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RECEITA ORTODOXA
Com 54% dos títulos públicos corrigidos pela Selic, aumento na taxa aumenta dívida, apesar de alívio cambial
Juro maior pode elevar dívida em até R$ 2,3 bi
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A alta dos juros anunciada ontem pelo Banco Central pode ter
um impacto de aproximadamente R$ 2,3 bilhões no endividamento do governo federal. Esse será o
aumento na dívida caso a taxa Selic seja mantida em 17,75% ao ano
pelos próximos 12 meses.
De acordo com dados divulgados pelo Tesouro Nacional e pelo
Banco Central, 53,82% dos títulos
públicos em circulação no país
são corrigidos pela taxa Selic. Por
isso, todo aumento na taxa provoca elevação na dívida do governo
federal. De setembro para cá, a Selic subiu 1,75 ponto percentual.
Os juros são, justamente, a principal causa do crescimento da dívida. Em novembro, os títulos públicos negociados no país somavam R$ 784,94 bilhões, R$ 8,44 bilhões a mais do que em outubro
-variação de 1,1%.
Praticamente todo esse aumento se explica pelos juros que incidem sobre a dívida, já que a taxa
de câmbio, outro fator que tem
grande peso sobre as finanças do
governo, tem apresentado comportamento favorável. No mês
passado, a cotação do dólar registrou queda de 4,4%.
Em novembro, 10,35% da dívida interna do governo federal era
corrigida pelo câmbio -em outubro, essa proporção estava em
11,24%. A redução da parcela da
dívida corrigida pelo dólar reflete
tanto a recente valorização do real
quanto a estratégia do governo de
recomprar parte dos papéis cambiais em circulação no mercado.
Em 2003, esses resgates somaram
US$ 19,1 bilhões. Neste ano, foram
US$ 27,8 bilhões.
"Foi extremamente positivo o
fato de o BC e o Tesouro terem reduzido a exposição cambial da dívida. Isso ajuda a diminuir a vulnerabilidade externa do país", diz
Sérgio Goldenstein, chefe do Departamento de Operações do
Mercado Aberto do BC.
Quanto menor a parcela da dívida corrigida pelo câmbio, menor será o impacto de uma eventual disparada do dólar nas contas
do governo. Em dezembro de
2002, 37% dos títulos do governo
federal estavam atrelados à oscilação da moeda dos EUA.
Além disso, o governo tenta aumentar o peso dos títulos prefixados no total da dívida. A idéia é,
justamente, reduzir o impacto
que mudanças na Selic tem sobre
a dívida pública -os juros pagos
pelos papéis prefixados são conhecidos no momento de sua
emissão, e não variam.
Em novembro, 18,71% da dívida
em títulos do governo federal era
composta por papéis prefixados.
No início do ano, essa proporção
estava em 12,57%.
O coordenador-geral da Dívida
Pública do Tesouro, Paulo Valle,
afirma que a estratégia do governo é insistir na emissão de um volume cada vez maior de papéis
prefixados. A venda desse tipo de
título costuma ser mais difícil em
cenários de maior incerteza, pois
os investidores preferem aplicar
em papéis pós-fixados, que oferecem maior proteção a eventuais
variações nas taxas de juros.
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