São Paulo, sábado, 17 de janeiro de 2009

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Crise leva montadoras dos Estados Unidos a reduzir número de revendedores

JOSÉ AUGUSTO AMORIM
ENVIADO ESPECIAL A DETROIT

A queda na venda de automóveis não afeta apenas as montadoras mas também quem faz a ponte com os consumidores: as concessionárias. Nos EUA, o cenário é ainda pior para os distribuidores das fabricantes locais.
Em troca de um empréstimo federal de US$ 17,4 bilhões, a Chrysler e a General Motors incluíram em seus planos de reestruturação a redução do número de revendas. A Ford -que tem engatilhado um pedido de US$ 9 bilhões caso a situação se agrave- prevê o mesmo para as suas 4.000 autorizadas. "Precisamos de menos", diz Mark Fields, presidente da Ford para as Américas. "Elas devem ser rentáveis para poderem reinvestir. É preciso menos competição entre concessionárias localizadas muito próximas umas das outras."
Ele acrescenta que a proximidade entre as revendas as obriga a reduzir os preços, e o consumidor não gosta de valores "diferentes em lojas da mesma marca". Fields -para quem a concentração prejudicial está nas grandes cidades- conseguiu algum apoio já. A Al Long, de Warren (na Grande Detroit), deixou de vender os carros novos da Ford para se tornar uma loja de usados. Passou a oferecer modelos do grupo GM, da Honda e da Audi, entre outros. A ideia, diz a empresa, foi "dar aos colegas da área a chance de capitalizar as vendas e a distribuição".
Porém, para Annette Sykora, presidente da Nada (Associação Nacional dos Concessionários Automotivos, na sigla em inglês), o discurso das montadoras não faz sentido. "As concessionárias não são um custo para as montadoras. Na verdade, investimos dinheiro privado em prédios e em veículos." Atualmente, as cerca de 20 mil autorizadas americanas -no Brasil, há 5.000- empregam 1,1 milhão de pessoas e são responsáveis por 18% de todas as vendas no varejo do país. No ano passado, foram vendidos 13,2 milhões de carros, mas analistas apontam que, neste ano, não serão mais do que 10 milhões.
A Folha visitou, na quarta-feira, a revenda Lochmoor (Chrysler e Jeep) em Grosse Pointe (também na Grande Detroit). O frio abaixo de 10C não ajudava o comércio, mas o fato é que não havia ninguém na loja -mesmo cenário visto nas revendas Dodge e GMC na mesma avenida. Charles Martin, gerente de fidelização de clientes da concessionária, diz que o perfil da compra tem mudado. Em dezembro, por exemplo, houve aumento de 60% nas vendas de carros usados em relação ao mesmo mês de 2007.
A Chrysler é a montadora que mais tem visto suas vendas encolherem. Ainda que as vendas do Jeep Patriot tenham crescido 6% em dezembro, as do Dodge Ram encolheram 48,3% em comparação com dezembro de 2007. No total de 2008, a montadora teve retração de 30% nas vendas nos EUA. No Brasil, cresceram 29%. Para Sykora, ela mesma uma revendedora Ford e Chrysler no Texas, podem existir pequenas alterações nas políticas das marcas, mas o geral é igual. Isso pode ser visto no fato de que 45% dos concessionários Toyota também têm uma loja da GM.
"Em dezembro, vimos declínio em todas as linhas. Tem muito a ver com confiança do consumidor, e ela está baixa. Precisamos recuperar a confiança na indústria automotiva", diz. A grande saída para as concessionárias tem sido o setor de serviço e peças. O balanço de 2007 da Nada -o de 2008 fica pronto em maio- aponta que as concessionárias ganharam mais de US$ 4 milhões com serviços e peças.

JOSÉ AUGUSTO AMORIM teve a passagem aérea paga pela Anfavea


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