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ÚLTIMOS CARTUCHOS
Equipe apresentou diagnóstico sombrio ao presidente
FHC foi informado de que a taxa de juro poderia subir
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na semana passada, o presidente Fernando Henrique Cardoso
foi informado, em várias reuniões
com a equipe econômica, de que
o governo seria obrigado a tomar
medidas duras, inclusive com a
elevação da taxa de juros, para
tentar reduzir a inflação e conter a
alta do dólar.
Em pelo menos um desses encontros, a Folha apurou que FHC
foi avisado de que essas medidas
teriam caráter recessivo e poderiam prejudicar a candidatura do
candidato tucano à Presidência,
José Serra. FHC deu sinal verde
para a equipe econômica tomar as
medidas que fossem necessárias.
De acordo com o que a Folha
apurou no Palácio do Planalto,
FHC não foi informado pelo Banco Central da reunião extraordinária do Copom de segunda-feira
que poderia promover um aumento de juros. Como sempre
ocorre, FHC só foi informado do
aumento de juros depois da decisão do Copom.
O diagnóstico pessimista da
economia foi claramente exposto
durante almoço de Fernando
Henrique Cardoso com a equipe
econômica na quarta-feira, no Palácio da Alvorada. Após o encontro, ficou definido que o Banco
Central iria agir, independentemente das eleições.
O presidente do Banco Central,
Armínio Fraga, tentou mostrar,
em entrevista coletiva logo após
ao almoço, a crise que atravessava
o país. Num determinado momento, chegou a dizer que o BC
poderia até recorrer a um aumento de juros. Armínio foi, no entanto, mal interpretado.
Entrevista
O mercado encarou a entrevista
como se o BC estivesse jogando a
toalha. De acordo com o que a Folha apurou, o recado que Armínio
tentou transmitir foi exatamente
o contrário.
Procurados pela Folha, Armínio e o ministro Pedro Malan (Fazenda) negaram ter tratado de juros com FHC. "Nunca conversei
com o presidente sobre juros,
nem antes, nem durante, nem depois de uma reunião do Copom",
disse o ministro da Fazenda por
intermédio da assessoria.
Nos seus dois mandatos, FHC
buscou interferir o mínimo possível na fixação dos juros. Membros
da equipe e o próprio FHC juram
que a interferência presidencial é
zero.
Ao ser informado de que haveria elevação, FHC orientou a equipe econômica a fazer o que fosse
necessário para combater a crise
cambial e a eventual alta da inflação, sem levar em conta preocupações de ordem eleitoral. A elevação dos juros, por dar força a
um cenário recessivo, é prejudicial ao candidato do PSDB e do
governo, o tucano José Serra.
FHC considera que seu principal patrimônio, além da estabilidade e a liberdade democrática de
seus oito anos de governo, é o
controle da inflação. Perder isso
no fim do mandato seria avariar
um feito que ele crê que será bem
julgado pela história.
É nesse contexto que devem ser
entendidos a alta de juros de anteontem e o pacote de sexta-feira,
no qual houve intervenção do BC
após Armínio ter dito que não havia muito mais a ser feito.
FHC disse ao presidente da
OAB (Ordem dos Advogados do
Brasil), Rubens Approbato Machado, que a decisão de aumentar
a taxa básica de juros foi "absolutamente" necessária para evitar
uma escalada inflacionária.
Segundo Approbato, FHC disse
que está fazendo uma avaliação
da reação do mercado financeiro
e que aguarda o dia de amanhã
para verificar o resultado da decisão. Fernando Henrique disse que
por enquanto a reação está sendo
positiva, mas que o quadro ainda
está indefinido.
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