|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Salvatore Cacciola é preso em Mônaco
Foragido há sete anos, ex-dono do banco Marka foi condenado pela Justiça brasileira por gestão fraudulenta, corrupção e peculato
Governo fará pedido de extradição do ex-banqueiro, que teve socorro financeiro do BC, em 1999, por causa da desvalorização do real
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA
O ex-banqueiro Salvatore
Cacciola foi preso no principado de Mônaco pela polícia italiana. Cacciola é protagonista
do caso Marka, que -juntamente com o banco FonteCindam- causou um prejuízo de
R$ 1,6 bilhão ao Banco Central
em 1999 (valor da época).
Foragido da Justiça brasileira há sete anos, ele foi condenado em 2005 por gestão fraudulenta, corrupção passiva e peculato (utilizar-se do cargo
exercido para apropriação ilegal de dinheiro).
A prisão de Cacciola foi confirmada ontem pela Polícia Federal e pela assessoria do Ministério da Justiça. O ministro
Tarso Genro (Justiça) se reúne
amanhã com o Itamaraty e a
Polícia Federal para avaliar como será feito o pedido de extradição do ex-banqueiro.
Cacciola foi condenado à revelia a 13 anos de prisão em
2005. Na Itália desde 2000, era
considerado pela Polícia Federal o principal foragido do país.
Ainda em 2000, o governo
brasileiro fez um alerta de "difusão vermelha", pedido de prisão internacional, para a Interpol, que passou a procurar Cacciola em setembro daquele ano.
Antes mesmo da confirmação oficial da prisão do ex-banqueiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estava na
Espanha, e a sua comitiva já tinham recebido a notícia.
O governo brasileiro já teve
negado pedido de extradição do
ex-banqueiro, que, nascido na
Itália, tem dupla cidadania
-brasileira e italiana. O acordo
bilateral entre Brasil e Itália
não prevê a extradição de italianos e, de acordo com o Itamaraty, o Brasil não tem acordo de
extradição com Mônaco.
O atual advogado do ex-banqueiro no Brasil é Carlos Ely
Eluf. De acordo com o site do
Superior Tribunal de Justiça,
Eluf entrou com pedido de habeas corpus para o seu cliente
na noite da última quinta-feira,
dia 13. Eluf alega que não há relação entre a prisão e esse pedido. Em 27 de julho, um outro
pedido havia sido negado pelo
ministro Francisco Peçanha
Martins. Eluf disse à Folha
acreditar que a prisão tenha
ocorrido anteontem (leia texto
na página ao lado).
Em 2000, o Ministério Público pediu a prisão preventiva
de Cacciola com receio de que o
ex-banqueiro deixasse o país.
Cacciola chegou a ficar preso
no Rio de Janeiro em 2000,
mas fugiu do país no mesmo
dia em que o ministro Marco
Aurélio de Mello, do Supremo
Tribunal Federal, lhe concedeu
um habeas corpus por considerar a prisão "extravagante", em
14 de julho de 2000.
No livro "Eu, Alberto Cacciola, Confesso: o Escândalo do
Banco Marka" (Record, 2001),
o ex-banqueiro declarou ter
ido, com passaporte brasileiro,
do Brasil ao Paraguai de carro,
pego um avião para a Argentina
e, de lá, para a Itália.
"Doce prisão"
Segundo Antônio Carlos de
Almeida Castro, advogado de
Cacciola à época, o banqueiro
foi orientado, depois de foragido, a permanecer em território
italiano, "uma doce prisão", como definiu ontem o advogado,
já que a Itália não devolveria o
ex-banqueiro ao Brasil.
"Talvez o fato de ele ter ficado tanto tempo em liberdade
fez com que ele tivesse esse
descuido [de ir para Mônaco]",
afirma Almeida Castro.
O banco Marka quebrou em
1999 por causa da desvalorização do real. Endividado, Cacciola recebeu socorro do Banco
Central, que defendeu a medida como uma forma de evitar
uma crise geral no sistema financeiro do país.
A ajuda deu origem a uma
CPI (Comissão Parlamentar de
Inquérito), que investigou também dirigentes do banco.
Por causa do socorro em
1999 ao banco Marka -e também ao FonteCindam-, a Justiça Federal no Rio condenou o
ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes a dez anos
de prisão em 2005. No total, oito foram condenados, incluindo outros quatro ex-dirigentes
do BC. Eles recorreram da decisão.
(MARIA LUIZA RABELLO, SÍLVIO NAVARRO E JAIRO MARQUES)
Texto Anterior: Santander anuncia a Lula a compra do banco ABN Amro Próximo Texto: Frase Índice
|