São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2007

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Juro pode ir a 10% nos EUA, diz Greenspan

Em novo livro, ele diz que Fed deve sofrer pressões para deixar taxa menor, apesar de risco de inflação

DA REDAÇÃO

Presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) de 1987 a 2006, Alan Greenspan, 81, diz em seu livro "A Era da Turbulência", que chega amanhã às livrarias, que, em uma tentativa de conter a inflação, a taxa de juros nos EUA pode voltar à casa dos dois dígitos nos próximos anos -o que não aconteceu quando ele comandou o organismo.
Ele diz que, nos próximos anos, com o abrandamento da globalização, o aumento da inflação ficará cada mais difícil de ser contido e menciona como exemplo desse processo a recente alta dos produtos importados da China.
Nesse cenário, diz, o Fomc (o comitê de política monetária do BC dos EUA) conseguiria manter a inflação entre 1% e 2%, mas isso exigiria taxa de juros superior a dois dígitos, em um nível "não visto desde os dias de Paul Volcker [que comandou o Fed de 1979 a 1987]".
No entanto, ele afirma que o organismo pode sofrer pressões do Congresso e da Casa Branca para deixar os juros menores, apesar do risco de elevação da inflação. "Temo que meus sucessores no Fomc, na medida em que se empenhem para garantir a estabilidade dos preços nos próximos 25 anos, vão enfrentar uma resistência populista do Congresso, se não da Casa Branca", escreveu, segundo cópia obtida pelo "Wall Street Journal".
Caso o Fed ceda a essas pressões, Greenspan prevê que a inflação americana em 2030 possa chegar a uma média de 4% a 5% -atualmente, o índice está um pouco acima de 2% ao ano.
Os títulos de dez anos do Tesouro americano (considerados os mais seguros do mundo) também seriam afetados, diz o ex-presidente do banco central dos Estados Unidos. Os rendimentos, hoje em torno de 5%, chegariam a "pelo menos" 8%, com a possibilidade de "subir significativamente durante curtos períodos".
Isso, afirma, levaria à estagnação dos ganhos no mercado acionário e a lucros muito menores no setor imobiliário.
Sobre Ben Bernanke, o atual presidente do Fed, Greenspan, que atualmente trabalha como consultor de várias instituições financeiras, como o Deutsche Bank, apenas dedica a legenda de uma foto: "Senti-me muito confortável em deixar o cargo nas mãos de um sucessor tão experimentado".
Na semana passada, em entrevista a uma rede de TV americana, ele afirmou que Bernanke estava fazendo um "excelente" trabalho no BC americano. Questionado se, para conter a turbulência atual nos mercados financeiros, teria agido de modo mais agressivo que seu sucessor, cortando os juros básicos, respondeu "não ter certeza se faria algo diferente".

Republicano
Republicano "a vida toda", Greenspan escreveu que seu partido "mereceu perder" as eleições parlamentares do ano passado. Para ele, o governo de George W. Bush estava tão envolvido com operações políticas que deu pouca atenção para a disciplina fiscal.
Segundo ele, Bush era movido pela ideologia e pelo desejo de cumprir as promessas da campanha presidencial de 2000 e era desinteressado pelos efeitos da política econômica do seu governo.
Já o antecessor Bill Clinton (1993-2001) é visto como "um apaixonado por informação", com "um foco disciplinado e consistente no crescimento econômico de longo prazo". Porém, diz ter ficado "desapontado e triste" com a relação do ex-presidente com a estagiária Monica Lewinsky, que quase o fez perder o mandato.

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