Técnicos do Ipea entregaram ao presidente do órgão, Marcio Pochmann, um abaixo-assinado com 32 assinaturas manifestando "perplexidade e desacordo" com os critérios adotados na elaboração das provas para o último concurso público do Ipea, realizado no fim de 2008.
"Essa manifestação justifica-se por nossa apreensão com as consequências que a seleção de candidatos com base em questões eivadas de problemas de sintaxe gramatical e lógica, bem como de nível inadequado para a escolha de técnicos de formação superior, poderá acarretar para a qualidade dos pesquisadores admitidos", disseram os economistas na carta, datada de 29 de dezembro.
Com 62 vagas abertas para técnicos de planejamento e pesquisa, cargo com salário inicial de R$ 10,9 mil, o conteúdo das provas provocou polêmica. Diferente do concurso anterior para o mesmo cargo, realizado em 2004, o nível de exigência de estatística, econometria, teoria econômica e economia brasileira caiu e a prova abordou algumas questões de caráter ideológico.
Os economistas que assinaram o documento citaram três aspectos para qualificar a prova como inadequada para a seleção. O nível de conhecimento científico para as questões teóricas foi classificado como "ostensivamente insuficiente para a seleção de técnicos para uma instituição de pesquisa como o Ipea". Outra crítica foi o número reduzido de questões sobre métodos quantitativos.
Por fim, eles criticaram as questões objetivas, em que os candidatos precisavam responder se as afirmativas eram certas ou erradas. Para os economistas, as questões não tinham comprovação empírica e, portanto, não admitem avaliação de verdadeiro ou falso.
Um exemplo dessas questões é a afirmativa "o termo neoliberalismo designa uma corrente de organização de atividade econômica que capciosamente ecoa um movimento histórico com o qual em realidade e na prática não compartilha fundamentos e princípios", cuja resposta no gabarito é "certo".
"De forma viciosa, portanto, os candidatos viram-se induzidos a escolher aquela resposta que mais lhes parecia se coadunar com os supostos pontos de vista dos formuladores da prova", afirmam os economistas.
As críticas sobre os critérios de seleção para os novos técnicos do Ipea são mais uma polêmica que envolve o órgão desde que Marcio Pochmann assumiu a presidência, em agosto de 2007. Uma de suas primeiras ações foi o afastamento, em novembro de 2007, de economistas considerados independentes e não alinhados com o pensamento econômico do governo -Fabio Giambiagi, Otávio Tourinho, Gervásio Rezende e Regis Bonelli. Na época, o Ipea negou perseguição ideológica.