São Paulo, quarta, 16 de setembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BASTIDORES
Piso para reservas seria de US$ 40 bilhões
Longe da TV, FHC já admite retração

JOSIAS DE SOUZA
Secretário de Redação

Em diálogos reservados que manteve com alguns dos principais líderes políticos que o apóiam, Fernando Henrique Cardoso informou: se a sangria das reservas do Banco Central persistir, o governo adotará medidas de proteção, impondo limites à saída de dólares. As providências viriam, segundo disse, antes que as reservas batessem em U$ 40 bilhões.
Ele também afirmou a seus interlocutores que não hesitará em pedir auxílio financeiro externo em caso de necessidade.
O presidente das conversas de bastidores é muito diferente do candidato que aparece na TV. O diagnóstico feito por FHC longe das câmeras se aproxima da visão que se dissemina pelo mercado.
Ele desenha um 1999 bem menos róseo que aquele pintado em seu programa eleitoral. Prevê dias de sufoco financeiro. Evita usar a palavra "recessão". Mas aponta para um quadro de forte retração, no Brasil e no mundo.
Depois de conversar com esse FHC da intimidade, um de seus auxiliares referiu-se a 1999 como o quinto ano do primeiro mandato. Em caso de vitória eleitoral, o Brasil do crescimento, antecipado no programa do PSDB, fica para mais tarde. Bem mais tarde.
Na sexta-feira, após participar de jantar promovido pelo Grupo Abril, em São Paulo, FHC recebeu em seu apartamento dois pesos pesados: Tasso Jereissati (PSDB), governador do Ceará, e Antônio Carlos Magalhães (PFL), presidente do Congresso.
Os três analisaram os efeitos da crise na eleição. Puseram-se de acordo em relação ao raciocínio de que a crise, desde que não descambe, acaba tonificando a candidatura de FHC.
A conversa descambou para a necessidade de correção de rumos. O diálogo serviu para matizar o argumento de que a crise vem de fora. Repisou-se a tecla de que há muito por fazer aqui, no Brasil. Concluiu-se que é preciso agir rápido.
Embora o ambiente tenso tenha se amainado, o presidente parecia convencido, mesmo nos encontros que manteve ontem, da necessidade de acelerar a votação de reformas no Congresso e aprofundar o ajuste das contas do governo.
Os interlocutores mais íntimos de FHC -apenas os mais íntimos- se animam a dirigir-lhe perguntas sobre o futuro da dupla Pedro Malan e Gustavo Franco, respectivamente ministro da Fazenda e presidente do Banco Central. FHC diz que seria uma loucura desprestigiá-los em meio à crise. Mas já não parece tão enfático quanto à decisão de mantê-los em seus postos em um eventual segundo mandato.
Malan e Franco estão sob intenso fogo cruzado. Uma velha briga voltou a consumir as entranhas de Brasília. A briga entre o grupo de José Serra, ministro da Saúde, e o pessoal da equipe de Malan. Por ora, FHC pende para Malan. Chega mesmo a exibir uma ponta de irritação com as queixas que Serra faz à luz do dia.
Os principais caciques do PFL prestigiam Malan. Enxergam na movimentação de Serra um projeto político pessoal. Assustados com a visibilidade que ele obteve à frente da Saúde, até gostaram de vê-lo espernear contra o corte de verbas que lhe foi imposto.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.