São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2007

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JORGE GERDAU JOHANNPETER

Reflexões sobre a internacionalização


O primeiro passo para aumentar a competitividade do Brasil no mercado global exige o esforço da humildade

A PRODUÇÃO de flores nas margens do rio São Francisco ou uma cirurgia parece ter pouca relação com o crescimento da globalização. Entretanto pequenos empreendedores do Nordeste estão transformando a matriz econômica de municípios ao exportar flores tropicais. Na área médica, vemos o aumento da concorrência mundial em determinadas intervenções, movido pelo duo preço e qualidade de serviços. Apesar das barreiras comerciais e de outros aspectos limitantes da internacionalização, cada vez é mais difícil encontrar um setor no país que não seja influenciado por movimentos internacionais.
Gostaria, então, de convidar o leitor para uma reflexão sobre o impacto da globalização na vida das pessoas e das empresas. Esse fenômeno teve início com a evolução da área logística, que resultou em menores custos de transporte, estimulando o comércio. Logo depois, veio a globalização de processos produtivos, decorrente do maior acesso ao conhecimento e às novas tecnologias.
Hoje em dia, também vivemos o fenômeno da globalização da força de trabalho, o que deverá crescer nos próximos anos. Isso leva a expressivas mudanças comportamentais. À medida que as organizações precisam ter patamares internacionais de eficiência, nos quais o custo é um fator primordial, passa-se a requerer profissionais mais capacitados, com níveis de educação diferenciados.
Diante desse desafio, muitas empresas também passaram a adotar uma atitude diferente em relação às demais organizações. Isso porque a globalização ampliou a possibilidade de empresas brasileiras compararem-se com outras -os chamados benchmarks internacionais- e aplicarem as melhores práticas em seu dia-a-dia. Esse comportamento, aos poucos, passa a integrar-se aos governos, cuja ineficiência na gestão de recursos impacta diretamente na capacidade de competir das companhias brasileiras.
Entretanto o impacto da globalização, pela sua extrema complexidade, não é devidamente percebido e debatido pelas lideranças políticas, empresariais, acadêmicas e sindicais. Conseqüentemente, há uma redução das oportunidades de inserção de um número maior de empresas no mercado global e de inclusão de novas gerações no mercado de trabalho. Isso é reflexo de uma soma de fatores: instituições ainda em fase de consolidação, carga tributária elevada, custos com a burocracia excessiva, baixos níveis de educação e ineficiência da infra-estrutura logística.
O primeiro passo para aumentar a competitividade do Brasil no mercado global requer um esforço individual de cada um de nós: humildade. É isso mesmo. É preciso ter humildade para, antes de tudo, avaliar suas próprias práticas e enxergar os pontos a serem aprimorados nesse ambiente mutante, internacionalizado e cada vez mais complexo.


JORGE GERDAU JOHANNPETER, 70, é presidente do conselho de administração do grupo Gerdau, presidente fundador do Movimento Brasil Competitivo (MBC) e coordenador da Ação Empresarial. jorge.gerdau gerdau.com.br

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