São Paulo, quarta, 16 de setembro de 1998

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Presidente acha que o pior já passou

do Conselho Editorial

O presidente Fernando Henrique Cardoso acredita que o pior da crise está passando, uma aposta que parte do princípio de que o Brasil é o último país em que se pode deter o efeito dominó da turbulência global, impedindo, portanto, que ela se alastre ainda mais.
Se é assim, o governo acredita que o mundo desenvolvido, em especial os Estados Unidos, darão um jeito de criar um colchão financeiro que permita ao Brasil resistir ao impacto da crise.
Se não for assim, a América Latina também cairia, arrastada pelo peso da maior economia da sub-região (a brasileira), com repercussões mais diretas e pesadas sobre os próprios Estados Unidos.
Afinal, a América Latina absorve cerca de 20% das exportações norte-americanas e os bancos dos EUA emprestaram ao Brasil quase US$ 28 bilhões, quatro vezes mais que o valor enterrado na Rússia.
Por tudo isso, o presidente comemorou o discurso de seu colega norte-americano Bill Clinton, em especial na parte em que Clinton solicita que "as grandes economias estejam preparadas para ativar os US$ 15 bilhões dos fundos de emergência do Fundo Monetário Internacional" (fundos destinados a socorrer especificamente a América Latina, se necessário).
Explica-se a satisfação: o governo acha que o colchão externo é a única saída, pelo menos no curtíssimo prazo, para as dificuldades brasileiras.
Mas FHC festeja também, com uma ponta de presunção, o fato de Clinton ter proposto "uma nova arquitetura" para o sistema financeiro internacional.
"Faz anos que venho falando da volatilidade dos fluxos financeiros e, agora, parece que estão começando a me ouvir", comentou o presidente com interlocutores.
É uma alusão ao fato de que, desde que assumiu, FHC vem dizendo que o volume de transações financeiras entre fronteiras é de tal ordem que não há banco central que possa resistir a um eventual ataque especulativo desses capitais.
O fato de considerar que o pior já passou não significa que o presidente durma tranquilo. Ao contrário, ele se queixa da obrigatoriedade de acompanhar diariamente o movimento de capitais, para ver quanto escapou, e de não ter muito o que fazer quando constata que houve uma fuga elevada de recursos.
O presidente acha que mexer no câmbio seria desastroso e tampouco aceita a hipótese de mudar as regras do jogo, uma alusão velada à hipótese de introdução de controles cambiais, tipo proibição de remessas pelo chamado câmbio flutuante.
Tudo somado, volta-se sempre à questão da aposta em eventual ajuda externa. O governo está consciente de que, entre os acenos de Clinton e a armação concreta de um pacote, há uma boa distância.
Na retórica, todos estão de acordo em que é importante não deixar o Brasil cair. Mas, na hora em que for necessário estabelecer quem paga quanto do pacote, as discussões podem emperrar, como na Rússia.
Enquanto espera uma ação internacional, o governo diz que faz o que pode na área fiscal. (CR)



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