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ESTUDO
Economia da região crescerá 5,5% neste ano e 4% em 2005, prevê Cepal
AL terá maior expansão desde 1980
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A economia latino-americana
crescerá 5,5% neste ano, a maior
taxa desde 1980. Em 2005, a expansão deve atingir 4%, taxa alta
dado o desempenho pífio dos últimos anos, mas ainda insuficiente para atender às necessidades de
redução de pobreza e desigualdade da região, segundo avaliação
da Cepal (Comissão Econômica
para a América Latina e o Caribe).
A Cepal divulgou ontem relatório em que avalia o desempenho
econômico da região e faz previsões para o próximo ano. "É um
resultado [o de 2004] bom. Ainda
não é o que necessita a região, mas
é um resultado claramente positivo", diz José Luis Machinea, ex-ministro da Economia argentino
e secretário-executivo da Cepal.
O ano de 2004 será, sob todos os
aspectos, o melhor em muitos
anos para a região. Os 5,5% atingidos agora são a maior taxa desde 1980, ano em que começou o
que se convencionou chamar de
"a década perdida". Desde então,
em apenas um ano, 1997, as maiores economias latino-americanas
-Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Venezuela-
cresceram ao mesmo tempo a taxas maiores do que 3%.
A diferença entre os anos 90 e
agora é que a região cresce com
saldo na balança comercial e da
conta de transações correntes
-que contabiliza as relações econômicas entre a região e o resto
do mundo. Ou seja, a maior parte
dos países latino-americanos não
usou o que se convenciona chamar de "poupança externa" para
atingir a taxa recorde de crescimento neste ano. "Sempre que a
região crescia, aparecia o estrangulamento externo. Essa mudança [o aumento das exportações
com a expansão da economia] é
boa, porque reduz as chances de
estrangulamento", avalia o secretário-executivo da Cepal.
Ele salienta, no entanto, que a
expansão "reduz" e não elimina o
risco externo. Machinea lembra
que grande parte do dinamismo,
se não quase todo ele, da região
em 2004 é explicada pelo cenário
róseo da economia mundial.
A expansão mundial ajudou a
maioria dos países da América
Latina de duas formas. Primeiro,
aumentou a procura por produtos da região. Segundo, o aquecimento levou à melhora dos preços das commodities, que respondem por parte importante da
pauta de exportações latino-americanas.
A Cepal não vê problemas no fato de o setor exportador responder por parte importante do dinamismo econômico, mas avalia
que ainda há uma fragilidade em
relação à composição da pauta
exportadora. "O desafio de médio
prazo é diversificar as exportações", diz Machinea.
Apesar de positivo, o resultado
não é exatamente impressionante. Basta lembrar que vários países
da região tiveram desempenho
ruim -caso do Brasil, com a economia estagnada em 2003- ou
caótico -Argentina, Venezuela e
Uruguai- no passado recente.
Tanto que a melhora não se refletiu ainda em avanços no mercado
de trabalho e ajudou, na avaliação
da Cepal, a reduzir apenas "ligeiramente" o nível de pobreza, que
caiu de 44,4% da população em
2003 para 42,9% neste ano.
Para 2005, os economistas da
Cepal estimam um crescimento
de 4%, com todas as ressalvas que
esse tipo de previsão exige. Há, diz
a comissão, riscos externos, como
os desequilíbrios da economia
dos EUA, o preço do petróleo e a
desaceleração chinesa. Fora as
barreiras que podem surgir no cenário internacional, Machinea
lembra que ainda podem atrapalhar ou ajudar os países a direção
da política monetária e fiscal e o
aumento da competitividade.
Muitos países da região cresceram usando a capacidade produtiva até agora ociosa por conta dos
anos de estagnação. A partir de
agora, e cada vez mais, o crescimento dependerá de novos investimentos, o que preocupa a maioria dos economistas da região, incluindo os da Cepal. A taxa de investimento deve ficar em 18,8%
do PIB (Produto Interno Bruto),
contra uma média na última década de 19,6%. "Não vamos manter o crescimento sem elevar esse
patamar para, no mínimo, 25%",
diz Machinea. A solução alternativa seria usar a poupança externa
-investimentos e empréstimos
estrangeiros- para financiar o
crescimento, algo que, para grande parte dos economistas, levaria
os países a cometer os mesmos erros da década passada.
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