São Paulo, quinta-feira, 16 de dezembro de 2004

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ESTUDO

Economia da região crescerá 5,5% neste ano e 4% em 2005, prevê Cepal

AL terá maior expansão desde 1980

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A economia latino-americana crescerá 5,5% neste ano, a maior taxa desde 1980. Em 2005, a expansão deve atingir 4%, taxa alta dado o desempenho pífio dos últimos anos, mas ainda insuficiente para atender às necessidades de redução de pobreza e desigualdade da região, segundo avaliação da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe).
A Cepal divulgou ontem relatório em que avalia o desempenho econômico da região e faz previsões para o próximo ano. "É um resultado [o de 2004] bom. Ainda não é o que necessita a região, mas é um resultado claramente positivo", diz José Luis Machinea, ex-ministro da Economia argentino e secretário-executivo da Cepal.
O ano de 2004 será, sob todos os aspectos, o melhor em muitos anos para a região. Os 5,5% atingidos agora são a maior taxa desde 1980, ano em que começou o que se convencionou chamar de "a década perdida". Desde então, em apenas um ano, 1997, as maiores economias latino-americanas -Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Venezuela- cresceram ao mesmo tempo a taxas maiores do que 3%.
A diferença entre os anos 90 e agora é que a região cresce com saldo na balança comercial e da conta de transações correntes -que contabiliza as relações econômicas entre a região e o resto do mundo. Ou seja, a maior parte dos países latino-americanos não usou o que se convenciona chamar de "poupança externa" para atingir a taxa recorde de crescimento neste ano. "Sempre que a região crescia, aparecia o estrangulamento externo. Essa mudança [o aumento das exportações com a expansão da economia] é boa, porque reduz as chances de estrangulamento", avalia o secretário-executivo da Cepal.
Ele salienta, no entanto, que a expansão "reduz" e não elimina o risco externo. Machinea lembra que grande parte do dinamismo, se não quase todo ele, da região em 2004 é explicada pelo cenário róseo da economia mundial.
A expansão mundial ajudou a maioria dos países da América Latina de duas formas. Primeiro, aumentou a procura por produtos da região. Segundo, o aquecimento levou à melhora dos preços das commodities, que respondem por parte importante da pauta de exportações latino-americanas.
A Cepal não vê problemas no fato de o setor exportador responder por parte importante do dinamismo econômico, mas avalia que ainda há uma fragilidade em relação à composição da pauta exportadora. "O desafio de médio prazo é diversificar as exportações", diz Machinea.
Apesar de positivo, o resultado não é exatamente impressionante. Basta lembrar que vários países da região tiveram desempenho ruim -caso do Brasil, com a economia estagnada em 2003- ou caótico -Argentina, Venezuela e Uruguai- no passado recente. Tanto que a melhora não se refletiu ainda em avanços no mercado de trabalho e ajudou, na avaliação da Cepal, a reduzir apenas "ligeiramente" o nível de pobreza, que caiu de 44,4% da população em 2003 para 42,9% neste ano.
Para 2005, os economistas da Cepal estimam um crescimento de 4%, com todas as ressalvas que esse tipo de previsão exige. Há, diz a comissão, riscos externos, como os desequilíbrios da economia dos EUA, o preço do petróleo e a desaceleração chinesa. Fora as barreiras que podem surgir no cenário internacional, Machinea lembra que ainda podem atrapalhar ou ajudar os países a direção da política monetária e fiscal e o aumento da competitividade.
Muitos países da região cresceram usando a capacidade produtiva até agora ociosa por conta dos anos de estagnação. A partir de agora, e cada vez mais, o crescimento dependerá de novos investimentos, o que preocupa a maioria dos economistas da região, incluindo os da Cepal. A taxa de investimento deve ficar em 18,8% do PIB (Produto Interno Bruto), contra uma média na última década de 19,6%. "Não vamos manter o crescimento sem elevar esse patamar para, no mínimo, 25%", diz Machinea. A solução alternativa seria usar a poupança externa -investimentos e empréstimos estrangeiros- para financiar o crescimento, algo que, para grande parte dos economistas, levaria os países a cometer os mesmos erros da década passada.


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