São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2007

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Comércio dobra, e empresas vivenciam "febre de África"

Corrente de comércio com Brasil vai de US$ 3,5 bi para US$ 15,6 bi em nove anos

Recursos naturais em abundância e possibilidade de expansão de mercados fazem da região prioridade também para China e Índia

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

Símbolo de retomada de raízes culturais ou de reparação do passado escravagista brasileiro, a África é associada com mais freqüência à miséria do que ao dinheiro. Mas essa imagem começa a fazer parte do passado tanto quanto o mercado de escravos do Benin.
Empresas brasileiras vivem uma "febre" de África, ampliando parcerias econômicas num dos mais rentáveis, promissores e concorridos espaços do mercado global. O embate é ferrenho e o Brasil tem de enfrentar China e Índia na disputa por esse território.
A corrente de comércio (soma de exportações e importações) do Brasil com a África passou de US$ 3,5 bilhões em 1997 para US$ 15,6 bilhões no ano passado. Grandes empresas brasileiras -como Petrobras, Vale do Rio Doce e construtoras- expandem suas operações no continente.
Para o presidente da Vale, Roger Agnelli, a África é palco de uma disputa em escala global por acesso a matérias-primas. "Não participar desses movimentos estratégicos pode colocar as empresas brasileiras, particularmente as já muito competitivas de setores extrativos e de serviços, à mercê da desestabilização de suas condições de inserção competitiva no mercado mundial."
A "redescoberta" da África por empresários brasileiros não se restringe aos grandes projetos. O continente desponta como opção para empresas exportadoras de áreas diversas como vestuário, calçados e alimentos. "Estamos vivendo uma febre de África. Ela já representa 40% das nossas exportações", diz Luis Carlos Pereira, gerente de exportações do grupo Mabel.
A ofensiva das empresas nacionais tenta recuperar espaço que já foi do Brasil na década de 1970 e que foi abandonado nos anos seguintes. "Reconquistar espaço é sempre mais difícil. Todos os países estão voltando as atenções para a África", diz o historiador e diplomata Alberto da Costa e Silva.
Quatro fatores justificam o aumento do interesse pelo continente: a garantia de suprimento de energia, com reservas de petróleo e gás; a oferta de recursos minerais, como carvão; a possibilidade de criação de um novo mercado consumidor; e a estratégia diplomática.
As estimativas do FMI apontam crescimento de 6,2% para a África neste ano, confirmando o acerto dos investimentos para ela direcionados por China e Índia. Angola projeta expansão de 19% neste ano.
Dados da Unctad (órgão de comércio e desenvolvimento da ONU) indicam que o estoque de investimento direto chinês no continente passou de US$ 49,2 milhões em 1990 para US$ 1,595 bilhão em 2005. Somente no primeiro semestre deste ano, foram investidos US$ 480 milhões, mais do que em todo o ano passado.

Biocombustíveis
O Brasil enxerga a região como a nova fronteira para a produção de biocombustíveis. O interesse é recíproco. A Nigéria compra álcool da Petrobras, mas quer produzir.
Membros do governo de Moçambique procuraram o BNDES para buscar informações sobre a importação de usinas de álcool. O banco é o principal financiador das exportações de bens e serviços para obras de grande porte na África. Os 29 projetos em carteira somam US$ 742 milhões.

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