São Paulo, quinta-feira, 16 de dezembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Empresários vêem alta "desnecessária"

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A elevação da taxa básica de juros do Banco Central foi considerada incompreensível pelo meio empresarial. Os representantes do setor produtivo e do comércio argumentam que não há pressões inflacionárias ou tensões externas que justifiquem a alta de 0,5 ponto percentual fixada ontem.
Para Claudio Vaz, presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), a decisão do Copom é pré-construída pelas expectativas do setor financeiro. "O BC é refém dessas expectativas."
Abram Szajman, presidente da Fecomercio SP, diz que "a elevação foi desnecessária". "É mais uma notícia ruim para o comércio, que já deve ter um primeiro trimestre ruim em 2005", disse.
O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro Neto, é mais uma voz descontente. "O atual ciclo de aperto monetário é excessivo, já que a trajetória da inflação não indica aceleração", afirma.
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) informou que não entendeu os motivos que levaram o Copom a elevar mais uma vez a taxa Selic.
"Das reuniões do Copom pode-se esperar sempre o mesmo resultado: alta dos juros. Quando existe corrida para o dólar, sobem os juros, quando há valorização cambial e moeda norte-americana sobrando, aumenta-se a taxa de juros também. Isso mais parece um jogo sem riscos. Mas só para o sistema financeiro", afirma.
Paulo Godoy, presidente da Abdib, da indústria de base, disse que a alta dos juros mostra uma "incoerência" do Banco Central e tem efeito pouco eficiente no combate à inflação. "É no mínimo contraditória e incoerente a decisão do BC. A pressão inflacionária no Brasil é sobretudo de custo, e não demanda. Por isso, a alta dos juros freia os investimentos e o consumo", disse.
Na avaliação de Guilherme Afif Domingos, presidente da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), há um forte risco de desaceleração industrial no próximo ano se o varejo registrar vendas ruins neste Natal, como conseqüência da elevação nos juros.
"O varejo está empenhado em vender a qualquer custo, mas se virar o ano estocado, existe um risco de redução na produção industrial", disse.
"O problema é que o governo está exagerando na dose. Usando cinto e suspensório na mesma calça", completou Afif.

Congresso
O líder do governo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), afirmou que o Copom (Comitê de Política Econômica) precisou aumentar a Selic em 0,5 ponto percentual porque a meta de inflação para 2005 estaria errada.
"A meta de inflação foi reduzida para 4,5% no momento em que aumenta o preço das commodities, do aço. O limite da banda é 7%, se a inflação está em 7,3%, o Banco Central vai ter que aumentar a taxa de juros", disse ele.
O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), criticou a decisão do Copom. "Há um processo de arrefecimento da pressão inflacionária, de redução do preço do petróleo, o crescimento está sendo puxado pelo setor exportador, então não consigo compreender o porquê de mais meio ponto", afirmou o tucano.

Analistas
Na opinião de economistas, a elevação da Selic pode ter sido a última do atual ciclo de alta de juros. Para a economista-chefe do banco UBS no Brasil, Victoria Werneck, a taxa básica deve permanecer por alguns meses em seu novo patamar (17,75%). Se as expectativas de inflação do mercado derem sinais de convergência para a meta do governo, a Selic pode cair em algum momento do segundo trimestre de 2005, avalia.


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Para analista, ciclo de aperto está perto do fim
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.