São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2007

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Santander anuncia a Lula a compra do banco ABN Amro

Com o negócio, espanhóis assumirão operação do Real no Brasil e se aproximarão do Itaú, a 2ª maior instituição privada do país

Venda do holandês ABN, dono do Real, a consórcio de bancos do qual o grupo da Espanha faz parte deverá ser formalizada até o dia 4

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi informado ontem pela manhã em Madri, na Espanha, de que está fechada a compra do ABN Amro, o banco holandês que, no Brasil, é dono do Banco Real, pelo consórcio de que participa o Santander, principal grupo bancário da Espanha.
Os sócios do Santander na operação são o RBS (Royal Bank of Scotland, do Reino Unido) e o Fortis belga.
A incorporação do Real, no Brasil, aproximará o Santander do banco Itaú, o segundo maior banco privado brasileiro, ambos atrás apenas do Bradesco (e, claro, do Banco do Brasil).
A única hipótese de a compra do ABN Amro não se concretizar será no caso de uma catástrofe de proporções colossais, segundo a avaliação transmitida ao presidente. O negócio deve ser acertado oficialmente até o próximo dia 4.
Lula ouviu também que o Santander, a ser agora engordado pelo Real, salvo uma enorme surpresa, continua encantado com o Brasil, uma avaliação que sempre aparece quando o patriarca do banco, Emílio Botín, fala da compra do Banespa, que abriu as portas do país ao grupo espanhol, e da evolução subseqüente.
Também Francisco Luzón, responsável por América Latina no Santander, rasga elogios ao desempenho da economia brasileira, de forma geral, e em particular aos resultados do banco no país.

Novos encontros
Lula voltará a conversar com os representantes do Santander na segunda-feira, quando tem dois encontros com empresários, um café da manhã no clássico Hotel Palace, em cuja suíte real se hospeda, e em seguida um seminário sobre "Perspectivas da Economia Brasileira: Infra-Estrutura e Biocombustíveis".
O título já indica o foco do presidente na Espanha, como já o foi nos quatro países nórdicos que acaba de visitar: convencer o empresariado a investir nas obras previstas no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e na disseminação dos biocombustíveis pelo mundo, de forma a concretizar o que Lula chama sempre de "revolução energética".
Tanto nesses encontros como nas conversas com o presidente do governo espanhol, José Luís Rodríguez Zapatero, é inevitável que se toque na crise financeira global. No caso da Espanha, já se tornou tema da pré-campanha eleitoral (a eleição será no ano que vem), na medida em que a oposição grita que a crise arrastará fatalmente o país, coisa que o governo obviamente nega.
Aliás, foi justamente Emílio Botín, o presidente do Santander, o peso-pesado do meio empresarial a que o governo recorreu para falar da solidez da economia espanhola e, por extensão, de sua capacidade de enfrentar a turbulência externa.
No caso da Espanha, no entanto, a crise não é apenas externa. Houve, nos anos recentes, um formidável "boom" imobiliário que provocou o mesmo efeito registrado nos Estados Unidos, epicentro da turbulência: entidades financeiras correram atrás de todo mundo que pudesse recorrer a hipotecas para financiar-se, a juros de pai para filho.
Agora, que os juros se tornaram pesados, o risco de inadimplência generalizada é tanto que o governo acaba de anunciar a iminente criação de um fundo especial de ajuda aos que não podem pagar os juros que dispararam nos últimos 12 meses (em agosto, deu-se a 23ª alta consecutiva do Euribor, o índice a que está vinculada a maior parte das hipotecas).

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