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LUÍS NASSIF
As multinacionais brasileiras
Em seus estudos clássicos
sobre processos de desenvolvimento, o norte-americano Michel Porter demonstrou
que, na maior parte dos casos,
foram dificuldades -e não
vantagens naturais- as determinantes do sucesso da empresa.
Dentre as empresas com
mais sucesso na internacionalização brasileira, há dois casos que mereceriam constar
no levantamento de Porter: a
Sadia e a Odebrecht. Ao lado
da Vale do Rio Doce e da Embraer, são, de longe, as empresas genuinamente brasileiras
com maior coeficiente de internacionalização. A Sadia
exportando alimentos, e a
Odebrecht, tecnologia de
construção.
As duas têm pontos em comum. Surgiram fora dos grandes centros consumidores e, a
partir dos anos 50, para se expandir, tiveram de montar estratégias de entrada no eixo
Rio de Janeiro-São Paulo que
criaram os fundamentos para
a posterior expansão internacional.
Os relatos das experiências
foram feitos pelos presidentes
do conselho de ambas, Luiz
Furlan, da Sadia, e Pedro Novis, da Odebrecht, no recente
seminário "Multinacionais
Brasileiras".
Ambas partiram de um mesmo problema -a distância
dos grandes centros consumidores- para montar suas estratégias iniciais, visando alcançar o eixo Rio de Janeiro-São Paulo.
A grande expansão da Odebrecht deu-se no período de
1950 a 1980, quando se tinha
simultaneamente um mercado interno fechado às empresas estrangeiras, mas -frise-se- bastante competitivo,
obrigando as empresas nacionais a desenvolver engenharia
própria.
Sem dispor das grandes
obras federais na Bahia, a
única forma de expansão da
Odebrecht era por meio de
múltiplos projetos de pequeno
porte, que exigiam baixa imobilização, mas alta capacidade de articulação e pronta resposta para diferentes tipos de
obra em diferentes lugares.
Esse modelo de gestão -um
dos clássicos da administração brasileira- dotou a empresa da cultura descentralizada que foi fundamental
quando tratou de sair do país.
A empresa passou a trabalhar
com a filosofia da delegação
planejada, privilegiando a relação líder/ liderado em toda
a linha e utilizando um sistema agressivo de participação
em resultados. Criou uma federação de pequenas empresas, habilitadas pela empresa-mãe. Cabe à grande empresa
zelar pela preservação dos valores, acompanhar o desenvolvimento de talentos e suprir
de recursos. O líder de cada
equipe comporta-se como o
empresário parceiro, viabilizador de negócios. É um modelo bastante flexível, embora
com inconvenientes de não
preservar de todo os valores
da empresa, conforme se viu
na grande crise dos anos 80.
A estratégia adotada para a
internacionalização foi a mesma utilizada para conquistar
o Brasil:
1º) modelo de gestão, com
parceiros operando descentralizadamente;
2º) formação de empresários
parceiros. Todos os empreendimentos são dirigidos por
pessoas formadas no Brasil,
dentro da cultura Odebrecht;
3º) visão política estratégica
na definição dos mercados e
criação de relacionamento
político local em mercados
preferenciais (aqueles nos
quais o Brasil tenha visibilidade e vantagens comparativas). Nesse item, a empresa
procura trabalhar em estreita
colaboração com a diplomacia brasileira;
4º) financiamento à exportação, condição necessária para competir com grandes empresas.
No caso da Sadia, a expansão para São Paulo começou
também nos anos 50, quando
a empresa passou a transportar seus produtos por avião, a
fechar acordos com grandes
restaurantes e formadores de
opinião e, depois, a atacar as
redes de supermercados, com
marketing localizado.
No início dos anos 90, a empresa investiu pesadamente
em qualidade total, com os
principais dirigentes passando por estágios no Japão. Passou a atuar em cima de princípios sociais, livrando seus 10
mil produtores rurais de
doenças agrícolas, submetendo-se a toda sorte de certificação, desde ISO até certificações religiosas e sanitárias.
Preparados para exportar,
recorreram à mesma estratégia que os fez vitoriosos em
São Paulo. Investiram em
marketing direto, em sacolas
de supermercados, adesivos
para carros, peças publicitárias em vídeos de aluguel.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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