São Paulo, quarta-feira, 16 de outubro de 2002

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ÚLTIMOS CARTUCHOS

Equipe apresentou diagnóstico sombrio ao presidente

FHC foi informado de que a taxa de juro poderia subir

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na semana passada, o presidente Fernando Henrique Cardoso foi informado, em várias reuniões com a equipe econômica, de que o governo seria obrigado a tomar medidas duras, inclusive com a elevação da taxa de juros, para tentar reduzir a inflação e conter a alta do dólar.
Em pelo menos um desses encontros, a Folha apurou que FHC foi avisado de que essas medidas teriam caráter recessivo e poderiam prejudicar a candidatura do candidato tucano à Presidência, José Serra. FHC deu sinal verde para a equipe econômica tomar as medidas que fossem necessárias.
De acordo com o que a Folha apurou no Palácio do Planalto, FHC não foi informado pelo Banco Central da reunião extraordinária do Copom de segunda-feira que poderia promover um aumento de juros. Como sempre ocorre, FHC só foi informado do aumento de juros depois da decisão do Copom.
O diagnóstico pessimista da economia foi claramente exposto durante almoço de Fernando Henrique Cardoso com a equipe econômica na quarta-feira, no Palácio da Alvorada. Após o encontro, ficou definido que o Banco Central iria agir, independentemente das eleições.
O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, tentou mostrar, em entrevista coletiva logo após ao almoço, a crise que atravessava o país. Num determinado momento, chegou a dizer que o BC poderia até recorrer a um aumento de juros. Armínio foi, no entanto, mal interpretado.

Entrevista
O mercado encarou a entrevista como se o BC estivesse jogando a toalha. De acordo com o que a Folha apurou, o recado que Armínio tentou transmitir foi exatamente o contrário.
Procurados pela Folha, Armínio e o ministro Pedro Malan (Fazenda) negaram ter tratado de juros com FHC. "Nunca conversei com o presidente sobre juros, nem antes, nem durante, nem depois de uma reunião do Copom", disse o ministro da Fazenda por intermédio da assessoria.
Nos seus dois mandatos, FHC buscou interferir o mínimo possível na fixação dos juros. Membros da equipe e o próprio FHC juram que a interferência presidencial é zero.
Ao ser informado de que haveria elevação, FHC orientou a equipe econômica a fazer o que fosse necessário para combater a crise cambial e a eventual alta da inflação, sem levar em conta preocupações de ordem eleitoral. A elevação dos juros, por dar força a um cenário recessivo, é prejudicial ao candidato do PSDB e do governo, o tucano José Serra.
FHC considera que seu principal patrimônio, além da estabilidade e a liberdade democrática de seus oito anos de governo, é o controle da inflação. Perder isso no fim do mandato seria avariar um feito que ele crê que será bem julgado pela história.
É nesse contexto que devem ser entendidos a alta de juros de anteontem e o pacote de sexta-feira, no qual houve intervenção do BC após Armínio ter dito que não havia muito mais a ser feito.
FHC disse ao presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Rubens Approbato Machado, que a decisão de aumentar a taxa básica de juros foi "absolutamente" necessária para evitar uma escalada inflacionária.
Segundo Approbato, FHC disse que está fazendo uma avaliação da reação do mercado financeiro e que aguarda o dia de amanhã para verificar o resultado da decisão. Fernando Henrique disse que por enquanto a reação está sendo positiva, mas que o quadro ainda está indefinido.


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