São Paulo, sábado, 16 de dezembro de 2006

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Acionistas vetam mudança na Telemar

Investidores estrangeiros foram fundamentais para barrar reestruturação societária em assembléia da empresa

Com a reforma cancelada, Telemar estuda compra de novos ativos, entre eles a TIM Brasil, já disputada pela Telmex e a Brasil Telecom


ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

Os investidores estrangeiros rejeitaram ontem a proposta de mudança societária apresentada pelos acionistas controladores da Telemar. Diante do resultado da assembléia de acionistas, o presidente da companhia, Luiz Eduardo Falco, disse que a Telemar volta a analisar a compra de novos ativos, inclusive a TIM Brasil.
Indagado se a compra da TIM Brasil, em parceria com a Brasil Telecom, estaria entre as opções de compra a serem examinadas, respondeu: ""Qualquer ativo". A TIM está sendo disputada, segundo informações do mercado, pelo grupo mexicano Telmex e pela Brasil Telecom. Segundo Falco, a reestruturação rejeitada ontem incluía o compromisso de pagamento de dividendos anuais de R$ 3 bilhões aos acionistas, o que deixa de existir. ""Passamos a ter opção de fazer compras [de empresas] em dinheiro. Coisa que não tínhamos."
As ações da Telemar caíram ontem na Bovespa após a assembléia.
Falco admitiu estar frustrado com a rejeição, mas disse que a assembléia -a primeira no país em que só os preferencialistas votaram- foi um sucesso e citou trecho de ""Emoções", de Roberto Carlos, para expressar seu estado de espírito: "Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi".
Falco reafirmou que a estratégia da Telemar é ser a plataforma nacional de telecomunicações, para concorrer com os dois grupos estrangeiros que já consolidaram presença no país, dentro do cenário previsto de concentração do setor: a Telmex, do México (dona da Claro e da Embratel e sócia da Net), e a espanhola Telefónica.
Ele disse que, se a reestruturação tivesse sido aprovada, a incorporação de novos ativos se daria de forma mais rápida porque a empresa estaria livre para aumentar seu capital e fundir-se com outras empresas por meio de troca de ações.
A derrota dos controladores na assembléia surpreendeu não só a direção da empresa como aos próprios investidores presentes na assembléia.
Antes da assembléia de ontem, a empresa tinha feito outras duas tentativas de votar a reforma, mas as assembléias não se realizaram por falta de quórum. Nas duas primeiras foi exigida presença mínima de 50% dos titulares de ações preferenciais. Na terceira tentativa, a CVM autorizou só 25%.
A primeira surpresa, na assembléia de ontem, foi o comparecimento de representantes de 65,9% das ações preferenciais e de 67,6% das ordinárias. Na primeira assembléia, haviam comparecido apenas 29%. Na segunda, 35%.
Alguns investidores interpretaram que os acionistas controladores esvaziaram as duas primeiras assembléias, apostando que ganhariam com a redução do quórum.
Por ordem judicial, os acionistas tiveram de se identificar nas cédulas de votação, mas a Telemar não revelou quem votou contra. Admitiu, no entanto, que o veto foi decidido por investidores institucionais estrangeiros, que consideram a proposta prejudicial. O resultado da votação -36,94% dos preferencialistas contra, 28,94% a favor (o resto não compareceu)- surpreendeu representantes de fundos estrangeiros que eram contra a proposta: o Brandes (EUA) e o Genesis, do Reino Unido.
Pela proposta, as ações preferenciais seriam convertidas em ações com direito a voto, na proporção de 2,6 para 1. Segundo Marcos Duarte, diretor da Polo Capital, a posição dos preferencialistas sobre o capital total cairia de 60% para 40%, e eles perderiam R$ 7 bilhões. Para o presidente da Telemar, as ações iriam se valorizar com a reestruturação, e os acionistas acabariam beneficiados a médio prazo.
Segundo Luis Falco, os acionistas controladores da Telemar (BNDES, AG Telecom, La Fonte, GP Investimentos, fundos de pensão e seguradoras) não farão outra proposta de reforma societária. Segundo ele, os acionistas consideram ter feito a melhor oferta possível.


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