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Empresários vêem alta "desnecessária"
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A elevação da taxa básica de juros do Banco Central foi considerada incompreensível pelo meio
empresarial. Os representantes
do setor produtivo e do comércio
argumentam que não há pressões
inflacionárias ou tensões externas
que justifiquem a alta de 0,5 ponto
percentual fixada ontem.
Para Claudio Vaz, presidente do
Ciesp (Centro das Indústrias do
Estado de São Paulo), a decisão do
Copom é pré-construída pelas expectativas do setor financeiro. "O
BC é refém dessas expectativas."
Abram Szajman, presidente da
Fecomercio SP, diz que "a elevação foi desnecessária". "É mais
uma notícia ruim para o comércio, que já deve ter um primeiro
trimestre ruim em 2005", disse.
O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro Neto, é mais
uma voz descontente. "O atual ciclo de aperto monetário é excessivo, já que a trajetória da inflação
não indica aceleração", afirma.
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) informou que não entendeu os motivos que levaram o Copom a elevar mais uma vez a taxa Selic.
"Das reuniões do Copom pode-se esperar sempre o mesmo resultado: alta dos juros. Quando existe corrida para o dólar, sobem os
juros, quando há valorização
cambial e moeda norte-americana sobrando, aumenta-se a taxa
de juros também. Isso mais parece um jogo sem riscos. Mas só para o sistema financeiro", afirma.
Paulo Godoy, presidente da Abdib, da indústria de base, disse
que a alta dos juros mostra uma
"incoerência" do Banco Central e
tem efeito pouco eficiente no
combate à inflação. "É no mínimo
contraditória e incoerente a decisão do BC. A pressão inflacionária
no Brasil é sobretudo de custo, e
não demanda. Por isso, a alta dos
juros freia os investimentos e o
consumo", disse.
Na avaliação de Guilherme Afif
Domingos, presidente da ACSP
(Associação Comercial de São
Paulo), há um forte risco de desaceleração industrial no próximo
ano se o varejo registrar vendas
ruins neste Natal, como conseqüência da elevação nos juros.
"O varejo está empenhado em
vender a qualquer custo, mas se
virar o ano estocado, existe um
risco de redução na produção industrial", disse.
"O problema é que o governo
está exagerando na dose. Usando
cinto e suspensório na mesma
calça", completou Afif.
Congresso
O líder do governo, senador
Aloizio Mercadante (PT-SP), afirmou que o Copom (Comitê de
Política Econômica) precisou aumentar a Selic em 0,5 ponto percentual porque a meta de inflação
para 2005 estaria errada.
"A meta de inflação foi reduzida
para 4,5% no momento em que
aumenta o preço das commodities, do aço. O limite da banda é
7%, se a inflação está em 7,3%, o
Banco Central vai ter que aumentar a taxa de juros", disse ele.
O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), criticou a decisão do Copom. "Há um processo de arrefecimento da pressão
inflacionária, de redução do preço
do petróleo, o crescimento está
sendo puxado pelo setor exportador, então não consigo compreender o porquê de mais meio
ponto", afirmou o tucano.
Analistas
Na opinião de economistas, a
elevação da Selic pode ter sido a
última do atual ciclo de alta de juros. Para a economista-chefe do
banco UBS no Brasil, Victoria
Werneck, a taxa básica deve permanecer por alguns meses em seu
novo patamar (17,75%). Se as expectativas de inflação do mercado
derem sinais de convergência para a meta do governo, a Selic pode
cair em algum momento do segundo trimestre de 2005, avalia.
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