São Paulo, sábado, 16 de dezembro de 2006

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Lojas fazem compras de última hora para o Natal

Varejo segurou pedidos por causa do fraco desempenho do 3º trimestre

Ação de última hora gera problema de logística e reflete cautela do empresário, e não um aquecimento das vendas


Rogerio Casimiro/Folha Imagem
Estoque na central da empresa de logística Metropolitan


ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O comércio deixou o Natal para a última hora. Que o consumidor aja dessa forma, já é prática comum. O inusitado é que, no Natal de 2006, empresas de eletrônicos entregaram mercadorias até a primeira semana de dezembro -e para itens que deveriam estar nas lojas desde novembro. Não é um movimento perceptível, pois acontece na "coxia" das lojas.
Empresas de logística que trabalham para companhias de telefonia celular, por exemplo, atenderam nesta semana novos pedidos do varejo.
Isso não quer dizer que haverá explosão de consumo ou uma forte aceleração nas compras não esperada pelo mercado. A explicação é que, desestimuladas com o esfriamento nas vendas de determinados produtos desde julho, os fornecedores aguardaram sinais mais consistentes na demanda para confirmar as encomendas.
A Metropolitan Logística, empresa de distribuição, que atende a grupos como Claro, TIM e Electrolux, informa que há empresas varejistas colocando na mesa novos pedidos para retirada de mercadorias na indústria ainda nesta semana. "Recebemos a entrega, e o produto nem entra no estoque da loja, vai direto para a venda. Neste ano, há um volume muito maior de encomendas de última hora. Estamos trabalhando com cerca de 500 caminhões, o dobro da frota normal, para dar conta de tudo", disse Cristiano Baran, diretor-executivo da Metropolitan.
De acordo com a Semp Toshiba, fabricante de produtos eletrônicos, a empresa realizou entregas para os lojistas até os primeiros dias de dezembro. A companhia percebe um movimento de confirmação de encomendas ainda em novembro, quando seria o período final de entregas aos comerciantes. "Agora já estamos trabalhando para a entrega de produtos para janeiro e não aceitamos mais pedidos. Nem dá para atender mais", disse Luis Freitas, diretor de vendas da Semp Toshiba.
Todo o processo de compra e entrega de mercadorias envolve um complicado esquema logístico que passa por outros Estados. Boa parte dos itens vendidos no Natal vem da Zona Franca de Manaus. Demora cerca de 15 dias para o produto sair de Manaus, de navio, passar por Belém e chegar a São Paulo, pelas rodovias. Isso se a fábrica tiver os insumos para a produção em estoque -entre a colocação do pedido na Ásia e a entrega de componentes (usados em celulares e TVs) no Brasil, são gastos três meses.
Na avaliação de especialistas, o movimento de compra de última hora é reflexo de um esfriamento na demanda a partir de julho. As vendas no varejo em geral sofreram um baque desde o final da Copa do Mundo até setembro, quando apareceram os primeiros indicadores de certa recuperação.
O problema é que os pedidos de Natal do varejo para a indústria deveriam começar a ser feitos no terceiro trimestre do ano, em meio à fuga de consumidores das lojas. Isso não estimulou o varejo a fazer grandes pedidos à época.
Essa fuga de clientes aconteceu devido ao aumento no volume de contas a pagar do brasileiro, com maior inadimplência e queda na confiança do consumidor.
"Acreditamos que, neste ano, teremos ainda mais compras no último segundo. Os dois ou três dias antes do Natal serão infernais", disse Hugo Bethlem, diretor-executivo das redes CompreBem e Sendas, do grupo Pão de Açúcar.
Segundo Waldemir Coleone, superintendente das Lojas Cem, não houve demanda de última hora, por parte das lojas da empresa, a seus fornecedores. "Estamos operando normalmente. O que está chegando a nossos pontos, em mais de 180 caminhões que temos, já foi encomendado e está em linha com o que precisamos", disse ele. A rede varejista registrou neste mês alta de 5% nas vendas, até o momento.


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