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Para analista, ciclo de aperto está perto do fim
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O economista José Júlio Senna,
sócio diretor da MCM Consultores Associados, considerou dentro do esperado a decisão do Copom de aumentar a Selic em 0,5
ponto percentual. Segundo ele,
nos últimos meses, o aumento de
juro real foi de apenas um ponto
percentual, o que é pouco para
baixar a inflação. Ele acha, no entanto, que o ciclo de aperto monetário está perto do fim, desde que
caiam as expectativas de inflação.
Folha -O que o sr. achou da decisão do Copom?
José Julio Senna - A elevação foi
dentro do esperado, e acho que
não poderia ser diferente. A alternativa, 25 pontos de aumento,
não fazia sentido.
Folha - Por quê?
Senna -Primeiro porque 25 pontos não é nada. Um aumento de
25 pontos seria muito modesto e
sem cabimento para os patamares
de juros e de inflação do Brasil. Se
o BC tivesse dado um aumento de
apenas 25 pontos, o mercado iria
entender que o ciclo de aperto
chegou ao final e a taxa longa iria
cair, em vez de subir, como parece
desejável no momento para conter as expectativas de inflação.
Mas há uma outra razão. Todo
movimento de aperto monetário
envolve aumento da taxa Selic em
termos reais. Nos últimos meses,
a expectativa de inflação subiu 78
pontos, de 5% para 5,78%. Os juros subiram 175 pontos, de 16%
para 17,75%. Dessa forma, estamos falando de um aumento de
juros reais de apenas 1%.
Folha - Mas a alta dos juros não
valoriza o real contra o dólar?
Senna -O Banco Central já disse
claramente que não quer uma excessiva apreciação do real. A intervenção no câmbio foi sinal claro de que ao BC não interessa tal
apreciação. Contudo, tentar atingir esse objetivo mediante redução das taxas de juros seria uma
atitude difícil de ser interpretada.
O juro deve ser voltado exclusivamente para o combate à inflação.
Folha -A economia já não estava
num ritmo mais lento?
Senna -Existem sinais de desaquecimento, mas ainda não é possível se ter certeza de que o ritmo
de expansão da demanda se mostra compatível para se cumprir a
meta de inflação.
Folha - O sr. prevê novos aumentos de juros?
Senna -Novos aumentos dependerão muito do comportamento
das expectativas de inflação. Na
medida que melhorem, abre-se
espaço para projeções de inflação
muito próximas da meta. Se isto
se confirmar, é bem possível que,
em janeiro, o ciclo de aperto monetário seja interrompido.
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