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LUÍS NASSIF
Didi, Vavá e Zizinho
Em pouco tempo morreram
três lendas do futebol brasileiro: Zizinho, o grande capitão
da Copa de 50, Didi, o comandante maior das Copas de 58 e
62, e Vavá, o imenso centroavante de 58. A bem da verdade,
não tenho certeza se alguma vez
assisti a Zizinho jogando, reconhecido por todos os que o viram
jogar como o maior da história,
depois de Pelé.
Digo não ter certeza porque
certa vez, no início dos anos 60,
uma seleção brasileira de veteranos se apresentou em Poços de
Caldas. Mas acho que Zizinho
não foi, porque todos os olhos se
voltavam para Jair da Rosa Pinto, o Jajá, meio-campista companheiro de Zizinho na Copa de 50,
canelas finas, emérito lançador,
temível cobrador de faltas e ainda uma lenda viva.
Infelizmente, a televisão engatinhava, o Canal 100 de Carlos
Niemayer ainda não tinha a expressão que veio adquirir depois,
e ficamos sem as grandes cenas
da geração anterior a 58. Portanto as lendas do esporte começaram a se firmar, mesmo, a
partir da Copa de 58.
É inegável a importância do
futebol na formação do caráter
nacional e, especialmente, as
chamadas cenas épicas, aquelas
que se fixam no imaginário popular, que ajudam a superar
complexos, a firmar a auto-estima. O símbolo máximo do moderno EUA é a foto dos soldados
fincando a bandeira do país no
monte de Ivo Jima, na Segunda
Guerra. Para o Brasil, são as cenas inesquecíveis do futebol.
Em 58, as fotos com arrancadas e gols do centroavante Vavá,
especialmente nos jogos contra a
Rússia e a França, geravam arrepios de emoção. Parecia uma
flecha em direção ao gol. Sempre
admirei o estilo de outros centroavantes rompedores, como
Silva, César, Roberto Dinamite,
do imenso Careca. Mas os botes
de Vavá eram inigualáveis.
Outro momento histórico foi a
garra de Garrincha na Seleção
de 62, assim como a garra e a cabeçada de Zito abrindo o placar
no jogo final contra a Tchecoslováquia. A participação de Amarildo, substituindo Pelé e salvando o Brasil no jogo contra a Espanha, foi outro momento clássico de garra, desmentindo esse
terrível sentimento da "fracassomania" que nos acompanha
desde tempos imemoriais.
Foi do mesmo teor a participação de Almir, substituindo Pelé
na histórica vitória do Santos sobre o Milan, lá pelo início dos
anos 60, na conquista do bicampeonato de clubes. E a de Pelé na
vitória do Santos sobre o Benfica
de Eusébio, logo após o fracasso
da seleção de 66, que foi humilhada por Portugal.
Outra cena que tocou fundo
todo o país foi a arrancada e o
gol do meio-campista Clodoaldo
contra o Uruguai, na Copa de
70. Era a primeira vez que o Brasil enfrentava na Copa o inimigo
que provocou o maior trauma
da história do futebol brasileiro,
nos derrotando na final da Copa
de 50. No primeiro tempo, a seleção brasileira sentiu o peso da
lenda e andou lenta, temerosa.
Foram Clodoaldo e Everaldo, o
lateral-esquerdo gaúcho, os que
sustentaram a fibra da seleção e
abriram espaço para a vitória e
para o baile do segundo tempo.
A participação de Romário na
conquista da Copa de 94 foi outro momento heróico.
Mas as duas cenas que ajudaram a superar de vez o complexo
de inferioridade do país foram
de Didi. Em 1958, a seleção brasileira se concentrou para a Copa
em Poços de Caldas.
Pelé ainda não explodira na
Copa. O grande nome era Didi e
sua "folha seca", o seu modo de
bater faltas que fazia a bola subir e depois mudar a trajetória
em pleno vôo e cair como uma
folha no gol.
Seu maior momento, e o maior
da história brasileira, foi na final, quando a Suécia inaugurou
o placar. O país parou, lembrando-se da maldição do Maracanã
(a derrota do Brasil em 50), estarrecido, tremendo como se tomado de febre malsã. A maldição do Maracanã parecia de volta para sempre. Calmamente,
Didi foi até o fundo do gol, pegou
a bola, colocou debaixo dos braços -como se coloca um fuzil-
e caminhou firme até o meio do
campo, acalmando os companheiros. A partir daí a bola rolou
como nunca antes havia rolado.
Pela primeira vez na história, a
"fracassomania" era derrotada e
o país perdia o medo de ser campeão. Não julguem ser exagero,
mas diria que aquela cena marcou o início oficial do Brasil moderno, do país que perdia gradativamente o medo de ser campeão, que passava a superar a
"fracassomania", abrindo espaço para o sentimento de modernização que marcou os anos seguintes e que mudariam para
sempre a cara do país.
Internet: www.dinheirovivo.com.br
E-mail - lnassif@uol.com.br
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