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OPINIÃO ECONÔMICA
Meirelles no Banco Central
ALEXANDRE SCHWARTSMAN
O deputado federal eleito
Henrique Meirelles, ex-presidente da Divisão Corporativa e
Global do FleetBoston, é um bom
nome para o Banco Central. Mas
está longe de ser o melhor que poderia ser escolhido no momento.
Acredito que um presidente do
Banco Central, sob a atual situação brasileira, precise exibir as seguintes características: (1) excelente formação técnica, particularmente no que se refere à operação de um regime de metas inflacionárias; (2) forte reputação como inimigo da inflação; (3) trânsito fácil na comunidade financeira; e (4) sua indicação deve indicar que a possibilidade de um
Banco Central autônomo é real.
Meirelles, em minha interpretação, ainda não atende a todos esses requisitos. É verdade que, ex-executivo de um banco internacional importante, ele é percebido
não só como pró-mercado (o que
deve eliminar de vez as suspeitas
restantes quanto a desrespeito aos
contratos) mas, além disso, dispõe dos contatos certos com muita gente na comunidade financeira. Trata-se de vantagens que não
devemos subestimar, mas, infelizmente, elas não bastam para a solução de todos os problemas que
esperam o novo presidente do
Banco Central.
O mais importante é a acentuada alta das expectativas inflacionárias que vem ocorrendo ao longo do último trimestre do ano, em
parte como resposta à depreciação cambial dos meses precedentes, mas também em parte devido
às incertezas quanto à manutenção do forte compromisso de
combate à inflação, que era a marca registrada do governo FHC
desde 1994. Aumentar as taxas de
juros não basta para contrabalançar esse processo; a nomeação de
alguém dotado de credenciais como ferrenho inimigo da inflação é
outro elemento da equação.
Não quero dizer com isso que
Meirelles seja flexível em relação à
inflação. O que quero dizer é que
sua atitude não é conhecida, e vai
demorar algum tempo para que o
mercado perceba suas verdadeiras intenções quanto a essa questão. Uma reputação, como sabemos, é difícil de construir e fácil de
perder; ter alguém com uma reputação consolidada nesse campo tornaria a vida do Banco Central muito mais simples em termos das mensagens que seria preciso enviar ao mercado quanto ao
combate à inflação.
Em outras palavras, se tudo o
mais fosse igual, um presidente de
banco central com credenciais
impecáveis no combate à inflação
poderia controlar as expectativas
inflacionárias recorrendo a taxas
de juros em média mais baixas do
que as que terão de ser empregadas por um presidente que ainda
está construindo sua reputação.
Além disso, o conhecimento
técnico me parece um requisito
essencial para o posto.
Nosso presidente eleito não dispõe desse conhecimento sobre
economia, mas isso não atrapalha, porque ele pode depender de
seu ministro da Fazenda, que
tampouco não dispõe de treinamento formal, mas pode confiar
em sua equipe, a qual... Vocês
compreendem, acredito. Ter sucesso no comando de um banco
não confere sucesso automático a
alguém como dirigente de um
banco central, embora haja exemplos de profissionais que realizaram essa transição.
Mesmo assim, se trata de desafios completamente diferentes, lamento dizer.
Uma vez mais, Meirelles pode se
cercar de bons economistas nas
posições essenciais do Banco
Central, mas hoje em dia é preciso
que, em determinadas ocasiões, o
presidente de qualquer banco
central decida entre diferentes opções, e conhecimento técnico é essencial nesses momentos. Significa que a definição do homem encarregado do comando da política econômica terá de esperar pela
definição dos demais membros
do conselho do Banco Central.
Tudo isso posto, o que me parece mais importante é determinar
se a nomeação dele implica que
podemos esperar que o Banco
Central se comporte como se fosse autônomo, da mesma maneira
que opera hoje sob o comando de
Armínio Fraga. Talvez isso aconteça, mas o fato de Meirelles ter
aceitado o posto não nos oferece
informações sobre esse importante tema. É certo que o futuro
ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, declarou em sua recente visita aos Estados Unidos
que o Banco Central teria "autonomia operacional", que eu entendo como o poder de determinar as políticas necessárias a atingir as metas determinadas pelo
Executivo, mas que outras pessoas podem entender de maneira
diferente.
Em outras palavras, Meirelles
no Banco Central não transmite
uma mensagem sobre a autonomia tão firme quanto a que seria
transmitida por um nome como o
de Pedro Bodin. No futuro, o novo governo talvez leve adiante a
questão da autonomia, mas por
enquanto o mercado manterá
suspeitas a respeito.
No geral, como escrevi acima,
não tenho nada contra o indicado, e é preciso reconhecer que ele
pode vir a preencher todos os requisitos para o posto. Mas, até lá,
ele provavelmente não desfrutará
de uma lua-de-mel com os mercados semelhante à que outros
candidatos poderiam obter. A batalha contra a inflação, portanto,
provavelmente será mais difícil
do que precisaria ser, em outras
circunstâncias.
Alexandre Schwartsman é doutor em
economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley) e economista-chefe da
BBA Corretora.
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