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Unctad propõe moratória temporária
CHICO SANTOS
da Sucursal do Rio
O relatório sobre comércio e desenvolvimento de 1998 da Unctad
(Conferência das Nações Unidas
sobre Comércio e Desenvolvimento), órgão da ONU, propõe a
moratória temporária como saída
para os países em desenvolvimento cujas moedas estejam sob ataque especulativo.
Durante a apresentação do documento, no Rio, o economista
norte-americano Jan Kregel, da
Universidade de Bolonha (Itália) e
consultor da Unctad, disse que o
Brasil acabará tendo que recorrer
à moratória ou à desvalorização
do câmbio para enfrentar os ataques. Para ele, o Brasil não é diferente da Ásia em termos de risco.
O documento da Unctad propõe
um novo modelo de desenvolvimento econômico internacional,
com mecanismos de controle dos
capitais de curto prazo.
Kregel disse que "é previsível
uma nova rodada de regulação
dos fluxos financeiros internacionais". Diante da gravidade da crise, ele propõe uma conferência internacional para reorganizar a
economia mundial, semelhante à
de Breton Woods (EUA) depois da
2ª Guerra Mundial.
Kregel considera que os modelos
de desenvolvimento com base na
atração de capitais externos, via
juros elevados, para dar sustentação à moeda do país (âncora cambial) carregam o germe da própria
destruição, na forma de deterioração das contas externas e do déficit
interno do governo.
A Unctad, com sede em Genebra
(Suíça), tem como secretário-geral o brasileiro Rubens Ricupero,
ex-ministro da Fazenda.
Mesmo com propostas contrárias à linha que vem sendo posta
em prática pelo Brasil, o relatório
foi divulgado na sede do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), um
dos principais órgãos econômicos
do governo brasileiro.
Segundo o documento da Unctad, a possibilidade do uso da moratória por países sob ataque especulativo seria uma correspondente no campo financeiro às normas
da OMC (Organização Mundial do
Comércio) que permitem o uso de
salvaguardas na área comercial.
A Unctad diz que o uso da moratória está respaldado no artigo 8º
do documento de constituição do
Fundo Monetário Internacional.
Também o artigo 6º é citado como um instrumento que respaldaria o controle dos fluxos de capitais internacionais. A moratória
pode ser unilateral, como a russa,
e seguida da rápida renegociação
dos débitos.
Recessão mundial
O órgão da ONU considera que o
mundo está à beira de uma recessão de grandes proporções.
Somente com a crise asiática o
documento calcula que as perdas
acumularam em um ano US$ 260
bilhões, quase um terço do PIB
brasileiro e cerca de 1% da produção mundial.
Para a Unctad, a crise é sistêmica
e se desdobra desde a crise financeira da América Latina do final
dos anos 70, passando pela crise
da Bolsa de Nova York de 1987,
pela crise das moedas européias de
1992 e pela crise mexicana de 1994.
Na raiz do problema estão os fluxos de capitais de curto prazo, que
geram sobrevalorização da moeda
do país e de bens como imóveis e
ações.
Além disso, como esses fluxos
são intermediados por instituições
financeiras domésticas, quando os
ataques às moedas ocorrem, eles
acabam gerando também crises
nos sistemas financeiros.
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