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Comércio dobra, e empresas vivenciam "febre de África"
Corrente de comércio com Brasil vai de US$ 3,5 bi para US$ 15,6 bi em nove anos
Recursos naturais em
abundância e possibilidade
de expansão de mercados
fazem da região prioridade
também para China e Índia
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
Símbolo de retomada de raízes culturais ou de reparação
do passado escravagista brasileiro, a África é associada com
mais freqüência à miséria do
que ao dinheiro. Mas essa imagem começa a fazer parte do
passado tanto quanto o mercado de escravos do Benin.
Empresas brasileiras vivem
uma "febre" de África, ampliando parcerias econômicas
num dos mais rentáveis, promissores e concorridos espaços
do mercado global. O embate é
ferrenho e o Brasil tem de enfrentar China e Índia na disputa por esse território.
A corrente de comércio (soma de exportações e importações) do Brasil com a África
passou de US$ 3,5 bilhões em
1997 para US$ 15,6 bilhões no
ano passado. Grandes empresas brasileiras -como Petrobras, Vale do Rio Doce e construtoras- expandem suas operações no continente.
Para o presidente da Vale,
Roger Agnelli, a África é palco
de uma disputa em escala global por acesso a matérias-primas. "Não participar desses
movimentos estratégicos pode
colocar as empresas brasileiras,
particularmente as já muito
competitivas de setores extrativos e de serviços, à mercê da
desestabilização de suas condições de inserção competitiva
no mercado mundial."
A "redescoberta" da África
por empresários brasileiros
não se restringe aos grandes
projetos. O continente desponta como opção para empresas
exportadoras de áreas diversas
como vestuário, calçados e alimentos. "Estamos vivendo
uma febre de África. Ela já representa 40% das nossas exportações", diz Luis Carlos Pereira, gerente de exportações
do grupo Mabel.
A ofensiva das empresas nacionais tenta recuperar espaço
que já foi do Brasil na década de
1970 e que foi abandonado nos
anos seguintes. "Reconquistar
espaço é sempre mais difícil.
Todos os países estão voltando
as atenções para a África", diz o
historiador e diplomata Alberto da Costa e Silva.
Quatro fatores justificam o
aumento do interesse pelo continente: a garantia de suprimento de energia, com reservas
de petróleo e gás; a oferta de recursos minerais, como carvão;
a possibilidade de criação de
um novo mercado consumidor;
e a estratégia diplomática.
As estimativas do FMI apontam crescimento de 6,2% para
a África neste ano, confirmando o acerto dos investimentos
para ela direcionados por China e Índia. Angola projeta expansão de 19% neste ano.
Dados da Unctad (órgão de
comércio e desenvolvimento
da ONU) indicam que o estoque de investimento direto chinês no continente passou de
US$ 49,2 milhões em 1990 para
US$ 1,595 bilhão em 2005. Somente no primeiro semestre
deste ano, foram investidos
US$ 480 milhões, mais do que
em todo o ano passado.
Biocombustíveis
O Brasil enxerga a região como a nova fronteira para a produção de biocombustíveis. O
interesse é recíproco. A Nigéria
compra álcool da Petrobras,
mas quer produzir.
Membros do governo de Moçambique procuraram o
BNDES para buscar informações sobre a importação de usinas de álcool. O banco é o principal financiador das exportações de bens e serviços para
obras de grande porte na África. Os 29 projetos em carteira
somam US$ 742 milhões.
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