São Paulo, quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005

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RECEITA ORTODOXA

Aumento dos juros adotado pelo BC ontem deverá elevar débito do governo em mais R$ 2,3 bi em 12 meses

Dívida federal cresce R$ 16,4 bi em janeiro

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao mesmo tempo em que o Banco Central reforça o aperto monetário, a dívida do governo federal em títulos não pára de crescer. Mantida a nova taxa de juros constante por 12 meses, a alta na Selic decidida ontem pelo BC representa acréscimo de R$ 2,3 bilhões no estoque da dívida.
Em janeiro, a chamada dívida pública mobiliária subiu de R$ 810,26 bilhões para R$ 826,70 bilhões -alta de R$ 16,44 bilhões.
O principal fator foram justamente os altos juros conjugados com a expectativa de continuidade na elevação da Selic, por dois motivos. Primeiro, somente com a apropriação de juros, a parcela corrigida pela Selic aumentou em R$ 16,57 bilhões de dezembro para o mês passado. Depois, diante da perspectiva de manutenção do aperto monetário, houve um crescimento da procura por títulos do Tesouro Nacional corrigidos pela taxa básica. Dada a demanda, o Tesouro emitiu, líquidos (descontados resgates no período), R$ 21,7 bilhões em LFTs (papéis vinculados à Selic).
Assim, a parcela da dívida pós-fixada foi de R$ 424,68 bilhões para R$ 462,95 bilhões, sendo agora 56% do total da dívida em títulos, contra 52,41% no mês anterior.
Num ambiente de alta dos juros, os investidores tendem a preferir os papéis pós-fixados, que acompanham a taxa Selic. Na contramão das LFTs, a participação das LTNs (títulos prefixados -rendimento predeterminado) caiu, de 20,09% para 18,71%.
O coordenador do Tesouro para a dívida pública, Paulo Valle, admite que a procura pelas LFTs cresceu nos últimos meses, mas diz que a forte expansão em janeiro se deveu a fatores temporários.
Segundo ele, com a criação da classificação dos fundos de investimentos de longo prazo, os gestores tiveram de alongar o prazo das carteiras. Pela nova denominação, para um fundo se caracterizar como de longo prazo, precisa ter vencimento médio dos títulos superior a 12 meses. O prazo médio dos papéis nesses fundos, antes, era de dez meses. Assim, os gestores tiveram de comprar títulos de prazo maior, no caso LFTs.
Outra razão é que em todo primeiro mês de trimestre há grandes vencimentos de LTNs, que são renovadas posteriormente. Como não há vencimentos de LTN neste mês, já foram emitidos líquidos R$ 7 bilhões do papel em fevereiro até agora. Ao todo, no mês serão mais de R$ 10 bilhões. "Certamente a participação de LTN voltará a subir", afirmou.
O novo chefe do Departamento de Operações do Mercado Aberto do BC, Ivan de Oliveira Lima, lembra que o BC não tem renovado as operações de "swap" cambial. Por meio dessa transação, o BC garante ao investidor variação do dólar e recebe, em contrapartida, correção de juros pela taxa Selic. Ao não rolar a operação, a parcela da dívida atrelada ao dólar cai, mas a ligada aos juros sobe.
Em janeiro, houve queda significativa na parcela cambial, de R$ 80,05 bilhões (9,88% do total) passou para R$ 66,42 bilhões (8,03%). Neste mês, o BC passou a fazer operações de "swap" inversas, ou seja, garantindo juros ao investidor e recebendo, em troca, variação do dólar. Financeiramente, essa operação "anula" o "swap" cambial, o que ajuda a reduzir a dívida corrigida pelo dólar mais rapidamente.
(LEONARDO SOUZA)

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