São Paulo, sábado, 16 de dezembro de 2006

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China e EUA não têm avanços em negociação

Rodada com o alto escalão dos governos para discutir temas econômicos acaba com promessas genéricas

DO "NEW YORK TIMES"

Importantes funcionários dos governos da China e dos EUA concluíram ontem uma sessão de dois dias de negociações sobre disputas econômicas, com promessas genéricas de avanço e o estabelecimento de diversos grupos de trabalho. Eles evitaram sinalizar qualquer progresso concreto quanto à mais importante demanda americana: a de que a China deixe de manter desvalorizada a sua moeda como maneira de promover as exportações.
A despeito da falta de promessas específicas quanto à questão cambial e outros problemas, Henry Paulson Jr., secretário do Tesouro dos EUA, declarou que o diálogo econômico estratégico, que envolveu diversos funcionários de nível ministerial e o presidente do Fed (o BC americano), Ben Bernanke, prepararia o terreno para futuros progressos.
Paulson afirmou que, como resultado das conversas, a China tomaria medidas de abertura de sua economia e passaria a impor com mais rigor os direitos de propriedade intelectual, bem como adotaria "maior flexibilidade" quanto às taxas de câmbio. Os EUA disseram que se esforçariam em ampliar seus índices de poupança, de modo a reduzir os montantes que tomam emprestados da China.
Bernanke classificou o iuan subvalorizado como, "na prática, um subsídio" às exportações chinesas, ao divulgar antecipadamente o texto de um discurso que proferiria -mas ele não repetiu a afirmação depois.
Representantes dos EUA destacaram o fato de que a China havia permitido que a cotação do iuan subisse cerca de 5,8% em relação ao dólar nos últimos 18 meses, o que pode ter acontecido como resposta à pressão norte-americana.
Em longas reuniões conduzidas na sede cerimonial do Legislativo chinês, Paulson comandou um esforço bem coordenado de parte dos norte-americanos para persuadir os chineses a adotarem reformas em suas políticas econômicas.
Ainda que funcionários do governo norte-americano tenham argumentado que um ritmo mais rápido de reforma interessava igualmente à China, os representantes do governo chinês rebateram afirmando que seu país precisa avançar no ritmo que lhe é mais conveniente, dado o histórico de pobreza, domínio colonial e guerras civis que a China tem.
"Nossa maior esperança", disse a líder da delegação chinesa, Wu Yi, primeira-ministra-assistente da China, "é permitir que os povos do mundo saibam que o desenvolvimento da China representa uma oportunidade, e não uma ameaça, para o planeta e que ele constitui uma força propulsora por trás do crescimento mundial".
O discurso de Paulson pedia "resultados tangíveis" para o diálogo econômico estratégico. Os assessores do secretário do Tesouro disseram que ele estava falando de um cronograma de dois anos, e não pedindo mudanças nesta semana.
Wu disse que as reformas chinesas estavam passando por aceleração maior do que os espectadores percebiam. Seus colegas mencionaram muitas estatísticas, demonstrando, por exemplo, que os gastos dos consumidores chineses já estavam fazendo da China um país mais dependente dos gastos domésticos do que das exportações, como fonte de crescimento.
"A reforma e a abertura são as características mais marcantes da China contemporânea", disse ela, embora enfatizasse que a China pretendia manter "um sistema de economia de mercado socialista".

Benefícios
Em seu discurso, Bernanke declarou que um regime de câmbio livre para o iuan seria benéfico para o crescimento econômico chinês e ainda ofereceria mais liberdade de ação ao banco central chinês.
Ele explicou que, para manter baixo o valor da moeda chinesa, a China precisava adquirir dólares e inundar o país com moeda local. De acordo com sua argumentação, porque isso viria a produzir inflação, as autoridades chinesas optaram por vender títulos financeiros aos cidadãos do país como forma de "esterilizar" a economia contra a inflação gerada pela oferta excessiva de dinheiro.
Diversos funcionários do governo americano disseram que a mais dura das palestras foi de Susan Schwab, a representante dos EUA para o comércio internacional. Ela apresentou uma longa lista de queixas, alegando que a China "enrolava" para cumprir as obrigações de abrir sua economia, que assumiu ao aderir à OMC (Organização Mundial do Comércio).


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