São Paulo, quinta-feira, 16 de dezembro de 2004

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RECEITA ORTODOXA

Com 54% dos títulos públicos corrigidos pela Selic, aumento na taxa aumenta dívida, apesar de alívio cambial

Juro maior pode elevar dívida em até R$ 2,3 bi

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A alta dos juros anunciada ontem pelo Banco Central pode ter um impacto de aproximadamente R$ 2,3 bilhões no endividamento do governo federal. Esse será o aumento na dívida caso a taxa Selic seja mantida em 17,75% ao ano pelos próximos 12 meses.
De acordo com dados divulgados pelo Tesouro Nacional e pelo Banco Central, 53,82% dos títulos públicos em circulação no país são corrigidos pela taxa Selic. Por isso, todo aumento na taxa provoca elevação na dívida do governo federal. De setembro para cá, a Selic subiu 1,75 ponto percentual.
Os juros são, justamente, a principal causa do crescimento da dívida. Em novembro, os títulos públicos negociados no país somavam R$ 784,94 bilhões, R$ 8,44 bilhões a mais do que em outubro -variação de 1,1%.
Praticamente todo esse aumento se explica pelos juros que incidem sobre a dívida, já que a taxa de câmbio, outro fator que tem grande peso sobre as finanças do governo, tem apresentado comportamento favorável. No mês passado, a cotação do dólar registrou queda de 4,4%.
Em novembro, 10,35% da dívida interna do governo federal era corrigida pelo câmbio -em outubro, essa proporção estava em 11,24%. A redução da parcela da dívida corrigida pelo dólar reflete tanto a recente valorização do real quanto a estratégia do governo de recomprar parte dos papéis cambiais em circulação no mercado. Em 2003, esses resgates somaram US$ 19,1 bilhões. Neste ano, foram US$ 27,8 bilhões.
"Foi extremamente positivo o fato de o BC e o Tesouro terem reduzido a exposição cambial da dívida. Isso ajuda a diminuir a vulnerabilidade externa do país", diz Sérgio Goldenstein, chefe do Departamento de Operações do Mercado Aberto do BC.
Quanto menor a parcela da dívida corrigida pelo câmbio, menor será o impacto de uma eventual disparada do dólar nas contas do governo. Em dezembro de 2002, 37% dos títulos do governo federal estavam atrelados à oscilação da moeda dos EUA.
Além disso, o governo tenta aumentar o peso dos títulos prefixados no total da dívida. A idéia é, justamente, reduzir o impacto que mudanças na Selic tem sobre a dívida pública -os juros pagos pelos papéis prefixados são conhecidos no momento de sua emissão, e não variam.
Em novembro, 18,71% da dívida em títulos do governo federal era composta por papéis prefixados. No início do ano, essa proporção estava em 12,57%.
O coordenador-geral da Dívida Pública do Tesouro, Paulo Valle, afirma que a estratégia do governo é insistir na emissão de um volume cada vez maior de papéis prefixados. A venda desse tipo de título costuma ser mais difícil em cenários de maior incerteza, pois os investidores preferem aplicar em papéis pós-fixados, que oferecem maior proteção a eventuais variações nas taxas de juros.


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