Lula e mais ainda o petismo chamam de "neoliberais". Tanto os consideram "neoliberais" que Lula e cia. promovem uma troca de guarda no Ipea, o ótimo instituto oficial de pesquisas econômicas, nomeando para postos de direção economistas ditos "desenvolvimentistas".
Foi comemorada demais a redução da desigualdade da renda familiar per capita entre 2001 e 2004, cerca de 4%. O período foi, decerto, marcado por um relativo sucesso na diminuição da extravagante, enorme e mundialmente recorde injustiça brasileira (pior que a de 95% do planeta). De resto, como é sabido e polêmico, os indicadores disponíveis não captam bem as rendas de aplicações financeiras, o que distorce a medida da desigualdade.
Os primeiros dados da nova edição da Pnad, o balanço social anual do IBGE, divulgada na sexta-feira, ainda não permitem cálculos mais detalhados. Mas o ritmo de redução de desigualdade da renda dos domicílios parece cair -se é para tomar um período arbitrário (como 2001 a 2004), considerem-se, por exemplo, triênios ou quadriênios depois de 2001. A fatia da renda dos 30% mais pobres ficou na mesma de 2005 para 2006. A desigualdade cresceu um tico no Nordeste. Sim, a renda da metade mais pobre dos domicílios do país cresceu 23% sob Lula 1.
Mas a renda média dessas casas era de R$ 557 em 2006. Considere-se que a média de pessoas nesses domicílios seja de 3,4, a média nacional: a renda domiciliar per capita daria então uns R$ 164 mensais. Em 2006, os 50% mais pobres ficaram com 16,1% do total da renda. Os 10% mais ricos, com 44,9%. Já foi pior.
Em 1996, as fatias eram respectivamente de 13% e 47,9%. Animador? Há mais progressos. O desemprego caiu para 8,5%, contra 9,4% da média dos anos que vão de 1999, o da ruína de FHC, a 2005. Cresce a formalização do trabalho. Mas, mesmo no ritmo do governo Lula, melhor que o da última década, vamos levar 20 anos para fazer com que 80% da força de trabalho tenha proteção previdenciária, ora em 50%.
Mas parece que a injustiça ainda vem sendo amainada devido à normalização econômica iniciada em meados da década de 90, reforçada pelos últimos quatro anos de bonança mundial, ao crescimento econômico mais regular, à inflação baixa e por haver mais gente na escola.
A interiorização do progresso econômico induzido pela abertura da economia e por reformas "neoliberais" parece ter distribuído alguma renda. O sucesso do agronegócio e empresas que saíram das metrópoles elevaram os salários do interior. Não houve grande novidade institucional desde os anos 90. A contribuição meritória e bem-sucedida do Bolsa Família e o aumento do salário mínimo ajudam, mas não alteram o cerne da injustiça. Mais importante é acelerar o rendimento do trabalho, o do pobre em especial.
Mas quede as políticas que atacam os tributos "antipobres", que inovam a estrutura econômica, criam novos setores, reduzem as diferenças regionais, que espraiam empresas que aumentam a produtividade geral pelo país e, assim, a renda?

vinit@uol.com.br

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