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HORA DO AJUSTE
Governo aceita correção de 10% para pessoas físicas a partir de janeiro; centrais sindicais queriam 17%
Reajuste para o IR fica abaixo do esperado
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A tabela do Imposto de Renda
das pessoas físicas será corrigida
em 10% a partir de janeiro. A decisão, anunciada ontem pelo governo para atender parcialmente as
reivindicações das centrais sindicais, pode significar, na prática,
uma correção menor. Motivo: até
a noite de ontem, o governo não
havia deixado claro se corrigiria
apenas as faixas da tabela ou toda
ela (inclusive as deduções).
Nos próximos dias, o governo
deverá baixar uma medida provisória com a mudança. Reservadamente, membros da equipe econômica dizem que só serão corrigidas as faixas sobre as quais incidem os cálculos para o pagamento do IR na fonte, ficando de fora
as deduções. Ou seja, um jeito de
diminuir o benefício que seria dado à classe média, já que sem as
deduções a correção na prática ficaria em torno de 7%.
Já os sindicalistas saíram da reunião com a expectativa de que seria feita uma correção mais ampla
da tabela. "Haverá uma correção
de 10% no conjunto da tabela",
disse Luiz Marinho, presidente da
CUT (Central Única dos Trabalhadores), ao sair da reunião com
o presidente Lula.
A última correção da tabela
ocorreu em 2002, último ano do
governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). O reajuste foi
de 17,5%. Em agosto deste ano, o
governo criou um redutor de R$
100 aplicado à base de cálculo do
imposto. A medida, no entanto,
só vale até o final deste mês (inclusive o 13º salário).
Se vingar a correção apenas das
faixas, será uma vitória política do
ministro Antonio Palocci Filho
(Fazenda), que queria reajuste
menor do que 10%. Se for confirmada a expectativa dos sindicalistas, será uma derrota do ministro.
A correção da tabela é uma reivindicação que Lula resolveu
atender para tentar fazer um agrado à classe média. Marinho disse a
Lula que a medida seria bem recebida na base da CUT, um público
tradicional do petismo que andaria desiludido com o governo.
De acordo com o ministro do
Trabalho, Ricardo Berzoini, a correção em 10% significará perda de
arrecadação de R$ 2 bilhões no
ano que vem. A Receita Federal
informou ontem à tarde que a
perda pode chegar a R$ 3 bilhões.
A proposta apresentada na semana passada pelas centrais sindicais a Palocci previa reajuste de
10% no ano que vem. Para 2006-2007, haveria uma correção de sete pontos percentuais mais a inflação acumulada dos últimos dois
anos do governo Lula.
Os sindicalistas afirmam que essa proposta eliminaria todas as
perdas provocadas pela inflação
ao longo da administração petista. Segundo eles, nos dois primeiros anos do mandato, a inflação
acumulada chegará a 17%.
Na reunião de ontem, porém, o
governo não se comprometeu a
futuras correções da tabela. "O
governo não assumiu compromissos para o futuro, mas não se
omite em manter um diálogo
com as centrais", declarou Berzoini. "Não fixamos o ritmo nem
o momento de nova correção."
A avaliação dos sindicalistas é
que o reajuste de 10% para 2005 é
satisfatório. "Foi razoável. O governo fica nos devendo 6,37%",
disse o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva.
A Receita é contra a correção da
tabela com base nos índices de inflação, pois isso representa a volta
da indexação. Além disso, avalia-se que poucas pessoas pagam Imposto de Renda no país -cerca
de 7,5% da população economicamente ativa, ou seja, 19 milhões
de contribuintes.
(JULIANNA SOFIA E KENNEDY ALENCAR)
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