São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2007

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Petrobras e Vale entram em corrida por reservas

África ganha destaque em processo de internacionalização das empresas

Petrobras prevê investir em Angola e na Nigéria, em busca de petróleo; Vale pretende construir terminal para exportação de carvão

Obed Zilwa - 19.dez.05/Associated Press
Banhistas em praia de Luanda, Angola; país receberá investimentos da Petrobras com o objetivo de elevar produção de petróleo


DA SUCURSAL DO RIO

O potencial de descoberta de novas reservas de petróleo e de minério atraiu Petrobras e Vale do Rio Doce para o continente africano. As duas empresas ressaltam que a África vai ganhar destaque nos seus processos de internacionalização nos próximos anos.
A Petrobras já atua na África desde a década de 70, mas vive um processo de intensificação dos investimentos na região. "A empresa está voltando sua atenção para a África", afirma Hércules Silva, presidente da Petrobras Angola.
Segundo ele, a estatal tem hoje produção modesta, da ordem de 3.300 barris de petróleo por dia no país, mas vai receber uma injeção de investimentos para elevar o patamar. O plano da companhia prevê aporte de US$ 900 milhões até 2012.
"O país produz cerca de 1,6 milhão de barris por dia. Angola tem grandes reservas já descobertas, e as empresas de petróleo acreditam que ainda exista grande potencial de reservas de petróleo e de gás natural a descobrir", declarou.
As principais empresas do setor petrolífero estão presentes na África, como Esso, Chevron, Total e BP. Um dos diferenciais africanos é o potencial de grandes reservas.
Como a Petrobras opera em águas profundas e ultraprofundas, um tipo de operação que requer investimentos de grande monta, é necessário que haja perspectiva de descoberta de grandes volumes.
Silva diz que uma das principais dificuldades é encontrar mão-de-obra qualificada. "O país passou por longa guerra civil, que acabou em 2002. Nesse período, em vez de as pessoas estarem na escola, estavam na guerra. Temos tido dificuldade para encontrar geólogos e engenheiros angolanos. Quem tem qualificação já está empregado na indústria do petróleo."
Diante disso, a estatal tem optado por trazer de volta expatriados e por identificar profissionais locais sem experiência e treiná-los no Brasil.
De acordo com Samir Awad, gerente da Área Internacional para Américas, África e Ásia, desde o fim da década de 90, quando a Petrobras intensificou seu processo de internacionalização, já foram investidos mais de US$ 2 bilhões em operações na África.
Somente na Nigéria, onde a estatal pretende começar a produzir cerca de 75 mil barris anuais já em 2008, estão previstos investimentos da ordem de US$ 1,4 bilhão até 2012.
O executivo ressalta que o tempo entre o início do ciclo de exploração e a produção costuma ser maior na África. "As coisas tendem a funcionar de forma mais lenta. Os governos africanos têm uma presença marcante na indústria do petróleo por meio de empresas estatais", declarou.

Dificuldades
O presidente da Vale, Roger Agnelli, concorda que fazer negócios no continente não é tarefa fácil. "A África é marcada por regimes instáveis, conflitos armados e outras formas de violência, problemas sanitários significativos e imensa pobreza. Mas é também uma das poucas fronteiras naturais ainda abertas para a expansão de negócios em setores como petróleo, gás e mineração."
A Vale está presente hoje em Moçambique, Angola, África do Sul e Gabão. Além disso, realiza pesquisas na região do Congo, na Guiné e na Argélia de produtos como minério de ferro, platina, manganês, carvão, bauxita, cobre e níquel.
O maior projeto da mineradora na África é a mina de carvão de Moatize, em Moçambique. Há projetos ainda para a construção de um terminal para exportação de carvão.
Na década de 90, a Vale já havia atuado no estudo dessa mina, mas abandonou o projeto por conta do risco político. Em 2001, decidiu voltar. "Hoje, o cenário político mudou, os regimes se democratizaram e você começa a ter condições para investimentos mais definitivos. A África vai ganhar espaço nas operações da companhia", afirma Tito Martins, diretor de Assuntos Corporativos.
(JANAINA LAGE)

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