São Paulo, sábado, 16 de dezembro de 2000

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INTERNET

Media Metriz e Ibope eRatings surgem para tentar definir número de usuários, mas há dúvidas sobre métodos

Medir audiência na rede cria novo negócio

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

As características do mercado de Internet criaram novas oportunidades de negócios no país. As variações e dúvidas a respeito de números abriram espaço para a atuação de empresas que medem a audiência e fornecem informações detalhadas sobre o comportamento dos brasileiros na rede.
Duas empresas já disputam o novo mercado: a Media Metrix, que atua nos EUA desde 1996, e o Ibope eRatings, associação entre a empresa brasileira especializada em pesquisas de opinião e a norte-americana Nielsen. Apesar de usarem metodologias parecidas, elas divulgaram números divergentes a respeito da Web no país.
Para o Ibope, existem hoje 14 milhões de internautas no Brasil, quase o dobro dos 8,5 milhões estimados pela Media Metrix. Os rankings dos dez portais de maior audiência, divulgados nos últimos meses pelas empresas, também foram diferentes.

Metodologia
As divergências, explicam os representantes das empresas, ocorrem porque as metodologias usadas por ambas para estimar a audiência têm algumas diferenças.
As duas criaram um programa de computador para monitorar os hábitos dos usuários. Esses programas, no entanto, não são idênticos e monitoram as atividades dos internautas de forma diferente (leia textos abaixo).
A abrangência geográfica das duas pesquisas também é diferente. O Ibope mede a audiência em todo o Brasil. A Media Metrix optou por lançar o serviço nos dez maiores mercados brasileiros: Grande São Paulo, Grande Rio de Janeiro, Grande Belo Horizonte, Brasília, Grande Curitiba, Grande Porto Alegre, Grande Fortaleza, Grande Salvador, Grande Recife e interior de São Paulo.
Para iniciar o trabalho de medição, a Media Metrix e o Ibope fizeram pesquisas para chegar ao perfil do internauta brasileiro: saber a qual classe social pertence, qual a faixa etária de quem usa a rede e em que região do país reside.
Com base nos resultados da pesquisa, as empresas convidaram um grupo de internautas sorteado aleatoriamente para colaborar com o trabalho de medição de audiência.
Os internautas que aceitaram o convite instalaram em seus computadores os programas desenvolvidos pelas empresas. Esses programas armazenam em um arquivo informações sobre as atividades do usuário.
Nesse arquivo, que é enviado para a empresa, estão registrados os sites que ele visitou e o tempo que ficou em cada um. Com essas informações, que são enviadas pelos computadores de mais de 8.000 internautas (cada instituto conta com aproximadamente 4.000 colaboradores), as empresas estimam o comportamento de todos os usuários da rede no país.
Analistas ouvidos pela Folha avaliam que é natural que ocorram divergências nos primeiros levantamentos. Eles acreditam que elas tendem a diminuir quando o número de pessoas que fazem parte da pesquisa aumentar.
As ressalvas ficam por conta da projeção que a Media Metrix fez do número total de internautas. Diferentemente do Ibope, que fez uma pesquisa nacional para chegar ao número, a Media Metrix usou a pesquisa que fez em dez mercados para chegar ao total.
Segundo estatísticos ouvidos pela Folha, a empresa pode ter subavaliado o número. Eles afirmam que podem existir regiões não consideradas pela pesquisa em que a concentração de usuários de Internet é maior do que a estimativa que a empresa usou para chegar ao número.
O problema não afetaria o trabalho de medição da empresa, já que ela o faz apenas nas regiões nas quais realizou pesquisas de campo sobre o uso da Web.

Relatórios
Os rankings elaborados pelas duas empresas consideram os dois principais critérios de audiência na Web: o número de "page views", que informa a quantidade de páginas de um portal que foi visitada no mês, e o número de visitantes únicos, que informa quantos usuários diferentes entraram no site no período.
Aos seus clientes, elas oferecem ainda relatórios detalhados sobre o comportamento dos internautas. Com os relatórios, é possível acabar com alguns pontos de interrogação. Sabe-se, por exemplo, quantas horas os consumidores brasileiros passam na Internet, quais os seus sites preferidos e quanto tempo ficam em cada site.

Mais informação
Desde o final do ano passado, a empolgação com a nova economia no Brasil fez surgir centenas de novas empresas e poucos instrumentos para analisar o desempenho desses novos negócios.
Há menos de um ano, os analistas do setor podiam contar apenas com as informações que as próprias empresas forneciam e com raras pesquisas sobre comportamento dos usuários.
Todas as empresas afirmavam ter a preferência dos internautas e diziam poder provar que tinham a liderança de audiência. Elas inundavam o mercado com números de audiência, mas poucos analistas acreditavam que eles pudessem ser comparados, já que cada uma adotava um critério diferente para apurá-los.
Para os investidores que pretendiam tornar-se sócios de empresas já existentes, a dificuldade para avaliar o quanto valia a pena investir no negócio aumentava, já que não era possível averiguar, com precisão, com quantos usuários a empresa contava.
A avaliação das empresas que decidiram transformar essas imperfeições em oportunidades de negócios é que já existe, no mercado brasileiro, procura e disposição suficientes para pagar por informações confiáveis.
Para os publicitários, que reclamavam da falta de critérios para avaliar a eficiência dos anúncios veiculados na Internet, o relatório fornece informações valiosas. Com elas, prevêem, é possível gastar menos dinheiro e tornar a propaganda mais eficiente.
Para as próprias empresas de Internet, as informações vendidas pelas duas empresas são importantes. Os relatórios mostram, por exemplo, para que sites elas perdem audiência e quais são as áreas que fazem mais sucesso em suas próprias páginas.
Tanto o Ibope eRatings como a Media Metrix afirmam que o novo negócio é promissor. As duas empresas, no entanto, não revelam quanto investiram para iniciar as operações no Brasil ou quanto pretendem faturar nos próximos anos.
A Media Metrix, que nos EUA passou a chamar-se Jupiter Media Metrix depois de anunciar fusão com a firma de consultoria Jupiter Comunications, faturou US$ 16,5 milhões no terceiro trimestre deste ano.


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