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São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2003

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Fórum empresarial reproduz disputa

Yesikka Vivancos 13.nov.03/Associated Press
Manifestante antiglobalização diante da Prefeitura de Miami


DO COLUNISTA DA FOLHA

Como se tornou praxe nas reuniões da Alca, haverá o Fórum Empresarial das Américas, a partir de amanhã, no qual vai se repetir, ainda que atenuada, a discrepância entre brasileiros e norte-americanos.
"De modo geral, as divergências se dão nos temas já conhecidos e reproduzem as agendas governamentais", diz Osvaldo Moreira Douat, presidente do Conselho Temático de Integração Internacional da CNI (Confederação Nacional da Indústria). A diferença: "No âmbito empresarial, as divergências são menos intensas".
A colisão entre empresários de parte a parte ocorre na questão agrícola. Enquanto Sawaya Jank, especialista de um instituto financiado parcialmente pelo agronegócio brasileiro, pede 100% de abertura nos EUA, "os empresários americanos são reticentes na aceitação de reduzir o apoio a seus agricultores", conta Douat.
Reticente não é bem a palavra mais adequada. Mike Hegert, que comanda um programa radiofônico para a Rede Agrícola do Rio Vermelho, em Dakota do Norte, diz que os agricultores dessa região não querem trocar os subsídios que recebem pelo aceno de abertura de mercados externos para seus produtos.
Mas os americanos não são nada reticentes na hora de defender a abertura do comércio de bens não agrícolas. Douat ficou atemorizado, em Cancún, quando, em reunião com representantes da NAM (Associação Americana de Manufatureiras), ouviu a proposta de "tarifa zero" nessa área.
"O empresariado brasileiro repudia as negociações setoriais em bases zero por zero na OMC", diz Douat. O raciocínio, como é óbvio, vale para a Alca também.

Tática
Mas a NAM tem os olhos postos no futuro: calcula que, começando a redução tarifária em 2005 (final teórico das negociações), os EUA poderiam triplicar suas exportações de manufaturados em dez anos, passando de US$ 60 bilhões para US$ 200 bilhões.
É por isso que a CNI teme a tática do governo brasileiro de concentrar a agenda da Alca apenas na questão de acesso a mercado de bens. "Tende a aumentar a pressão por resultados fortes e rápidos nessa área, ao reduzir substancialmente as possibilidades de "trade offs" (barganhas) entre diferentes áreas da negociação."
Consequência: "A indústria pode ser o setor mais prejudicado". Seria, a rigor, o único setor a se abrir, porque, na agricultura, não há o que abrir, e nos demais setores, o acordo seria voluntário. Nem por isso a CNI defende o rompimento das negociações, embora ache necessário "reestruturar o processo negociador".
O que a indústria propõe é uma de duas hipóteses: estabelecer reservas para evitar compromissos que possam causar dificuldades domésticas a cada país, mas mantendo a agenda original na plenitude; ou deixar os temas sensíveis para uma "agenda futura".
(CLÓVIS ROSSI)


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