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RUMOS DO REAL
Líderes empresariais jantam com FHC e prometem sugestões "contundentes" de defesa do setor produtivo
Empresariado cobra política industrial
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
O presidente Fernando Henrique Cardoso receberá no dia 20 de
outubro um documento do empresariado contendo "de seis a
dez sugestões pontuais e contundentes para que o país tenha a política industrial que nunca teve".
A informação é de Eugênio
Staub (grupo Gradiente) e presidente de turno do Iedi (Instituto
de Estudos de Desenvolvimento
Industrial).
Seis representantes do Iedi jantaram anteontem com o presidente, para lhe apresentar conclusões
preliminares de estudos sobre política industrial comparando práticas de países desenvolvidos, como os Estados Unidos, países em
desenvolvimento (Coréia e Índia,
por exemplo) e do Brasil.
O estudo foi preparado por um
grupo de 18 acadêmicos e comprovou, segundo o Iedi, o que o instituto já imaginava empiricamente:
todos esses países têm uma política industrial afirmativa, impulsionam a indústria numa determinada direção e praticam o que o empresário Paulo Cunha (grupo Ultra) chama de "intensa articulação entre governo e indústria, ao
contrário do Brasil".
Política industrial significa ações
e/ou orientações governamentais
para estimular setores industriais,
seja para atender ao mercado interno, seja para torná-los capazes
de competir internacionalmente.
Na comparação com os países
estudados, "o Brasil está muito
mais passivo", diz Paulo Cunha.
O presidente saudou a iniciativa
do grupo com uma frase eloquente: "Ainda bem que tem alguém
procurando falar no longo prazo,
porque, ultimamente, só vem aqui
gente querendo discutir o imediato".
Mas a aceitação das teses do grupo pelo governo é vista de maneira
levemente diferente conforme o
interlocutor.
Paulo Cunha limita-se a dizer
que o presidente adotou uma atitude "construtiva", maneira diplomática de dizer que ouviu muito, mas prometeu pouco.
Já Staub acha que o presidente
"vai se organizar" para adotar algum tipo de política industrial em
um eventual segundo mandato.
Sem cobranças
O jantar de anteontem havia sido
marcado há três semanas, antes,
portanto, do agravamento da turbulência financeira internacional.
Mas, como aconteceu precisamente em um dos momentos de
maior pressão sobre o país, havia
uma expectativa generalizada de
que os empresários aproveitariam
para pedir a cabeça de ministros
como Pedro Malan (Fazenda) e
Botafogo Gonçalves (Indústria e
Comércio), além do presidente do
Banco Central, Gustavo Franco.
Os empresários negam, primeiro, que houvesse tal intenção.
Mesmo que houvesse, dizem que,
na hora da turbulência, não seria
nem civilizado nem realista discutir nomes.
De todo modo, a Folha apurou
que a expectativa nos meios empresariais, não necessariamente
no Iedi, é que a própria crise internacional force uma alteração de
políticas internas, o que, no limite, poderia levar a trocas no comando da economia brasileira.
O fato de que secou, ao menos
provisoriamente, a fonte de financiamento externo, em que se baseou boa parte da política de sustentação do Plano Real, obrigaria
a uma mudança de orientação.
Mas ninguém aposta em que qualquer mudança se faça agora ou antes das eleições.
O Iedi pretende influir em eventual mudança de rumos após as
eleições: marcou para 20 de outubro, em princípio, o seminário em
que serão apresentadas as conclusões definitivas de seu estudo sobre políticas industriais comparadas.
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