São Paulo, quarta-feira, 16 de outubro de 2002

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ÚLTIMOS CARTUCHOS

Taxas na BM&F sobem pelo 2º dia seguido e atingem patamar máximo de 25,6%; moeda recua 0,13%

BC atua e estabiliza dólar, mas juro dispara

ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco Central manteve presença forte no mercado cambial ontem, mas só conseguiu frear a alta do dólar. A moeda americana caiu 0,13%, para R$ 3,845.
Os juros futuros, pelo segundo dia seguido, bateram os limites de alta permitidos pela BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), e as negociações foram paralisadas.
Após a surpreendente decisão de segunda-feira, quando, em reunião extraordinária, o Copom elevou os juros básicos de 18% para 21% ao ano, os investidores correram para mudar suas apostas sobre os juros, que não continham expectativa de alta.
Os contratos que embutem as projeções para janeiro de 2003 -os mais negociados na BM&F e que, portanto, servem de referência para o mercado- fecharam a 25,60%. Logo pela manhã a taxa alcançou o valor, teto estabelecido para os negócios com esses contratos ontem pela Bolsa.
Como uma norma de segurança, a BM&F se protege de oscilações exageradas das projeções ao estabelecer como variação máxima em um dia o percentual de 10%, para mais ou para menos. Atingido o limite, as operações são paralisadas -no caso de ontem, por exemplo, para janeiro, só seriam aceitos negócios abaixo de 25,60%. Também fecharam nos limites de alta os contratos para novembro, a 23,01%, e para dezembro, a 24,32%.
A disparada das taxas sinaliza que os investidores cogitam a possibilidade de o Copom, em sua reunião ordinária da semana que vem, voltar a elevar os juros. Mas há os que ponderam que o comportamento do dólar nos próximos dias indicará qual será a opção do BC: "Se o dólar tiver uma oscilação menor, não haverá a necessidade de promover um choque nos juros", afirma André Petersen, sócio-diretor da Máxima Asset Management.
Analistas avaliam que os juros subiram numa tentativa do BC de conter a alta da inflação, influenciada pela disparada do dólar. Se tivesse o objetivo de conter diretamente a moeda norte-americana, a elevação teria de ser mais forte.
A medida causou estranheza devido à proximidade da reunião do Copom, que será na semana que vem -houve o consenso entre analistas de que não seria necessário ter elevado os juros em reunião extraordinária.
O risco-país continuou a subir -0,7%, a 2.280 pontos.
A trégua do dólar foi atribuída às medidas administrativas adotadas pelo BC na semana passada. A autoridade monetária estabeleceu novas normas que reduziram a capacidade das instituições para operar com a moeda. O BC estimou que as regras retirarão R$ 14,2 bilhões do mercado e que os bancos serão obrigados a se desfazer de parte das aplicações em dólar. A adequação das instituições aos novos procedimentos estaria diminuindo a pressão no dólar.

Leilão
O BC vendeu dólares no mercado à vista ontem e realizou leilão de linha de exportação. A instituição também tentou rolar mais US$ 500 milhões dos US$ 3,6 bilhões de dívida pública atrelada ao dólar que vencem amanhã, mas recusou as altas taxas pedidas pelo mercado. O BC renovou 53,5% do vencimento e tenta rolar mais US$ 1,05 bilhão hoje.
Como o vencimento da dívida é amanhã, poderá haver uma movimentação no mercado para inflar o valor do Ptax (preço médio do dólar) de hoje, que vai balizar o valor de resgate dos títulos.
No entanto, como o dólar teve um fechamento mais tranquilo ontem -apesar de ter oscilado entre queda de 1,17% e alta de 1%-, analistas acreditam que as medidas do BC possam reduzir, mais uma vez, a alta da cotação.

Figueiredo em NY
Ontem, em Nova York, o diretor de Política Monetária do BC, Luiz Fernando Figueiredo, participou de reuniões no Credit Suisse First Boston. Na saída, classificou o encontro de "construtivo". Nem Figueiredo nem os participantes comentaram o teor dos encontros. "Combinamos de não falar com a imprensa", disse, sem responder se o acordo de silêncio tinha sido feito com o presidente do BC, Armínio Fraga, ou com os participantes das reuniões. Hoje, Figueiredo tem encontros na Goldman Sachs e no Merrill Lynch.


Colaborou Sergio Dávila, da Nova York

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