São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2007

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Salvatore Cacciola é preso em Mônaco

Foragido há sete anos, ex-dono do banco Marka foi condenado pela Justiça brasileira por gestão fraudulenta, corrupção e peculato

Governo fará pedido de extradição do ex-banqueiro, que teve socorro financeiro do BC, em 1999, por causa da desvalorização do real

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA

O ex-banqueiro Salvatore Cacciola foi preso no principado de Mônaco pela polícia italiana. Cacciola é protagonista do caso Marka, que -juntamente com o banco FonteCindam- causou um prejuízo de R$ 1,6 bilhão ao Banco Central em 1999 (valor da época).
Foragido da Justiça brasileira há sete anos, ele foi condenado em 2005 por gestão fraudulenta, corrupção passiva e peculato (utilizar-se do cargo exercido para apropriação ilegal de dinheiro).
A prisão de Cacciola foi confirmada ontem pela Polícia Federal e pela assessoria do Ministério da Justiça. O ministro Tarso Genro (Justiça) se reúne amanhã com o Itamaraty e a Polícia Federal para avaliar como será feito o pedido de extradição do ex-banqueiro.
Cacciola foi condenado à revelia a 13 anos de prisão em 2005. Na Itália desde 2000, era considerado pela Polícia Federal o principal foragido do país.
Ainda em 2000, o governo brasileiro fez um alerta de "difusão vermelha", pedido de prisão internacional, para a Interpol, que passou a procurar Cacciola em setembro daquele ano.
Antes mesmo da confirmação oficial da prisão do ex-banqueiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estava na Espanha, e a sua comitiva já tinham recebido a notícia.
O governo brasileiro já teve negado pedido de extradição do ex-banqueiro, que, nascido na Itália, tem dupla cidadania -brasileira e italiana. O acordo bilateral entre Brasil e Itália não prevê a extradição de italianos e, de acordo com o Itamaraty, o Brasil não tem acordo de extradição com Mônaco.
O atual advogado do ex-banqueiro no Brasil é Carlos Ely Eluf. De acordo com o site do Superior Tribunal de Justiça, Eluf entrou com pedido de habeas corpus para o seu cliente na noite da última quinta-feira, dia 13. Eluf alega que não há relação entre a prisão e esse pedido. Em 27 de julho, um outro pedido havia sido negado pelo ministro Francisco Peçanha Martins. Eluf disse à Folha acreditar que a prisão tenha ocorrido anteontem (leia texto na página ao lado).
Em 2000, o Ministério Público pediu a prisão preventiva de Cacciola com receio de que o ex-banqueiro deixasse o país. Cacciola chegou a ficar preso no Rio de Janeiro em 2000, mas fugiu do país no mesmo dia em que o ministro Marco Aurélio de Mello, do Supremo Tribunal Federal, lhe concedeu um habeas corpus por considerar a prisão "extravagante", em 14 de julho de 2000.
No livro "Eu, Alberto Cacciola, Confesso: o Escândalo do Banco Marka" (Record, 2001), o ex-banqueiro declarou ter ido, com passaporte brasileiro, do Brasil ao Paraguai de carro, pego um avião para a Argentina e, de lá, para a Itália.

"Doce prisão"
Segundo Antônio Carlos de Almeida Castro, advogado de Cacciola à época, o banqueiro foi orientado, depois de foragido, a permanecer em território italiano, "uma doce prisão", como definiu ontem o advogado, já que a Itália não devolveria o ex-banqueiro ao Brasil.
"Talvez o fato de ele ter ficado tanto tempo em liberdade fez com que ele tivesse esse descuido [de ir para Mônaco]", afirma Almeida Castro.
O banco Marka quebrou em 1999 por causa da desvalorização do real. Endividado, Cacciola recebeu socorro do Banco Central, que defendeu a medida como uma forma de evitar uma crise geral no sistema financeiro do país.
A ajuda deu origem a uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), que investigou também dirigentes do banco.
Por causa do socorro em 1999 ao banco Marka -e também ao FonteCindam-, a Justiça Federal no Rio condenou o ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes a dez anos de prisão em 2005. No total, oito foram condenados, incluindo outros quatro ex-dirigentes do BC. Eles recorreram da decisão. (MARIA LUIZA RABELLO, SÍLVIO NAVARRO E JAIRO MARQUES)


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