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Presidente acha que o pior já passou
do Conselho Editorial
O presidente Fernando Henrique Cardoso acredita que o pior
da crise está passando, uma aposta
que parte do princípio de que o
Brasil é o último país em que se
pode deter o efeito dominó da turbulência global, impedindo, portanto, que ela se alastre ainda
mais.
Se é assim, o governo acredita
que o mundo desenvolvido, em
especial os Estados Unidos, darão
um jeito de criar um colchão financeiro que permita ao Brasil resistir ao impacto da crise.
Se não for assim, a América Latina também cairia, arrastada pelo
peso da maior economia da
sub-região (a brasileira), com repercussões mais diretas e pesadas
sobre os próprios Estados Unidos.
Afinal, a América Latina absorve
cerca de 20% das exportações norte-americanas e os bancos dos
EUA emprestaram ao Brasil quase
US$ 28 bilhões, quatro vezes mais
que o valor enterrado na Rússia.
Por tudo isso, o presidente comemorou o discurso de seu colega
norte-americano Bill Clinton, em
especial na parte em que Clinton
solicita que "as grandes economias estejam preparadas para ativar os US$ 15 bilhões dos fundos
de emergência do Fundo Monetário Internacional" (fundos destinados a socorrer especificamente
a América Latina, se necessário).
Explica-se a satisfação: o governo acha que o colchão externo é a
única saída, pelo menos no curtíssimo prazo, para as dificuldades
brasileiras.
Mas FHC festeja também, com
uma ponta de presunção, o fato de
Clinton ter proposto "uma nova
arquitetura" para o sistema financeiro internacional.
"Faz anos que venho falando da
volatilidade dos fluxos financeiros
e, agora, parece que estão começando a me ouvir", comentou o
presidente com interlocutores.
É uma alusão ao fato de que,
desde que assumiu, FHC vem dizendo que o volume de transações
financeiras entre fronteiras é de tal
ordem que não há banco central
que possa resistir a um eventual
ataque especulativo desses capitais.
O fato de considerar que o pior
já passou não significa que o presidente durma tranquilo. Ao contrário, ele se queixa da obrigatoriedade de acompanhar diariamente o movimento de capitais,
para ver quanto escapou, e de não
ter muito o que fazer quando
constata que houve uma fuga elevada de recursos.
O presidente acha que mexer no
câmbio seria desastroso e tampouco aceita a hipótese de mudar
as regras do jogo, uma alusão velada à hipótese de introdução de
controles cambiais, tipo proibição
de remessas pelo chamado câmbio
flutuante.
Tudo somado, volta-se sempre à
questão da aposta em eventual
ajuda externa. O governo está
consciente de que, entre os acenos
de Clinton e a armação concreta
de um pacote, há uma boa distância.
Na retórica, todos estão de acordo em que é importante não deixar o Brasil cair. Mas, na hora em
que for necessário estabelecer
quem paga quanto do pacote, as
discussões podem emperrar, como na Rússia.
Enquanto espera uma ação internacional, o governo diz que faz
o que pode na área fiscal.
(CR)
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