São Paulo, quarta, 16 de setembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RUMOS DO REAL
Líderes empresariais jantam com FHC e prometem sugestões "contundentes" de defesa do setor produtivo
Empresariado cobra política industrial

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

O presidente Fernando Henrique Cardoso receberá no dia 20 de outubro um documento do empresariado contendo "de seis a dez sugestões pontuais e contundentes para que o país tenha a política industrial que nunca teve".
A informação é de Eugênio Staub (grupo Gradiente) e presidente de turno do Iedi (Instituto de Estudos de Desenvolvimento Industrial).
Seis representantes do Iedi jantaram anteontem com o presidente, para lhe apresentar conclusões preliminares de estudos sobre política industrial comparando práticas de países desenvolvidos, como os Estados Unidos, países em desenvolvimento (Coréia e Índia, por exemplo) e do Brasil.
O estudo foi preparado por um grupo de 18 acadêmicos e comprovou, segundo o Iedi, o que o instituto já imaginava empiricamente: todos esses países têm uma política industrial afirmativa, impulsionam a indústria numa determinada direção e praticam o que o empresário Paulo Cunha (grupo Ultra) chama de "intensa articulação entre governo e indústria, ao contrário do Brasil".
Política industrial significa ações e/ou orientações governamentais para estimular setores industriais, seja para atender ao mercado interno, seja para torná-los capazes de competir internacionalmente.
Na comparação com os países estudados, "o Brasil está muito mais passivo", diz Paulo Cunha.
O presidente saudou a iniciativa do grupo com uma frase eloquente: "Ainda bem que tem alguém procurando falar no longo prazo, porque, ultimamente, só vem aqui gente querendo discutir o imediato".
Mas a aceitação das teses do grupo pelo governo é vista de maneira levemente diferente conforme o interlocutor.
Paulo Cunha limita-se a dizer que o presidente adotou uma atitude "construtiva", maneira diplomática de dizer que ouviu muito, mas prometeu pouco.
Já Staub acha que o presidente "vai se organizar" para adotar algum tipo de política industrial em um eventual segundo mandato.

Sem cobranças
O jantar de anteontem havia sido marcado há três semanas, antes, portanto, do agravamento da turbulência financeira internacional.
Mas, como aconteceu precisamente em um dos momentos de maior pressão sobre o país, havia uma expectativa generalizada de que os empresários aproveitariam para pedir a cabeça de ministros como Pedro Malan (Fazenda) e Botafogo Gonçalves (Indústria e Comércio), além do presidente do Banco Central, Gustavo Franco.
Os empresários negam, primeiro, que houvesse tal intenção. Mesmo que houvesse, dizem que, na hora da turbulência, não seria nem civilizado nem realista discutir nomes.
De todo modo, a Folha apurou que a expectativa nos meios empresariais, não necessariamente no Iedi, é que a própria crise internacional force uma alteração de políticas internas, o que, no limite, poderia levar a trocas no comando da economia brasileira.
O fato de que secou, ao menos provisoriamente, a fonte de financiamento externo, em que se baseou boa parte da política de sustentação do Plano Real, obrigaria a uma mudança de orientação. Mas ninguém aposta em que qualquer mudança se faça agora ou antes das eleições.
O Iedi pretende influir em eventual mudança de rumos após as eleições: marcou para 20 de outubro, em princípio, o seminário em que serão apresentadas as conclusões definitivas de seu estudo sobre políticas industriais comparadas.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.