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LUÍS NASSIF
A mudança na geopolítica mundial
Há mudanças fundamentais ocorrendo no panorama geopolítico global, com implicações profundas sobre as políticas econômica, comercial e
diplomática brasileiras, e que
aparentemente ainda não foram
incorporadas às discussões.
O atentado terrorista de 11 de
setembro foi um divisor de águas
para o mundo. Desde a queda do
Muro de Berlim (1989), os Estados Unidos haviam se consolidado como a única potência hegemônica mundial, maior potência econômica, e o dólar, como a
grande moeda internacional.
De um lado, essa globalização
financeira ajudou a ampliar a
presença dos EUA no mundo. De
outro, atraiu fluxos de poupança
internacional, atrás de oportunidades de investimento nos
EUA, ajudando a fechar suas
contas externas e a financiar seu
déficit público.
Segundo levantamentos do
consultor André Araújo, de 1990
a 2000 -época de ouro dessa
globalização financeira- os
bancos e corporações americanas na América Latina remeteram para suas matrizes cerca de
US$ 1 trilhão em lucros, juros e
royalties. Além disso, cerca de
US$ 900 bilhões de dinheiro frio
foram remetidos para os EUA,
paraísos fiscais e Europa pela elite política, financeira e empresarial latino-americana, acabando em grande parte nos EUA,
único mercado financeiro capaz
de absorver esses volumes.
No mesmo período cerca de
4.000 bancos, empresas de serviços públicos, de mineração, petróleo, de comércio e indústria
foram adquiridas por bancos e
corporações norte-americanas.
O superávit comercial com a
área cobriu 25% do déficit comercial com a Ásia e mais de
50% do déficit com a Europa. As
taxas de retorno do capital americano na América Latina corresponderam de duas a três vezes o que obteriam nos EUA.
Como resultado dessa expansão do domínio americano já
executada na área, as exportações latino-americanas, se excluídas as simples maquiagens,
petróleo e minérios, caíram consideravelmente, em grande parte
devido a restrições não-tarifárias.
O caso mexicano é emblemático, diz Araújo. Em muitos produtos o valor adicionado não
chega a 3%. Para exportar US$
165 bilhões ao ano, as "maquiladoras" (empresas que se mudaram para o México apenas para
montar produtos) importaram
US$ 159 bilhões, segundo estatísticas ainda a comprovar.
Os compromissos paralelos assumidos pelo governo norte-americano nos tratados que levaram ao Nafta não foram cumpridos, principalmente na regularização da imigração mexicana e alguns outros pontos de caráter emblemático forte, como o
acesso de caminhões mexicanos
e seus motoristas nas rodovias
americanas -direito até agora
negado, enquanto caminhões e
motoristas americanos têm livre
acesso ao México, diz Araújo.
Com o fim do sonho financeiro, a situação muda drasticamente. Depois do grande porre
especulativo dos anos 90, o que
se percebe é que os EUA são uma
economia combalida, que não
conseguirá mais financiar seus
déficits externo e fiscal com investimento externo, obrigando a
uma profunda mudança de rota
ainda a ser entendida e analisada pelo Brasil.
Nesse contexto, há pessoas como o próprio Araújo que consideram que a Alca (Área de Livre
Comércio das Américas) será
simplesmente um processo de
anexação. Seja qual for a conclusão, esse novo quadro geopolítico obriga a uma reavaliação
profunda de estratégia.
Réquiem
A venda da Tele Centro Oeste
Celular para a BrasilCel é uma
derrota para o país, e que demonstra à exaustão os erros dessa armadilha financeira na qual
nos metemos.
A empresa foi adquirida por
um grupo brasileiro, foi tocada
com técnicos brasileiros. Em
pouco tempo, se revelou a melhor companhia celular do país.
O que faltava? Fôlego financeiro
dos controladores brasileiros,
que se endividaram para a sua
aquisição.
A dívida chegava a R$ 1 bilhão. Não conseguiram financiamento, nem no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social), dando
ações como garantia.
A TCO tornou-se uma máquina de liquidez. Seu EBITDA em
2002 deve chegar a R$ 600 milhões, o lucro líquido a R$ 300
milhões. Para sobreviver, tentou
a compra da Telemig Celular,
uma composição com a Brasil
Telecom. Nada prosperou.
A partir de ontem, por R$ 1,4
bilhão, deixou de ser de capital
nacional.
E-mail -
lnassif@uol.com.br
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