São Paulo, quinta-feira, 16 de dezembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para analista, ciclo de aperto está perto do fim

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O economista José Júlio Senna, sócio diretor da MCM Consultores Associados, considerou dentro do esperado a decisão do Copom de aumentar a Selic em 0,5 ponto percentual. Segundo ele, nos últimos meses, o aumento de juro real foi de apenas um ponto percentual, o que é pouco para baixar a inflação. Ele acha, no entanto, que o ciclo de aperto monetário está perto do fim, desde que caiam as expectativas de inflação.
 

Folha -O que o sr. achou da decisão do Copom?
José Julio Senna
- A elevação foi dentro do esperado, e acho que não poderia ser diferente. A alternativa, 25 pontos de aumento, não fazia sentido.

Folha - Por quê?
Senna
-Primeiro porque 25 pontos não é nada. Um aumento de 25 pontos seria muito modesto e sem cabimento para os patamares de juros e de inflação do Brasil. Se o BC tivesse dado um aumento de apenas 25 pontos, o mercado iria entender que o ciclo de aperto chegou ao final e a taxa longa iria cair, em vez de subir, como parece desejável no momento para conter as expectativas de inflação. Mas há uma outra razão. Todo movimento de aperto monetário envolve aumento da taxa Selic em termos reais. Nos últimos meses, a expectativa de inflação subiu 78 pontos, de 5% para 5,78%. Os juros subiram 175 pontos, de 16% para 17,75%. Dessa forma, estamos falando de um aumento de juros reais de apenas 1%.

Folha - Mas a alta dos juros não valoriza o real contra o dólar?
Senna
-O Banco Central já disse claramente que não quer uma excessiva apreciação do real. A intervenção no câmbio foi sinal claro de que ao BC não interessa tal apreciação. Contudo, tentar atingir esse objetivo mediante redução das taxas de juros seria uma atitude difícil de ser interpretada. O juro deve ser voltado exclusivamente para o combate à inflação.

Folha -A economia já não estava num ritmo mais lento?
Senna
-Existem sinais de desaquecimento, mas ainda não é possível se ter certeza de que o ritmo de expansão da demanda se mostra compatível para se cumprir a meta de inflação.

Folha - O sr. prevê novos aumentos de juros?
Senna
-Novos aumentos dependerão muito do comportamento das expectativas de inflação. Na medida que melhorem, abre-se espaço para projeções de inflação muito próximas da meta. Se isto se confirmar, é bem possível que, em janeiro, o ciclo de aperto monetário seja interrompido.


Texto Anterior: Empresários vêem alta "desnecessária"
Próximo Texto: Receita ortodoxa: Juro maior pode elevar dívida em até R$ 2,3 bi
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.